A Sociedade Interamericana de Imprensa condenou e responsabilizou o presidente venezuelano Nicolás Maduro pela detenção de uma equipe de jornalismo da Univisión, um dos principais canais hispânicos dos Estados Unidos, liderada pelo jornalista Jorge Ramos. Os profissionais deixaram a Venezuela nessa terça-feira (26). A entidade jornalística também rechaçou a censura e a violência impostas pelo governo do país contra integrantes da imprensa no último fim de semana, durante a cobertura da ajuda humanitária na fronteira com a Colômbia.
Os seis jornalistas detidos na Venezuela relataram terem sido submetidos a um interrogatório com as luzes apagadas dentro do período de duas horas em que ficou sob controle do Palácio de Miraflores. O âncora Jorge Ramos relatou que tinha todas as autorizações para exercer o trabalho jornalístico na Venezuela. A detenção, segundo ele, aconteceu depois de ele ter mostrado a Maduro um vídeo de jovens venezuelanos que comiam do lixo e sugerido que o presidente é um ditador. Neste momento, Maduro interrompeu a entrevista e saiu, de acordo com seu relato.
“Eu perguntara se ele era um presidente ou um ditador, porque milhões de venezuelanos não o consideram um presidente legítimo, e sobre as acusações de Juan Guaidó (líder opositor autoproclamado presidente interino com apoio do Parlamento) de que ele era um usurpador do poder”, contou Ramos. Além disso, parte da equipe foi submetida a maus tratos durante a detenção, de acordo com o relato de Ramos reportado pelo site Efecto Cocuyo.
“Nos mantiveram separados durante duas horas e meia nos interrogando. No meu caso e no caso da produtora María Guzmán, nos colocaram num quarto de segurança, apagaram as luzes, nos arrancaram os celulares e ficaram com muitas das nossas coisas”, disse Ramos. Após o incidente, os jornalistas retornaram para o seu hotel em Caracas. Segundo a Univisión, a gravação da entrevista e os equipamentos dos repórteres foram confiscados pelo governo venezuelano. Eles esperam a devolução das câmeras, cartões de memória e celulares.
A presidente da SIP, María Elvira Domínguez, diretora do diário colombiano El País de Cali disse que a ação do governo de Maduro “equivale a um sequestro”. Nas últimas semanas, vários jornalistas estrangeiros foram detidos por autoridades venezuelanas e forma liberados nas 24 horas seguintes.
Em relação à cobertura do fim de semana, María Elvira afirmou que SIP recebeu denúncias de agressões a comunicadores e restrições ao trabalho jornalístico, assim como a censura de conteúdos na internet, registrados no fim de semana passado. “Estamos conscientes dos riscos do oficio jornalístico, no entanto, no contexto da Venezuela, onde o regime comete atos de violência contra seus próprios cidadãos, os jornalistas e veículos independentes estão expostos a maiores perigos”, disse o vice-presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP, Roberto Rock.
O jornalista Daniel Garrido, conforme informou o Centro Knight, também foi retido por parte das forças de segurança de Maduro. O profissional da rede norte-americana Telemundo, segundo o Infobae, ficou isolado e incomunicável por mais de sete horas depois de tirar fotos de membros do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) que chegaram ao hotel onde a equipe jornalística da Univisión Noticias estava hospedada, acrescentou o site. Luis Fernández, vice-presidente da Telemundo, relatou quando conseguiu se comunicar com o jornalista. “Daniel Garrido acabou de nos escrever. Está livre. Os telefones foram retirados”, disse Fernandez.
O Instituto Imprensa e Sociedade (IPYS, na sigla em espanhol) da Venezuela, de acordo com o Centro Knight, documentou 21 violações durante o dia, incluindo 12 casos de ataques, assaltos e intimidações. Houve bloqueios a alguns sites da internet, como o YouTube, o Facebook e o jornal colombiano El Tiempo.
Fonte: ANJ