Cotidiano

Servidores da CERR paralisam e risco de apagão no interior aumenta

Cerca de 800 trabalhadores da Companhia cruzaram os braços após a perda da concessão de energia; usinas serão desativadas e deixarão 14 municípios às escuras

Cerca de 800 servidores da Companhia Energética de Roraima (Cerr) cumpriram o prometido e anunciaram uma paralisação por tempo indeterminado. A categoria cobra a derrubada do decreto publicado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), que indeferiu o pedido de prorrogação da concessão da empresa. Com a greve, usinas que levam energia a 14 municípios do interior devem ser desativadas e deixar milhares de moradores às escuras.

A movimentação dos trabalhadores em frente ao Palácio Senador Hélio Campos, sede da administração estadual, iniciou logo nas primeiras horas da manhã de ontem, 8, onde uma tenda foi montada para que a categoria acompanhasse as negociações entre o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Urbanas do Estado de Roraima (Stiu-RR) e o Governo do Estado.

“Anteriormente estávamos realizando o movimento para ampliação do acordo coletivo e melhorias, além da substituição da diretoria da empresa. Diante do novo fato, o nosso movimento se ampliou em função disso, pedindo a derrubada desse decreto, que ocasionou um desconforto na categoria”, disse o diretor do Stiu-RR, João do Povo.

Segundo ele, os trabalhadores estão parados porque não têm prerrogativa para exercer as atividades em função da perda da concessão. “Na realidade, se ocorrer qualquer problema de ordem no sentido de cair o sistema, não teremos pessoas para retomar o sistema, então os municípios irão ficar no escuro”, afirmou.

O diretor explicou que a proposta de absorção do quadro de funcionários da empresa pela Eletrobras ou pelo novo concessionário não é bem vista pela categoria. “Na realidade, existe um número muito irrisório de trabalhadores efetivos na Cerr, em torno de 80, os demais, cerca de 700, estão em vários tipos de contratos. Tem gente que trabalha de carteira assinada há mais de 20 anos, é um gama de irregularidades nos contratos que não dá para a Boa Vista Energia assumir esses trabalhadores. O que a categoria quer de fato é retomar a concessão e exercer as atividades como vinha fazendo anteriormente”, esclareceu. (L.G.C)

Usinas vão parar e interior ficará sem energia, alerta presidente do Stiu

O presidente do Stiu-RR, Antônio de Freitas, informou que o sindicato já impetrou com uma ação na Justiça para garantir o emprego dos servidores da Cerr. “A maioria é de serviços prestados e carteira assinada e o Ministério do Trabalho não reconhece esses contratos. Esse é o problema maior que temos. O sindicato impetrou com a ação e o movimento maior hoje é que a categoria quer que aconteça dessa forma”, disse.

Conforme Freitas, a gestão da Companhia vem descumprindo com acordos feitos junto à categoria. “A categoria não aceita mais e precisa que o Governo tenha bom senso e mude essa gestão. Enquanto isso não acontecer os trabalhadores estão dispostos a permanecer de greve”, afirmou.

O sindicalista alertou quanto a um possível caos social por conta dos iminentes apagões no interior. “Isso vai gerar um caos social, porque as usinas vão parar, os trabalhadores estão aqui e daqui para amanhã vai haver um apagão e o prejuízo vai ser grande. A negociação que queremos é a mudança imediata da diretoria administrativa, da presidência, e que assumam pessoas com o pensamento voltado para o bom andamento da empresa”, declarou.

SERVIDORES – Uma das preocupações é saber como ficará a situação dos servidores com a perda da concessão. “A princípio, nossa preocupação é como ficará a situação dos funcionários, porque o decreto não deixa claro quanto a isso. A outra preocupação é com relação ao patrimônio, que é do Estado. Não foi dito ao Governo o que fazer, ninguém deu nenhuma instrução sobre como a energia será gerida. O patrimônio é do Governo, assim como o pessoal, mas se não podemos gerar essa energia, como essa energia vai chegar?”, questionou a servidora Rejane Souza, que trabalha na empresa há 30 anos.

Para ela, a Eletrobras Distribuição Roraima será incapaz de gerir energia aos municípios do interior. “Os consumidores do interior vão ficar prejudicados enquanto isso não for resolvido. O decreto não passou por um momento de transição, foi uma decisão só de um ministro, que simplesmente acordou e decidiu isso, sem maiores detalhes. A Eletrobras não vai fazer a energia como o Governo faz para as áreas sociais, como faz nas áreas indígenas, e nem colocar energia aonde só tem dez casas”, afirmou. (L.G.C)

Serviços essenciais serão mantidos, afirma Governo

Em nota à imprensa, a Companhia Energética de Roraima (Cerr) informou que 30% dos serviços essenciais estão sendo mantidos pela empresa. Em algumas localidades, pode ocorrer demora no atendimento aos consumidores devido à redução de técnicos em campo, por conta da paralisação, mas o atendimento aos municípios permanece com o envio de combustível às localidades com sistema isolado e reparos na rede.

Em relação aos trabalhadores da Cerr, o Governo do Estado se comprometeu em honrar o pagamento dos servidores previsto para amanhã, dia 10. Até que de fato ocorra a transição da empresa, os trabalhadores devem permanecer em seus postos de trabalho e aguardar posicionamento oficial.

Em entrevista à Folha, o presidente da Cerr, Antônio Carramilo Neto, esclareceu que a empresa continuará a operar o sistema mesmo diante da decisão do Ministério de Minas e Energia. “A governadora Suely Campos pediu que continuássemos com nosso trabalho e que ela iria se responsabilizar pelo pagamento. Hoje não temos paralisação, mas sim uma greve. Temos pessoas que ficam operando o sistema, o que é determinado por lei. Vamos continuar fazendo, porque há uma série de medidas jurídicas que devem ser tomadas em razão disso”, esclareceu.

Apesar disso, o presidente reconheceu que há grandes chances de ocorrerem apagões no interior. “A chance de as usinas pararem é grande, a responsabilidade agora é da Eletrobras, mas a Cerr está trabalhando e comprando o óleo diesel necessário para a geração, de forma a não faltar energia aos moradores”, disse.

O óleo diesel deverá abastecer as usinas térmicas de Amajari, Normandia e Uiramutã, além das comunidades indígenas. “Não é uma irresponsabilidade que vai fazer com que deixemos de gerar energia para o interior. Nós fomos pegos de surpresa, a própria Eletrobras foi pega de surpresa e, enquanto não se busca uma solução, vamos operar o sistema e efetuar os pagamentos”, frisou.

ELETROBRAS – Em nota, a Eletrobras Distribuição Roraima se limitou a informar que ainda está aguardando orientações do Ministério de Minas e Energia sobre as mudanças. (L.G.C)