Cotidiano

Tabu ajuda a dificultar combate a DSTs

Muitos pais ainda acham que vacina contra o HPV seria um incentivo à iniciação sexual precoce dos filhos

Com aumento de até 35% em jovens de 15 a 19 anos na Capital, as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) se tornaram alvo de preocupação constante para a saúde municipal. Dentre elas, a mais comum é o HPV (Vírus do Papiloma Humano), que apresenta 58 tipos, mas apenas 4 predominam – são nesses que a vacina atua.
Para combater o problema pela raiz, em 2014 a campanha contra o vírus foi iniciada, tendo sequência este ano com foco em crianças de 9 a 11 anos de idade. Disponibilizadas em todas as unidades básicas de saúde, as duas primeiras doses da vacina ajudam a prevenir verrugas que sinalizam a vinda de um câncer no colo do útero e demais consequências.
Porém, o combate ao vírus encontra duas grandes dificuldades, ambas relacionadas aos pais. A primeira é o medo que eles têm com relação aos raríssimos e leves efeitos colaterais que podem surgir. E, o segundo e pior problema, é a equivocada ideia de que tomar a vacina seria um incentivo à iniciação sexual precoce dos filhos.
“Estamos prevenindo a infecção de uma DST que nem sempre tem cura e possui efeitos devastadores. Mas, infelizmente, tudo que abrange sexualidade é polemizado na sociedade. Quando se trata de jovens, então, nem se fala. E esse é o principal problema: deixar dialogar sobre o assunto”, lamentou a superintende municipal de Atenção Básica, Erika Madelaine Carvalho.
INFORMAÇÕES – Sexualidade nada mais é do que todo conhecimento relacionado a sexo, que abrange desde a responsabilidade até doenças e gravidez. A taxa de adolescentes grávidas cresceu muito na Capital nos últimos anos. Desde que surgiu, em setembro de 2013, o programa municipal Família Que Acolhe (FQA) já registrou aproximadamente de 3.800 mulheres grávidas, dentre as quais mais de 1.100 trata-se de adolescentes.
“Palestras sobre sexualidade são feitas nas escolas da cidade, mas o adolescente também tem que se sentir confortável para falar sobre o assunto com os familiares, pois são eles que representam, de um forma ou outra, a segurança e conforto desses jovens”, afirmou a psicóloga Nara Azevedo, do Centro de Atenção Psicossocial Dona Antônia de Matos Campos (Caps II).
Conforme a profissional, por mais que a mídia aborde o tema, ainda há distorções nas informações, pois muitos jovens se baseiam em séries e novelas que tratam da gravidez e de doenças de forma fantasiosa. E uma vantagem do diálogo respeitoso com familiares próximos, como os pais, é justamente essa: o impedimento da chegada de informações deturpadas, fornecidas por amigos e programas.
“Não estou dizendo para os pais passarem a mão na cabeça dos filhos, caso eles pisem na bola, e sim que uma chamada de atenção deve ocorrer de modo a não traumatizar o jovem, a ponto de nunca mais querer tentar falar com os responsáveis, especialmente sobre um tema tão delicado quanto este. Uma boa dica seria fazer esse diálogo ocorrer de forma mais próxima da linguagem dos filhos”, frisou a psicóloga.