O mel é um dos doces mais amados pelos roraimenses, seja para adoçar um lanche ou ajudar em um resfriado. No estado, o mel movimenta cerca de R$ 5 milhões por ano, com quase 450 toneladas produzidas, segundo dados da Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação (Seadi).
A diversidade de coloração é o que mais atrai investidores e encanta os produtores locais. Conforme a secretaria e os apicultores, existem entre 8 a 10 cores diferentes devido à flora variada existente em Roraima e protegida pelo Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE).
“Nós temos nessa área preservada uma condição natural de pasto apícola, que seriam as floradas naturais da vegetação que tem alto potencial melífero. Ainda tem uma outra situação de que, com a época do ano e com a região do estado, há uma determinada predominância de florada de uma certa espécie e essa espécie ela agrega no mel características próprias”, explica o coordenador de Desenvolvimento Agroambiental, Marcelo Hentges.
A apicultura praticada no estado é sem interferência humana. Ou seja, as abelhas saem das caixas, procuram o néctar e retornam ao grupo para fazerem o mel. No entanto, apesar de ser a atividade natural das abelhas, a qualidade do mel também vem do conhecimento vívido com as espécies prolíferas presentes.
É o caso do apicultor Pedro de Freitas, de 70 anos, que trabalha com a família na produção de mel com nove tipos de abelhas, sendo oito regionais e sem ferrão. “A abelha, para mim, e o mel está no sangue. Eu sou apaixonado, isso é o que eu conheço. Se eu parar, eu morro”, conta o paranaense, que é roraimado há mais de 45 anos.
Reflorestamento
O apicultor conta que o mel orgânico é muito melhor que o açucarado, mas que falta investimento em pasto apícola. “Nós temos os quatro tipos do melhor mel do Brasil. Não tem mel igual ao nosso. […] O grande problema é que as pessoas se acostumaram a só pegar o dinheiro. Nós temos que criar novos produtores. Tem que ter projeto de agricultura familiar sustentável e reflorestamento”, disse.
Para Pedro, é preciso que haja a implantação do reflorestamento com plantas produtoras de pólen, como acácia, eucalipto ou buriti, uma vez que muitas árvores estariam sendo derrubadas no estado. Até 2016, uma pesquisa integrada entre as Universidade Federal e Estadual de Roraima (UFRR e UERR) e a Embrapa, apontou que existiam cerca de 30 mil hectares de acácia plantada em lavrados de Roraima.
Apesar de confirmar a necessidade de investimento no setor de apicultura, o secretário Adjunto da Seadi, Marlon Buss, afirma que não há concorrência no mercado porque só o estado produziria um mel diverso e com qualidade orgânica.
“Se a gente conseguir organizar a cadeia de desenvolvimento de apicultura na cidade, integrando com outras atividades que produzem o pólen, nós vamos ter muita riqueza. Essa riqueza existe aqui e precisa dar uma orquestrada em como colocar isso em prática”, ressalta Buss.
Regularização e selo de inspeção
Com quase 200 apicultores, muitos ainda estariam em busca do Selo de Inspeção Estadual (SIE) para comprovar que seguem as normas sanitárias em produtos de origem animal, informou a Secretaria de Agricultura. O selo, concedido pela Agência de Defesa Animal de Roraima (Aderr), é uma garantia de que o mel, e outros produtos, não são fontes de contaminação, seja dos animais ou do processo produtivo, mesmo que não tenha interferência humana.
“Quando comprar qualquer coisa do mel, procure que tenham certificação e um serviço de inspeção. É o selo que vai dar regularidade ou a legalidade na compra do mel. Se ela não vai comprar mel que não passou nos testes, caiu na segunda mão e se transformou num produto de baixa qualidade”, orienta o secretário Adjunto.
Além do selo, Pedro ainda indica que o produtor de abelhas também tenha registros que regularizem a atividade rural, como de microempreendedor (MEI).
“São documentos que servem para se aposentar ou comprovar algo em situação de um acidente. Serve para ele [o produtor] ter o mesmo direito de qualquer outro trabalhador”, reforça o apicultor.
Mercado e exportação
O mel roraimense é produzido principalmente no verão e em períodos sem chuva no estado. Segundo a Seadi, o setor vem crescendo desde 2019, quando foi registrado um crescimento de 30% no mercado apicultor. Em 2020, cerca de 50 toneladas de mel foram exportadas para a Alemanha e outras 300 para o mercado europeu.
Já em 2021 e 2022, os apicultores receberam mais de seis mil caixas de morada de abelhas para auxiliar na produção de mel, que saltou de 180 para, aproximadamente, 450 toneladas produzidas. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Boa Vista é onde há maior concentração de produtores, seguido do Cantá, Caracaraí, Mucajaí e São Luiz do Anauá.
Por Adriele Lima