Cotidiano

Seca forçou piscicultor a antecipar-se, fazendo o preço do pescado cair em RR

Com reservatórios de água baixando, produtores fizeram a despesca mais cedo, aumentando a oferta de pescado antes da Semana Santa

A estiagem que castiga o Estado está afetando diretamente os pequenos e médios criadores de peixe. Mas quem pensa que isso pode causar o desabastecimento do pescado durante a Semana Santa, período em que tradicionalmente aumenta o consumo de peixe, está enganado. Pelo menos este foi o posicionamento do gestor da Superintendência Federal da Pesca e Aquicultura em Roraima (SFPA/RR), Fábio Machado. “Não vai faltar peixe no mercado no período. Pelo contrário! Já há peixe suficiente e isso tem até baixado o preço do pescado em Roraima”, afirmou.
Segundo ele, o fato de a estiagem ter aumentado fez com que muitos pequenos produtores fizessem a despesca antes do prazo. E a consequência disso é o aumento na oferta do peixe já no início deste mês. “A lei da oferta e da procura fez o preço do peixe cair e acredito que vá se manter com preço baixo por um bom período”, disse. “Além disso, os grandes produtores ainda têm água suficiente, o que vai manter o mercado abastecido de peixe durante e depois da Semana Santa”.
Segundo Machado, com base nos dados da Superintendência da Pesca em Roraima, só no mês de janeiro deste ano, foram produzidas mais de 370 toneladas de pescado. “Com essa despesca antecipada de fevereiro e março, essa média deve aumentar para 400 toneladas”, frisou.
APOIO – Fábio Machado informou que em casos de estiagem, como a que vem afetando Roraima nos últimos meses, a única ação que a Superintendência Federal da Pesca em Roraima pode fazer é ser interlocutora do pescador frente aos órgãos governamentais.
“A função do Ministério da Pesca é a de fomentar a produção e não temos nada que demande realizar alguma ação emergencial diante dessa situação de estiagem”, frisou. “Mas entramos em contato com a Secretaria Estadual de Agricultura para reforçar o pedido de entrega de calcário aos pequenos produtores de peixe para que amenize um pouco a evasão da água dos tanques de criação. Isso tem ajudado bastante”, frisou.      
Piscicultor garante abastecimento
O maior criador de tambaqui em cativeiro do Brasil, o roraimense Aniceto Wanderley, garantiu que não vai faltar tambaqui em Roraima durante a Semana Santa devido ao período de estiagem. “Se faltar peixe no mercado, temos como abastecê-lo com mil toneladas de tambaqui”, afirmou. Segundo ele, Roraima consome, em média, 40 toneladas de peixe por semana, o que dá aproximadamente 180 a 200 toneladas ao mês. “O que temos de estoque regulador dá para suprir o mercado de Roraima sem problemas”.     Ele afirmou que o preço do pescado não deve sofrer reajuste devido à baixa produção dos pequenos e médios produtores. “Mesmo que a produtividade dos pequenos produtores tenha problemas, posso colocar peixe no mercado sem prejudicar ninguém. E que fique bem claro que só coloco peixe no Estado se os produtores locais não tiverem como abastecer o mercado”, frisou.
O piscicultor informou que toda sua produção é vendida para os estados do Amazonas e Rondônia e só direciona a venda para o mercado local caso haja desabastecimento, como o que poderá ocorrer devido ao longo período de estiagem pela qual passa o Estado.
“Só abasteço o mercado de Roraima quando os outros produtores, por algum motivo, não podem atender. Até porque minha escala é muito grande, e se colocar minha produção no Estado, atrapalho os produtores locais, e isso não é de interesse nosso”, frisou. O produtor exporta mais 500 toneladas de peixe por mês só para o Amazonas.
Suas mais de 200 barragens foram projetadas para suportar situações extremas de seca e, aliado a uma boa matemática, supera as adversidades nas suas três propriedades nos municípios de Amajari, Cantá e Mucajaí.   
“Como eu já previa que teríamos um inverno com poucas chuvas, aproveitamos a despesca e baixamos a água para uma rede de dez metros de altura, o que permite que se pesque com o tanque cheio. Isso baixa muito o impacto que sofremos pela estiagem e, consequentemente, baixa do volume de água nas barragens”, disse.
Ele explicou que não sente muito o problema da estiagem porque suas barragens foram construídas para uma encostar na outra através de vasos comunicantes, que funciona como uma única água desembocando para a barragem à sua frente. “Isso elimina muito a perda de água”, frisou.
Aniceto Wanderley ressalta que a experiência no ramo lhe dá o conhecimento para uma preparação antecipada e destaca que os meses de janeiro, fevereiro e março são sempre de poucas chuvas. (R.R)