Cotidiano

Sobram crianças para adotar porque candidatos querem ‘filhos perfeitos’

Preferências dos candidatos à adoção fazem com que crianças e adolescentes não sejam adotados, apesar do grande número de interessados

No Brasil, existem 5.483 crianças e adolescentes aptas e 31.689 pessoas pretendentes à adoção, conforme dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA) do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Percebe-se que o número de candidatos a pais é superior ao de crianças e adolescentes, que esperam para ter uma família. Mesmo assim, formam-se filas de nomes dos que desejam adotar um filho. Roraima não está de fora. Conforme os dados, há 10 crianças e adolescentes disponíveis para adoção e 34 pessoas habilitadas para o processo.
As assistentes sociais da Comarca do Juizado da Infância e Juventude de Boa Vista, Juvenila Coutinho e Maria Auristela de Lima, explicaram que geralmente casais ou pessoas solteiras que manifestam interesse pela adoção se demonstram exigentes e estão em busca do filho ideal. “Está aí o motivo de a conta não fechar. Os pretendentes querem filhos perfeitos”, disse Juvenila. Segundo ela, a preferência é por crianças de até 2 anos de idade.
As assistentes explicam que a preferência por crianças nesta faixa etária acaba dificultando o processo de adoção, pois nem todas que estão disponíveis atendem aos requisitos de quem as procura. Muitas já têm idade superior ou possuem algum tipo de deficiência. Este é o caso de duas crianças e um adolescente de Boa Vista que estão aptos para adoção e encontram-se em abrigos no município. “Isso acontece no Brasil inteiro, e pelo mesmo motivo”, frisou Maria Auristela. Vale ressaltar que, ao entrar na fila de adoção, a pessoa interessada inscreve o perfil da criança ou adolescente pelo qual procura.
CURSO – Segundo Maria Auristela, a atual Lei da Adoção (Lei N° 12.010) exige que uma preparação psicossocial e jurídica seja feita com as pessoas que pretendem ingressar no cadastro de adoção de crianças e adolescentes. Trata-se de um curso que visa esclarecer, promover e amadurecer a reflexão a respeito da adoção. “Além disso, nós estimulamos mais as pessoas às adoções inter-raciais, tardias [adoção de crianças com mais de 3 anos] e também a adoção de crianças e adolescentes portadoras de alguma doença ou necessidades especiais”, acrescentou Juvenila. “São crianças que não podem ser esquecidas, mas que, infelizmente, é difícil alguém adotar”, comentou.
Conforme as profissionais, o curso é realizado ainda com pessoas que já concluíram o processo de adoção, no sentido de não desistirem da adoção. É feito um diálogo com estes pais para que não haja arrependimento e que, como ocorre em alguns casos, não sofram com as consequências da adoção. “Às vezes, os pais esperam de filhos adotivos o mesmo de filhos biológicos. Esse diálogo é justamente para ajudá-los em relação às questões de relacionamento entre eles”, esclareceu.
Em Boa Vista, o curso acontece anualmente no mês de setembro, e tem a participação de aproximadamente 30 pessoas. Quanto ao perfil dos futuros pais e mães, as assistentes contam que este tem sido variado, tanto pessoas que já têm filhos como as que não têm, casadas ou não, buscam a adoção.