Cotidiano

Socióloga diz que é preciso romper ciclo

Coordenadora do Numur afirma que é importante a mulher lutar para ter autonomia e tomar decisão sobre sua vida

O Dia Internacional da Mulher é comemorado no dia 8 de março e, apesar das conquistas alcançadas ao longo dos anos, as mulheres ainda sofrem com a desigualdade de gênero e a violência por parte dos homens. A socióloga Nelita Frank, coordenadora do Núcleo de Mulheres de Roraima (Numur), disse que acredita que essa desigualdade faz parte de uma cultura que está estruturada em um sistema patriarcal, sobre a supremacia do masculino sobre o feminino.
Ela frisou que isso é considerado “natural”, uma herança passada de uma geração para a outra, onde as mulheres estão sempre em um patamar abaixo dos homens. “O homem desde cedo é ensinado a trabalhar, e a mulher serve para reprodução e cuidado do lar. Hoje as mulheres trabalham, mas não deixaram de realizar as atividades domésticas, acumulam duas jornadas, mas ainda há diferença, as condições não são as mesmas. Precisamos de uma mudança de comportamento”, afirmou.
A sociológica afirmou que muita coisa já mudou, mas para estabelecer um nível de igualdade levará algum tempo. Ela destacou que o importante é a mulher lutar para ter autonomia e decisão sobre sua vida, romper com esse ciclo de dominação e ser feliz.
Em Roraima, o Numur realiza encontros e promove palestras e ações voltadas para o público feminino. Nos encontros, são debatidos as ações e projetos que beneficiam as mulheres em tramitação nos legislativos do Estado e do País.  
A entidade é um fórum de discussão, formação e articulação dos movimentos de mulheres. A entidade foi criada em 1998 e atua como um movimento social através de atividades de educação popular, oficinas, seminários, palestras e debates. “Nossas principais ações são voltadas ao combate à violência contra a mulher. Nós nos reunimos com mulheres em associações de bairros e em outros espaços cedidos”, explicou a coordenadora da entidade, a socióloga Nelita Frank.
Em 2014, o Núcleo executou um projeto de cartografia social das mulheres indígenas. Os estudos, que estão em fase de finalização, foram realizados em uma parceria entre o Ministério da Educação (MEC) e a Universidade Federal de Roraima (UFRR). “Fizemos uma pesquisa de campo e minicursos. Ele será divulgado em forma de fascículos com depoimentos sobre a realidade das mulheres indígenas em Boa Vista”, disse. Nelita destacou que o fórum também discute a reforma política. “Nós temos debates sobre o assunto há alguns anos. Realizamos oficinas e desenvolvemos algumas ações. Os tópicos mais debatidos são financiamento público de campanhas e a paridade de gêneros na composição de chapas partidárias”, frisou.
Como a entidade não tem sede, as reuniões são feitas em espaços cedidos por organizações sociais. Nelita lembrou que na época em que a Lei Maria da Penha foi criada, o Núcleo se mobilizou na divulgação. “Essa foi uma grande conquista. Acompanhamos não só este projeto, mas todos os que beneficiam as mulheres, inclusive o da criminalização do femícidio, que é o homicídio de mulheres apenas em razão do sexo feminino”.
A socióloga também chamou a atenção para a desigualdade de gênero que ainda existe. “Essa situação é mais visível no parlamento, assembleias legislativas e no Congresso Nacional. Apenas 12% dos profissionais que atuam nestas áreas são mulheres. Quando se trata de mulheres negras, esse número é ainda menor”, frisou.