Cotidiano

Saques a comércio em Santa Elena aumentam insegurança na fronteira

Retirada de cédulas de 100 bolívares foi o motivo de uma onda de violência em algumas cidades da Venezuela

Uma onda de manifestações tomou conta das ruas de Santa Elena de Uairén, município venezuelano que faz fronteira com Pacaraima, ao Norte de Roraima, durante o fim de semana.  Várias lojas e comércios foram saqueados em protesto contra a retirada das cédulas de 100 bolívares de circulação.

A população exige a prorrogação para entrega das cédulas de 100 bolívares aos bancos, após determinação do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que decidiu extinguir a moeda por conta da máfia do mercado negro. A resolução foi publicada no Diário Oficial de terça-feira. Os venezuelanos teriam 72 horas para depositar as notas nos caixas dos bancos públicos. A fronteira entre o Brasil e a Venezuela permanece fechada. Em Tumeremo, município vizinho à Santa Elena, o acesso foi bloqueado pela população.

Vídeos que circulam pelas redes sociais mostraram o cenário de caos nos municípios venezuelanos. Mesmo com as portas fechadas, os comerciantes não escaparam de ter mercadorias saqueadas. Lojas, padarias e mercados tiveram as entradas arrombadas e os produtos furtados. O clima de tensão e correria nas ruas aumentou após a chegada dos militares, que jogaram bombas de efeito moral para tentar conter a população.

“Pelas redes sociais circulam materiais que se põem em dúvida a veracidade dos fatos, mas confirmo que teve as confusões e saques nas cidades. Não foi uma situação generalizada em todo o país, até porque as autoridades de policiais e militares tomaram o controle dessa situação. Foram atos de vandalismo”, disse o cônsul-adjunto da Venezuela no Brasil, José Martí.

Também pelas redes sociais, diversos moradores da região questionaram a situação de crise emergencial econômica que vem assolando o país. “Estamos com os bolsos vazios, os comércios estão sendo saqueados, os bancos não estão cambiando os cheques por falta de efetivo e os caixas automáticos não funcionam. A situação na Venezuela piora a cada dia. Deus tenha misericórdia deste povo”, disse um venezuelano.

Em contato com a reportagem da Folha, o venezuelano Yonatan Zambrano relatou a situação de caos e alertou os brasileiros para que não viajem ao país vizinho. “Os criminosos não deixam as pessoas passarem de ônibus em direção a Santa Elena, apenas quem está de carro. Todas as estradas em direção à cidade estão fechadas e os caminhos alternativos também. Estamos isolados, ninguém entra ou sai da Venezuela. É melhor os brasileiros ficarem no Brasil e não irem a Santa Elena. Água não está faltando, mas não temos comida e nem segurança”, afirmou.

Uma roraimense que está em Tumeremo, que preferiu não se identificar, contou que passou momentos de terror. “Eles estão revoltados por causa da retirada das cédulas, pois muitas pessoas não conseguiram trocar devido aos comércios que não aceitaram mais. Saquearam todos os comércios de alimentos a eletrodomésticos. Como a cidade é pequena, provavelmente não terá nenhuma mercadoria pra comprar amanhã”, relatou.

SEM SALÁRIO – Milhares de venezuelanos estão impedidos de receber o salário, que é pago quinzenalmente no país, devido à falta de notas nos bancos, onde há vários dias se registram diariamente longas filas de clientes e protestos que ocorrem na sequência da decisão do governo do presidente Nicolás Maduro de determinar a retirada de circulação das notas de 100 bolívares (Bs), as de maior valor existentes no país.

A medida do governo visa combater as supostas máfias que estariam armazenando a nota com o objetivo de desestabilizar a economia local. Antes mesmo de iniciar o prazo para o fim da circulação das cédulas, milhares de venezuelanos já formavam longas filas em caixas eletrônicos e lojas para tentarem trocar parte das seis bilhões de notas de 100 que circulam na Venezuela. (L.G.C)