Cotidiano

Se tiver que derramar sangue, nós vamos derramar sangue, afirmam indígenas

O CIR afirma que a PM não tem competência para atuar em comunidades indígenas

Em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira, 17, o Conselho Indígena de Roraima (CIR) afirmou que a Polícia Militar de Roraima (PMRR) não tem competência para atuar em terras indígenas e cobrou providências das autoridades federais sobre o episódio ocorrido nessa terça-feira, 16, na comunidade Tabatiga, município de Uiramutã, que terminou com um policial militar e dez índios feridos.

Conforme o tuxaua da comunidade, Ivaildo Batista, um indígena gravemente ferido e precisou fazer uma cirurgia no peito na manhã de hoje.

Durante a entrevista, capsulas deflagradas de munição ponto 40, balas de borrachas e bombas de efeito moral foram apresentadas, e segundo o Conselho, teriam sido utilizadas pela PM durante a ação.

“Nós não vamos nos intimidar, nós não vamos nos calar. Fomos surpreendidos por um ato de violência por parte da PM e do Estado dentro da nossa própria terra e isso não pode ficar assim”, disse o coordenador da Região das Serras, da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, Aldenir Cadete Wapichana.

Ele reafirmou a sua indignação e pediu atenção das autoridades competentes para que apurem o fato, ou caso contrário, eles próprios farão justiça. “Se precisar derramar sangue, nós vamos derramar sangue. Se precisar morrer, nós vamos morrer, mas não vamos deixar de defender a nossa terra mãe, e proteger as nossas futuras gerações”, disse.

Conforme o coordenador geral do CIR, Edinho Macuxi, o conflito se deu, porque policiais militares teriam tentado dispersar uma barreira de vigilância e monitoramento na comunidade Tabatinga, no trecho da estrada que liga ao município de Uiramutã. Ele afirma que no primeiro contato com a tropa policial, os organizadores do bloqueio se mostraram solícitos, e exigiram apenas que a Polícia apresentasse a determinação judicial de desobstrução da passagem, oportunidade em que a PM apresentou um documento que se aplicava a outra situação e não àquela.

“As lideranças e moradores não concordaram com a atitude da Polícia e foi aí que começou uma gritaria. Nesse momento, o comandante da ação teria dado ordem para a tropa invadir a nossa comunidade e começou os ataques e quebradeiras. Eles entraram nas nossas casas, colocaram fim nos nossos medicamentos, quebraram a nossa unidade de saúde, oferecendo risco às nossas crianças”, relatou o Macuxi.

OUTRO LADO – Em entrevista à FolhaFM nesta quarta-feira, 17, o comandante da Polícia Militar, coronel Francisco Xavier, destacou a ação como lamentável e afirmou que os policiais estavam apenas cumprindo a Lei.

“É uma situação completamente lamentável, desde ontem quando foi feita essa desobstrução com o uso da força legal, os indígenas retornaram para lá e pela manhã atearam fogo em um ônibus escolar”, disse ele.

De acordo ele, a PM irá manter o efetivo nas imediações. “Hoje estamos com reforço em toda região, iremos prosseguir na imediação, e esperamos que seja uma desobstrução pacífica. A decisão determina que todas as vias da terra indígena Raposa Serra do Sol seja desobstruída. A decisão é clara, legítima, atual e vigente. A PM está ali para que se cumpra essa decisão”, reforçou.

“Eles sim utilizaram armamento letal contra a PM, com flechas que é um material perfuro contundente muito perigoso e por isso o policiamento precisou retrair para a sede do município de Uiramutã, mas novamente será feita essa ação de desobstrução e esperamos que seja feita de forma pacífica, sem necessidade do uso da força legal”, disse ainda o comandante.

O coronel afirmou ainda que atos de violência serão respondidos a altura. “Qualquer tentativa de ferir a integridade física de qualquer membro da Polícia Militar ou de qualquer membro da sociedade, a PM vai responder a altura. Continuaremos fazendo o uso seletivo da força, prendendo pessoas e o que se fizer necessário, fazendo valer a lei”, completou.