Cotidiano

Servidores correm risco em psiquiatria

Mais uma vez, paciente com transtornos mentais em surto agride técnicos e companheiro de quarto, no HGR

Profissionais de enfermagem e acompanhantes de pacientes internados no Hospital Geral de Roraima (HGR) denunciam a falta de estrutura e de segurança na ala da psiquiatria daquela unidade hospitalar. Os casos de agressões envolvendo pacientes com transtornos mentais são frequentes e amedrontam quem trabalha no bloco. No domingo, um paciente esquizofrênico quebrou os vidros de uma janela e feriu os técnicos e outro paciente do mesmo quarto, com pedaço de vidro.

As agressões são constantes, especialmente quando os funcionários tentam conter o agressor, que utiliza objetos, lençóis e até mesmo as seringas com medicamentos que os funcionários transportam. No final de semana, a situação foi agravada com quatro feridos.

“Nós pedimos que não coloquem vidros nas janelas dos quartos da psiquiatria, mas nunca fomos ouvidos. Até quando seremos vítimas? O agressor tinha mais de 1,80m de altura, é uma pessoa muito forte. Tivemos dificuldades para nos defender e fomos feridos com os golpes. Poderia ter sido pior. O local onde prestamos nossos serviços ao Estado deve ser seguro, onde eu me sinta bem para realizar minhas obrigações. Nós não aguentamos mais o descaso e a falta de compromisso. Será que a vida de alguém vai ter de trazer solução?”, questionou um enfermeiro.

Segundo ele, quando a polícia foi acionada para atender à ocorrência e chegou ao HGR, os policiais se recusaram a entrar para conter o paciente em surto. Somente depois que alguns profissionais conseguiram anular a ação do agressor, os policiais entraram no quarto.

De acordo com as informações de quem trabalha no bloco da psiquiatria do hospital, desde a inauguração, há quatro anos, a sensação de insegurança e a impotência diante dos internos fazem parte da rotina, uma vez que os próprios funcionários são responsáveis pela manutenção de cuidados mútuos, além da necessidade de redobrar atenção quando visitantes caminham pelos corredores.

“Todos os dias os acompanhantes de quem está internado no setor de oncologia [pacientes com câncer] utilizam o mesmo corredor que leva à ala psiquiátrica. Pouca gente sabe, mas os que estão em fase terminal, sofrendo com câncer, precisam conviver diariamente com gritos e surtos de pacientes ‘loucos’, tudo porque utilizam o mesmo bloco. Isso é muito grave”, destacou.

Os profissionais relataram que, em alguns casos, há excesso de policiamento, mas quando solicitam um policial fixo no bloco, não são atendidos. “Sinceramente, algumas situações são revoltantes. Lembro de uma vez que quatro policiais acompanharam um paciente que tem um pequeno transtorno mental e era usuário de drogas. Todo esse aparato de segurança porque se tratava do filho de uma juíza. Falta respeito e dignidade. Se não manter vínculo familiar com autoridade, não precisa ser resguardado porque são pessoas comuns”, frisou.

Acompanhantes de pacientes com câncer revelaram que o ambiente não é propício para um tratamento e, para manter a segurança de parentes internados, considerando os riscos que correm, eles pedem que a administração do hospital distancie as duas alas.

GOVERNO – O Governo do Estado informou que a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) vai reformar a ala de psiquiatria do HGR. O processo está em fase de empenho, a fim de promover diversas melhorias na infraestrutura e segurança do setor. A entrada e a saída destes pacientes vão sair do corredor, que dá acesso aos demais blocos, para um jardim externo, o que contribuirá para a humanização na assistência prestada a estes pacientes.

Afirmou que a Política de Saúde Mental adotada pelo Estado segue as orientações da Lei Federal 10.216/2001, com a finalidade de proteger e garantir os direitos das pessoas com transtornos mentais. Segundo a diretora do Departamento de Saúde Mental, Lidiane Almeida, antes desta lei, os pacientes com este tipo de doença eram internados em manicômios, isolados do convívio da família e da sociedade.

No entanto, profissionais de saúde especializados em atendimentos a pessoas com transtornos mentais chegaram ao consenso de que a segregação destes pacientes, ao invés de colaborar com a recuperação, tinha o efeito contrário. “Conforme esta lei, todos os pacientes com transtornos mentais têm direito ao tratamento, desde que adequados às suas necessidades, além de ser tratado com humanidade e respeito, e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade”, pontuou.

Afirmou ainda que a normativa ministerial não prevê segurança armada dentro das dependências das alas. “Para assegurar a integridade física dos servidores e dos demais pacientes internados no HGR, a unidade está providenciando o reforço na segurança em toda a extensão da unidade de uma forma geral”, afirmou. (J.B)