A diretora presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Privados de Serviços de Saúde do Estado de Roraima (Siemesp/RR), Joana Gouveia Mendes, cobrou mais segurança para os profissionais que atuam nas comunidades indígenas em Roraima, após o episódio de assassinato do técnico de enfermagem Vilson Souza, de 27 anos, vítima de uma flechada, na comunidade Maraxiú, região do Surucucu, vítima de uma flechada no dia 09 de novembro.
As informações foram repassadas durante entrevista ao programa Agenda da Semana na Rádio Folha 100.3 FM neste domingo, 17. A sindicalista deu mais detalhes sobre o dia em que ocorreu o crime, que vitimou Vilson. O suspeito de ter cometido o crime é um agente indígena de saúde da Unidade Básica de Saúde Indígena (UBSI).
Segundo Joana, no dia do crime, os profissionais de saúde tiveram uma reunião com os moradores e informaram, naquele momento, que eles não iriam estar permitindo que os indígenas entrassem na Casa de Apoio da equipe, uma vez que estavam sumindo alguns objetos. Porém, os profissionais dariam acesso à uma extensão elétrica, para que todos pudessem ter acesso a energia e carregar seus celulares.
“A equipe se disponibilizou e disse que colocaria uma extensão lá dentro e eles colocariam carregador de celular, para o que eles precisassem. Aí, finalizou a reunião, aparentemente ficou tudo normal e todos retornaram para suas casas”, informou Joana.
A diretora-presidente afirma que depois de um tempo, o autor do crime retornou e pediu que o técnico Vilson, que foi assassinado, fizesse atendimento no filho dele. Pouco tempo depois, a vítima foi atingida por uma flechada. Segundo Joana, não houve discussão entre os envolvidos.
“O colega fez o atendimento, informou que o filho dele não estava com febre e nem nada. Tinha também um médico lá e a informação que a gente tem é que, no momento que o médico estava saindo, esse indígena entrou e flechou ele. Não houve discussão como o pessoal fala. Não houve briga. Houve apenas isso, mas nós não sabemos o que realmente motivou o indígena a cometer esse crime”, destacou.
A profissional da saúde afirma ainda que o autor do crime destruiu o equipamento de acesso à internet via satélite, cortando os fios da ferramenta, para supostamente dificultar a chegada da equipe de socorro. Depois de muito esforço, os profissionais conseguiram consertar o aparelho e chamar a emergência.
“O helicóptero foi acionado para resgatar o funcionário e o levou para o Pólo Base de Surucucu. Mas quando ele foi resgatado já estava em estado grave. Quando ele chegou em Surucucu já estava sem vida. O homicídio está sendo investigado pela Delegacia do Alto Alegre e o restante das informações segue em sigilo de Justiça”, completou.
Joana destaca que o sentimento entre os demais profissionais é que realmente se faça justiça frente ao homicídio ocorrido. “Para que esse crime não fique impune. Para que esse nosso colega não seja mais um dentro da estatística’, disse.
A sindicalista reforçou que os profissionais passam por momentos de tensão na localidade, com falta de respeito e ameaças. “Até então, os indígenas respeitavam as equipes de saúde e hoje a gente vê que esse respeito não está mais acontecendo. Devido às ameaças constantes que as equipes sofrem. Não é fato isolado. Isso vem ocorrendo há anos. A cada dia só intensifica essas ameaças. Tanto o Sindicato quanto os profissionais cobram a gestão e informam os distritos, para retirar os profissionais de imediato. Porém, nem isso às vezes acontece”, afirma Joana.
Sobre o paradeiro do autor do crime, Joana afirma apenas que acredita que o homem ainda está pela região escondido. “Até o momento, o assassino não foi preso e inclusive, ele se encontra lá no território. Está lá. Tanto que quando o delegado foi lá na terça-feira, colheu o depoimento de todas as lideranças e ele mesmo teve a informação que o indígena evadiu-se na mata”, finalizou.
Profissionais de saúde cobram mais segurança, mas temem retaliação e demissão em massa
A sindicalista explicou que a categoria pede por mais segurança para os profissionais de saúde e que, inclusive, tiveram uma reunião com o titular da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), Weibe Tapeba, onde foram informados que todas as medidas serão tomadas para que o crime não fique impune.
No entanto, os profissionais recordam de um outro episódio de homicídio, ocorrido há cerca de 20 anos, onde foi dito que o autor do crime havia confundido o profissional com um inimigo, além de casos de agressões. Um dos casos citados é da médica amazonense Maria Vanessa, em 2020, que teria supostamente agredida após a morte de uma criança.
“Após isso, já houveram outros episódios de agressão onde os culpados nunca foram punidos. Infelizmente, os indígenas que cometeram esse tipo de agressão estão vivendo no território, suas vidas normalmente”, pontuou. “Só quem perde são os profissionais e nós não queremos que esse crime vire mais uma estatística”, frisou.
Com relação à segurança no local, Joana pontuou que há agentes trabalhando da Força Nacional para proteger os servidores, mas que o número é insuficiente para atender todos os 34 pólos em funcionamento hoje em dia.
“A gente pediu ao secretário da Sesai que fossem tomadas providências, que fossem colocados agentes da Força Nacional e da Polícia Federal. Os profissionais estão extremamente apavorados com toda essa situação. Os únicos que podem fazer algo são a Sesai e o Ministério da Saúde”, disse.
Apesar das demandas, a sindicalista afirmou que após reunião, os profissionais optaram por não entrar em greve. Ela explica que o gerenciamento de recursos humanos e de contratação de pessoal, que costumava ser feito por uma organização não governamental, será alterado a partir de 01 de janeiro de 2025 para uma agência criada por meio de uma portaria do Governo Federal para assumir os convênios.
“Estamos no término do contrato dos convênios. Estamos muito preocupados com essa transição. Qualquer trabalhador que venha se expor, ele pode sofrer represália e não ser contratado pela nova empresa. Isso é preocupante para gente, pós gera uma insegurança para os profissionais. Nós convocamos uma assembleia e os profissionais acharam melhor não fazer greve por temer represálias e não ser recontratado”, pontuou.
Outro ponto citado por Joana, além da falta de segurança, são as condições precárias enfrentadas pelos profissionais que atuam em área indígena. Segundo ela, os servidores nem sempre contam com uma casa de apoio bem estruturada, com falta de medicamentos, equipamentos e às vezes dormem em barracadas improvisadas, além de serem responsáveis por adquirir e administrar a própria alimentação durante os 30 dias em que trabalham na região.
Confira a entrevista na íntegra: