Seja em supermercados de bairros próximos do Centro ou os de periferia, todos parecem reconhecer estar passando pela mesma situação: uma onda de furtos. Segundo alguns gerentes administrativos, o número de furtos teve um crescimento de mais de 200% nesses estabelecimentos em Boa Vista.
Para a maior parte destes mercados, tudo começou em meados de 2017, época marcada pelo agravamento da crise de refugiados venezuelanos em Roraima. Por causa dessa situação, mercados próximos de abrigos acabam sendo os mais prejudicados.
Esse é o caso de um mercado localizado no bairro Tancredo Neves. Nele, a quantidade de furtos flagrados pela segurança chega a 15 por dia. Segundo a assistente administrativa o mercado, Gisele Félix, a situação ficou tão crítica, que placas alertando a proibição da entrada de mochilas ou bolsas grandes foram colocadas ao lado da entrada. Além disso, os produtos apontados como mais furtados estão disponíveis atrás do balcão de recepção.
“Ainda hoje o prejuízo que estamos tendo é grande com esses furtos. Em dias agitados, temos uma média de 10 a 15 pessoas flagradas praticando isso. Os produtos mais furtados, como é o caso de produtos de estética, bebidas, chocolates mais caros e desodorantes, foram colocados atrás do balcão de atendimento. Para o consumidor pegar esses produtos, só pedindo ao atendente”, explicou.
Já em um supermercado localizado no bairro São Francisco, as intenções de furtos parecem ter a finalidade de revender com um preço mais barato. Segundo o gerente administrativo, Nilson Soares, os produtos mais caros e sofisticados são os mais visados. “Bebidas caras, perfumes e produtos importados em geral são os produtos mais furtados. Existem aqueles que tentam furtar comida, o que não chega a afetar tanto o nosso lucro. Mas tem muitos que vão direto nos produtos mais caros, para poderem vender mais barato e ganhar dinheiro”, contou.
De acordo com o administrador de prevenção de um supermercado do bairro Asa Branca, Jeferson Silva Barros, é comum que nove em cada dez pessoas que são pegas furtando sejam venezuelanas. “Aqui a maior parte dos furtos é de produtos que ficam expostos próximo ao caixa. Esse é o caso de chocolates, aparelhos de barbear, esmaltes e desodorantes. Já peguei um que estava com mais de 15 prestobarbas na calça, um prejuízo que poderia chegar a quase R$500,00.”, contou.
Proprietários investem em seguranças disfarçados e câmeras de visão noturna
Uma prática que está ficando cada vez mais comum nos estabelecimentos é a contratação de seguranças, vestidos à paisana, para andarem nos corredores e se infiltrarem entre os clientes para que possam avistar e evitar a prática de furtos.
O administrador de prevenção do supermercado do bairro Asa Branca, Jeferson Silva Barros, contou que nos finais de semana, quando há um fluxo maior de clientes, três seguranças fardados ficam nas proximidades das entradas do supermercado, enquanto outros dois andam disfarçados pelo estabelecimento.
“Estamos trabalhando há meses com prevenção reforçada. Nos dias de semana, temos dois seguranças disfarçados e um fardado. Pegamos cinco a seis pessoas no flagra nesses dias. Nos finais de semana, como estamos próximos da feira da Ataíde Teive, pedimos o reforço de três seguranças”, contou.
No supermercado do bairro São Francisco, o gerente administrativo, Nilson Soares, contou que a solução dos seguranças disfarçados é boa, mas ainda há furtos que acabam acontecendo. “Temos aqui o nosso segurança que fica disfarçado. Ele fica andando pelo mercado como um cliente normal e só vai observando qualquer cliente que tenha uma atitude mais suspeita ou fique observando demais as câmeras. Aqui ele costuma pegar entre 5 a 10 flagras por dia. Agora, imagina os furtos que não impedimos? É complicado, mas estamos na luta para não ficar no prejuízo”, contou.
Em um supermercado do bairro São Pedro, a solução adotada foi de ter dois seguranças em um mesmo turno. O gerente administrativo, Lincoln Andrade, contou que um segurança fica em uma sala observando as câmeras de segurança do local e outro anda pelo supermercado de acordo com os comandos repassados por quem tem acesso às imagens.
“Nós tínhamos um fluxo constante de imigrantes que vinham pedir dinheiro ou ficavam observando o local. Chegamos até a expulsar alguns devido às atitudes suspeitas. Hoje em dia, eles raramente vêm para cá. Temos o segurança que está em contato direto com a vigilância de câmeras, o que ajuda bastante”, explicou.
No supermercado do Tancredo Neves, a fiscal de caixa, Gisele Félix, contou que, além dos seguranças disfarçados, câmeras de segurança com capacidade de visão noturna foram instaladas. “As câmeras que colocamos, ainda este ano, possuem visão noturna, pois muitos dos furtos ocorrem na parte da noite. No caso dos seguranças, nós contratamos dois por turno. Pois, caso contrário, não teria como englobar a proteção de todo o mercado”, contou.
Gisele também ressaltou que, apesar de a maior parte dos furtos ser praticada por venezuelanos, é importante ter em mente que não se pode generalizar e pensar que qualquer imigrante é um bandido em potencial. “Assim como existe venezuelano mau caráter, também existe brasileiro da mesma forma. A crise deixa muitos desses imigrantes de má índole desesperados, o que resulta nesses furtos. Nós pegávamos brasileiros furtando e ainda encontramos alguns, mas infelizmente a grande parte dos furtos são feitos por venezuelanos, atualmente. Isso afeta a cidade como um todo, que agora está perigosa e a própria imagem dos imigrantes”, concluiu. (P.B)