Cotidiano

Servidores fazem assembleia geral para decidir sobre greve 

Deliberação de paralisação ou greve será decidida na próxima quinta-feira (18)

A luta dos servidores do Centro Sócio Educativo (CSE) não é de hoje. Há meses recorrem ao Governo do Estado na tentativa de terem suas reivindicações atendidas. Eles alegam que temem por suas vidas, em razão da falta de estrutura e de segurança no ambiente de trabalho.

Por conta dos problemas que passam, na próxima quinta-feira (18), representantes do Sindicato dos Trabalhadores Civis Efetivos do Poder Executivo de Roraima (Sintraima) e servidores dos centros se reúnem para decidir sobre o indicativo de paralisação por 24 horas e greve por tempo indeterminado. O encontro será às 16h, na sede do sindicato. “Primeiramente, a ideia é paralisar, mas não sendo atendidas as reivindicações será deflagrada a greve”, afirmou o presidente do sindicato, Francisco Figueira. 

Segundo ele, é preciso ser feito um acordo com o Governo do Estado, para que seja garantida a segurança dos servidores que trabalham nos centros. “O sistema socioeducativo está falido. Os servidores estão correndo risco de morte. Faz tempo que comunicamos ao Governo sobre o trabalho que tem que ser feito para melhoria nos CSE, além de capacitar esses servidores, e até o momento não houve manifestação”, informou Figueira.

Além de capacitação, o sindicalista comentou que os servidores precisam estar equipados para lidar com os adolescentes, assim como não tem psicóloga para atender os funcionários. “Quando digo equipados não é para agredir esses jovens, mas para proteção própria, pois estão lidando com esses infratores de mãos limpas”, disse. Conforme Figueira, há mais problemas como a falta de ressocialização dos adolescentes. “Não tem como se fazer um trabalho dentro do CSE, a escola lá dentro precisa ser militarizada, urgente, pois os professores estão à mercê dos adolescentes. Eles trabalham com medo, tensos”, ressaltou.

Figueira lembrou que nos prédios não existem segurança para os servidores, tanto que já houve problemas no passado e recente lá dentro. “Depois daquela rebelião de 13 de agosto de 2018 a estrutura continua a mesma, inclusive os banheiros utilizados pelos próprios adolescentes não funcionam. Eles fazem as necessidades fisiológicas dentro das marmitas de alimentação, que são colocadas em sacolas e entregues aos agentes para jogarem em uma fossa a céu aberta dentro do CSE, que fica atrás das celas. Isso já foi informado ao Governo, que até agora não tomou nenhuma providência. Servidores trabalham em ambiente insalubre”, afirmou.

Nós tememos pela nossa própria vida, diz servidora

Além dos problemas de estrutura física e falta de segurança, uma servidora, que pediu para não ser identificada por medo de represália, contou à equipe de reportagem que uma das consequências mais graves seria o risco à integridade física, porque lidam com adolescentes que pertencem a facções criminosas. “Tanto é que em 2018, após aquela rebelião, os jovens que se autodenominaram ser do Comando Vermelho [CV] e do Primeiro Comando da Capital [PCC] tiveram que ser separados por unidade”, lembrou.

“No CSE Calungá ficam adolescentes do Comando Vermelho e do PCC no CSE Homero de Souza Cruz Filho. Estamos passando por muitas dificuldades, pois estamos na linha de frente”, ressaltou a servidora, comentando sobre o ocorrido na última sexta-feira (5), quando colegas de trabalho quase perderam a vida quando foram atacados por adolescentes no CSE do Bom Intento. “E na madrugada de segunda-feira [8] aconteceu a fuga de internos no CSE Calungá. Deus nos livre do pior, mas do jeito que está essa situação, o pior pode acontecer a qualquer momento”, afirmou.

A servidora relatou que, por meio do Sintraima, já foram enviados vários ofícios ao Governo do Estado. “Não recebemos nenhum posicionamento até agora, então nossa última alternativa é chamar a atenção das autoridades paralisando as atividades e fazendo greve, se for o caso. Estamos com baixo efetivo, mas tem concursados em lista de espera aguardando serem chamados. Nossa escala é 12 horas por 60 horas, e a Setrabes achando que resolveria a problemática tentou mudar para 12 horas por 36 horas, o que deixaria a gente em pior situação, só que não aceitamos isso”, ressaltou. 

São aproximadamente 70 servidores divididos para os dois centros, entre agentes sócio-orientadores, que fazem o trabalho de segurança, e agentes sócio-instrutores, que deveriam fazer a parte de atividades de esporte, cultura e lazer, que estão em desvio de função. “Só que esses sócio-instrutores estão atuando como segurança, o que é contra a legislação, pois não podem estar algemando interno e fazendo escolta”, afirmou a servidora. (E.R.)