Cotidiano

Seca histórica vira atração em Boa Vista

Nível do Rio Branco já é o menor desde 1998, o que tem atraído muitas pessoas que vão à Orla Taumanan para observar os bancos de areia

O principal rio de Roraima sofre a cada dia com a forte estiagem que assola os municípios do Estado. De acordo com a última medição realizada pela Agência Nacional de água (Ana), na tarde de ontem, o nível do Rio Branco atingiu a marca histórica de 52 centímetros negativos, 7 centímetros a menos que na semana passada.

A seca histórica tem atraído muitas pessoas que vão observar as plataformas da Orla Taumanan que ficaram no seco, com enormes bancos de areia. Outras vão para a Ponte dos Macuxi para também tirar fotos para serem postadas nas redes sociais.

Conforme a Companhia de Águas e Esgoto de Roraima (Caer), apesar de ser considerado crítico, o nível ainda não é o menor já registrado. Em 1988, época de outra forte estiagem, a medição registrou -72 cm. Para a empresa, as altas temperaturas, a falta de chuvas e a baixa umidade do ar colaboraram para o agravamento da situação e fizeram com que o rio chegasse ao nível muito abaixo do mínimo de captação.

Com o auxílio de um atravessador, a equipe de reportagem da Folha percorreu o leito do Rio Branco e constatou os inúmeros bancos de areias formados, oferecendo uma série de riscos a banhistas e navegadores. A seca é tão intensa que a base dos pilares da Ponte dos Macuxi ficou totalmente visível.

Segundo o presidente da Caer, Dunque Esbell, a estatal está executando um plano de ação contra a forte seca que atinge o Estado. “Estamos trabalhando dentro da nossa margem de segurança. Fizemos várias ações, cinco planos de emergência para atender a estiagem e estamos no segundo plano para evitar que a nossa cidade seja desabastecida”, disse.

O Plano prevê, além de outras medidas, a perfuração de poços, na Capital e no interior, muitos já em pleno funcionamento em alguns municípios, além de caminhões-pipa para distribuição de água potável. “No Rio Branco, fizemos a transposição de equipamentos para uma captação flutuante, onde conseguimos captar no leito do rio e evitar a o desabastecimento”, afirmou.

Ainda assim, Esbell reconheceu que a situação é crítica e que a estatal está fazendo a distribuição de água que deveria ser utilizada somente em 2027. “O que estamos fazendo é um trabalho de redução de perda. A população tem que fazer o uso racional da água, porque estive visitando bairros e vi pessoas jogando água na rua para baixar poeira, lavando carro e isso faz com que falte água nas torneiras de áreas mais distantes”, explicou.

Ele descartou a possibilidade de racionamento, mas reiterou a necessidade do consumo racional e o desperdício de água. “Nós não trabalhamos ainda com essa hipótese, no sentido de uma escala preocupante, mas obviamente, se não chover, pode acontecer. A possibilidade [de racionamento] é remota, mas ainda há muitas ações a serem feitas”, frisou.

Em 15 anos nunca vi o rio tão seco, diz pescador

Além de oferecer risco aos banhistas por conta dos vários bancos de areia, a seca do Rio Branco tem prejudicado pescadores e barqueiros que fazem a travessia para o outro lado. É o caso do pescador Hugo Paixão, que há 15 anos mora em barco flutuante no rio. “Nunca tinha visto essa situação. Eu tenho essa casa flutuante, mas como é que flutua assim?”, indagou.

Ele afirmou nunca antes ter visto o rio tão seco. “Eu também vivo de travessia e passeios e hoje está bem difícil por conta do rio seco. Nunca tinha visto uma situação como essa. Lembro quando houve a grande cheia, em 2011, e para mim é uma tristeza ver esse rio assim”, lamentou. (L.G.C)