Cotidiano

Seca avança e Roraima registra 4 mil incêndios em apenas um dia

A estiagem não aliviou, favorecendo o avanço do fogo em várias regiões do Estado castigadas pela seca

Roraima continua enfrentando uma das piores estiagens de sua história. Além da falta d’água, que já atinge algumas localidades no interior dos municípios, o número de focos de incêndios aumentou consideravelmente e tem deixado os órgãos ambientais em situação de alerta. Segundo o subcomandante do Corpo de Bombeiros e coordenador da Operação Estiagem em Roraima, coronel Francisco Fidelis, ontem foram registrados no Estado aproximadamente 4.217 focos de calor pelos satélites usados no Sistema de Monitoramento de Queimadas e Incêndios, em especial o do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Os números, considerados “alarmantes” pelo subcomandante, aparecem menos de um mês depois de chegar a zero com as chuvas que caíram em boa parte do Estado em fevereiro, no período de Carnaval. Entre os locais que mais registraram focos de calor nesta quinta-feira estão os municípios de Mucajaí, a Centro-Oeste, com 1.276 focos; Caracaraí, Centro-Sul, com 590; Alto Alegre, Centro-Oeste, com 286; Iracema, no Centro-Sul, com 377; e Cantá, Centro-Leste, com 323. Os outros municípios apresentaram 80 focos em média.

“Usamos vários satélites para detectar os focos de calor, já que alguns não conseguem captar todos num mesmo panorama. Alguns focos estão muito próximos um do outro”, explicou ao ressaltar que existem bases avançadas de combates a incêndios nas sedes dos municípios de Amajari, Alto Alegre, Rorainópolis, Caroebe, Caracaraí e Boa Vista, além das vilas Samaúma e Apiaú (Mucajaí), Campos Novos (Iracema), Itã (Caracaraí) e Félix Pinto (Cantá). “Com essas bases, tentamos dar uma rápida resposta aos chamados, embora nem sempre tenhamos comunicação com o interior. Isso torna o trabalho mais difícil e estamos muito preocupados com esse aumento de focos de calor”, frisou.

Fidelis ressaltou que hoje o efetivo de Bombeiros é de apenas 150 pessoas, a cada plantão, nas bases de combates a incêndios. “Com o aumento de focos, o alerta aumentou nas bases e estamos trabalhando com o que temos disponível para atender, em média, 20 combates por dia”, disse.

SEM AJUDA – O coordenador da Operação Estiagem disse que a dificuldade de combate aumentou ainda mais devido à negativa do Governo Federal diante do pedido de aumentar o efetivo de militares e helicópteros de fora no combate aos incêndios em Roraima.

“Já havíamos pedido um aumento de mais 50 militares e helicópteros para monitoramento da Defesa Civil Nacional, mas esse pedido foi negado. Solicitamos a permanência dos 60 militares de Brasília e do Rio de Janeiro para que ficassem por mais 30 dias, que foi negado também”, afirmou coronel.

Com a saída do efetivo, o coordenador disse que está dando nova dinâmica na logística do efetivo para que não diminua a capacidade de resposta ao combate de incêndios. “Isso reduz nosso trabalho e é dano significativo. Compromete as ações, mas estamos mantendo o efetivo com sete a dez militares em cada base. Estamos aguardando a análise de outros documentos que enviamos e, se também forem negados, teremos que encontrar outra forma para dar resposta à sociedade”, frisou.

União ainda não liberou recursos solicitados

Quanto aos recursos solicitados pelo Governo do Estado, de aproximadamente R$ 50 milhões para ajudar no combate a incêndios e estiagem no Estado, o coronel Francisco Fidelis informou que parte dos processos ainda está em análise na Defesa Civil Nacional e outros já foram negados. Do montante solicitado, apenas R$ 358 mil foram liberados.

“Houve apenas o reconhecimento do Decreto de Situação de Emergência pela União e, depois disso, os pedidos foram negados e até o momento só liberaram o recurso destinado à distribuição de água, no valor de R$ 358 mil, além das cestas básicas, que já estão sendo distribuídas, e da disponibilidade de militares e do Exército no combate aos incêndios. Todo recurso que está sendo empregado nas ações emergenciais, com exceção das cestas básicas, que estão sendo custeadas pelo Governo do Estado”, frisou.

O coronel lembrou que o Governo de Roraima comprou material de proteção individual e equipamentos mais modernos de combate a incêndios florestais para o Corpo de Bombeiros para assim garantir a segurança e aperfeiçoar o trabalho dos bombeiros e brigadistas.

Foram adquiridas 200 mochilas costais, 100 abafadores, 23 motosserras, sete motobombas, oito kits combate para a pick-up, oito roçadeiras, 200 cantis, 23 pinga-fogos, 200 capacetes, 15 GPSs, 150 máscaras, 200 luvas, 200 óculos de proteção, além de 100 facões, 210 limas e 60 protetores auriculares. Tudo foi adquirido com recursos próprios do Estado em caráter emergencial e custou R$ 715 mil. (R.R)

Três mil cacimbas já foram escavadas

Embora ainda aguarde parte dos recursos federais, o Governo do Estado, por meio da Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), já escavou mais de três mil cacimbas nos 13 municípios do interior do Estado onde foi reconhecido o Decreto de Emergência, com o objetivo de amenizar os efeitos da estiagem e das queimadas.

Até o momento, foram 3.021 famílias beneficiadas com a escavação de pelo menos uma cacimba na propriedade, garantindo água para a irrigação de plantações e que ainda pode ser utilizada para o consumo animal, evitando mais perdas na produção. A água para consumo humano está sendo distribuída através de carros-pipa.

Segundo o secretário de Agricultura, Gilzimar Barbosa, em média, são escavadas 60 cacimbas por dia, desde o dia 8 de fevereiro. “Nossas máquinas estão em todos os 13 municípios contemplados no decreto de situação de emergência, assinado pela governadora, e só deixamos cada região depois que todos os que necessitam sejam atendidos”, frisou.

Além da escavação de cacimbas, ao visitar as regiões, as equipes da Seapa ouvem as demandas dos produtores em relação a outros setores como energia e abastecimento de água. “Como essa é uma ação conjunta, ouvimos tudo o que o produtor tem para falar e levamos a demanda para a pasta responsável para que os problemas fossem resolvidos”, afirmou. Também já foram entregues oito mil cestas básicas em todos os 13 municípios contemplados no decreto de situação de emergência. (R.R)