Cotidiano

Sefaz reajusta ICMS sobre o boi gordo

Segundo os pecuaristas, a cada cabeça bovina a ser abatida o valor do imposto saltou de R$ 21 para R$ 30

AYAN ARIEL

Editoria de Cidades

Uma portaria publicada pela Secretaria Estadual de Fazenda (Sefaz) colocou em vigor, a partir de novembro, o reajuste do cálculo do ICMS sobre o gado gordo, ou seja, aquele que ainda não foi enviado ao abate. Se antes o valor para boi era de R$ 1 mil e para vaca era de R$ 1,4 mil, agora o cálculo-base será de R$ 1,8 mil para a fêmea e R$ 2,2 mil para o macho.

Com isso, houve reajuste da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) paga pelos pecuaristas a cada cabeça bovina a ser abatida, e o valor do imposto saltou de R$ 21 para R$ 33. O diretor do departamento de receita da Sefaz, Caio Monteiro, explicou que o reajuste no valor do gado abatido nos últimos anos foi fator determinante para o aumento feito pela pasta.

“Naturalmente a legislação tem que acompanhar essas mudanças que estão acontecendo nesse cenário, ou seja, o valor dessa alíquota tem que acompanhar a realidade do mercado”, completou Monteiro.

O diretor pontua que, por ano, 90 mil cabeças de gado são levadas ao abate e, com esse aumento, houve um acréscimo de mais de R$ 2 milhões para os cofres estaduais. Ele também salientou que é necessário que os pecuaristas se adaptem a essa nova realidade.

“Isso faz justiça fiscal e a gente cobra o que é devido. Essa pauta já está correndo junto a esses produtores e aos abatedouros, e estamos exigindo aquilo que está na lei, como o pagamento desse imposto, o mapa de abate e a apresentação do documento de arrecadação. Isso irá ajudar não só os cofres de Roraima, mas também os dos municípios”, disse.

CARNE MAIS CARA? – Com o novo reajuste feito pela Sefaz, a carne que chega às prateleiras, em regra, poderia sofrer um aumento, dependendo do valor da peça a venda. Porém, quem de fato irá sentir essa mudança será o produtor bovino.

O pecuarista Hugo Fagotti Pereira trabalha há dois anos no Estado com a criação de vacas e pontuou que, com o valor de pauta em alta, a venda das fêmeas para o abate pode se tornar fora da realidade.

“No nosso caso, engordamos as fêmeas e como temos essa diferença de preços, apesar da mesma alíquota, percebe-se que o aumento foi muito mais significativo, e esse é o produto que a gente mais comercializa para os abatedouros. Isso é um valor inalcançável”, contou Fagotti.

O pecuarista salienta que o reajuste prejudica não só ele, mas também um grupo de trabalho formado por ele e mais dois produtores.

“Essa parte de aumentar esse imposto entristece-nos um pouco porque sempre trabalhamos na linha e agora vamos pagar uma taxa sobre um valor que, na verdade, nosso produto nem atinge, ao contrário do valor anterior. Agora estamos atrás aí dos responsáveis para ver se conseguimos alguma correção”, acrescentou.

Apesar desse aumento, Fagotti ressalta que o custo com a criação desses animais não será diretamente atingindo. “Os nossos insumos, como óleo diesel, o milho, entre outras coisas, já vem se reajustando há algum tempo, então isso não é sentido”, conclui.

COOPERCARNE – O Presidente da Cooperativa Agropecuária de Carne (Coopercarne), Nadisson Pinheiro, atribui três fatores para essa disparada de preços: o custo de produção mais caro, já que a produção local é vendida no Estado, os problemas climáticos que ocorreram anteriormente, como queimadas e o desmatamento, e a disputa com o mercado amazonense, que está cada vez mais produtivo aos criadores de gado de Roraima.

“A questão do bovino não é tão simples quanto parece, já que, para estar pronto pro abate, o processo dura de 30 a 36 meses, e esses fatores complicam, pois não é de uma hora pra outra que iremos resolver esse problema da baixa oferta. Teremos ainda um bom tempo de baixo estoque, o que ocasiona uma baixa oferta e consequentemente o aumento do preço. Fora o Amazonas, que é nosso vizinho e tem preços mais atrativos que os nossos para os produtores levarem seus rebanhos pro abate”, explicou Pinheiro.

O presidente disse que, mesmo com esses desafios anteriormente apresentados, a alta de valores em todo o Brasil, causada pelas exportações para a China, que estão bem aquecidas, e a demanda de fim de ano, é necessário que os criadores bovinos se adaptem ao atual momento. “O mercado é oferta e demanda. Como a gente tem uma baixa oferta, precisamos manter a foco em uma margem atrativa para os produtores e para os consumidores”, finalizou.

Roraimenses reclamam do preço da carne nos mercados

Populares afirmam que estão evitando o produto por conta do preço (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Com o reajuste no valor da arroba do gado, o valor da cesta básica consequentemente ficará um pouco mais cara no orçamento familiar. E já que quem mais vai sentir essa diferença é o consumidor roraimense, a Folha fez uma enquete com algumas pessoas que estavam em um supermercado da zona leste sobre o valor atual da carne vermelha.

A dona de casa Andrea Melo, de 38 anos, avalia como negativo o reajuste no preço da proteína, pois compromete o orçamento de sua família, formada por seus três filhos e os seus pais.

“Esse aumento foi muito grande e o que a gente usava para durar um mês não dá mais. O nosso orçamento ficou muito apertado em casa e como a gente tem que comprar carne, nós somos obrigados a tirar de outros produtos, como arroz e feijão, sem contar com o salário mínimo, que não aumenta”, lamentou a dona de casa.

O técnico de segurança eletrônica, João Urbano da Silva Júnior, de 32 anos, também achou lamentável a alta considerável no preço do produto e contou que está evitando comprar grandes quantidades de carne.

“Afeta de forma negativa esse aumento, pois eu vi agora a pouco o preço das carnes e tá bem cara. Estamos evitando”, sustentou o técnico em segurança eletrônica.

No supermercado, a autônoma Fernanda Melo, de 36 anos, comprou uma peça de carne mais cara do que o de costume. “A carne, pra gente, é o necessário, mas do jeito que vai… Tipo, eu acabei de comprar uma bisteca que deu mais de R$ 30. Isso é um absurdo!”, criticou.

Ela conclui sua fala dizendo que o público terá que escolher se compra carne ou não. “Incluindo a carne, fazíamos um rancho de aproximadamente R$ 500 e agora a gente tem que pensar se leva ou não, pois está virando artigo de luxo na nossa mesa”, concluiu.