Uma operação de fiscalização ambiental às vésperas do Natal, encerrada na última quarta-feira, dia 24, recuperou 130 tartarugas adultas e prendeu quatro traficantes de animais silvestres que atuavam na região do Baixo Rio Branco. Segundo integrantes da operação, coordenada pela Direção do Parque Nacional do Viruá, de responsabilidade do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), junto à Policia Ambiental de Roraima (Cipa), as tartarugas seriam vendidas para consumo em ceias de Natal por pessoas de alto poder aquisitivo do Estado.
Há anos, a região vem sendo alvo da ação de traficantes de animais silvestres que se aproveitam do período de desova, quando milhares de fêmeas adultas surgem nas praias para depositarem seus ovos. Fora da água, as tartarugas se tornam muito mais vulneráveis, sendo facilmente localizadas e capturadas.
Os animais foram encontrados ensacados sendo transportados em canoas ao longo do rio Branco, em um ponto 10 Km ao Sul do município de Caracaraí. A apreensão ocorreu no último dia da operação, iniciada no último dia 19, prazo limite para que as tartarugas pudessem ser transportadas pelos traficantes a tempo de serem vendidas na cidade.
“Eles pensavam que a gente tinha ido embora, mas na verdade só tínhamos mudado o local da barreira. Foi uma estratégia que deu certo. Simulamos uma desmobilização da operação, que confundiu os traficantes, e graças ao efeito surpresa foi possível fazer o flagrante”, relatou Samuel Rodrigues, servidor federal do Parque Nacional do Viruá.
Segundo ele, uma vez capturadas nas praias, as tartarugas são mantidas estocadas em “currais” (pequenas áreas cercadas) escondidos na mata, o que torna muito difícil serem localizados pelas equipes de fiscalização. “Eles estocam os animais durante dias e fazem o transporte geralmente à noite. Para conseguir pegá-los é preciso muita estratégia e determinação da equipe”, explicou.
Além das quatro prisões efetuadas, foram apreendidas duas embarcações, dois motores e arma de fogo. Entre os animais resgatados, estão 90 tartarugas-da-Amazônia (Podocnemis expansa), 33 tracajás (P. unifilis) e 17 iaçás (P. tuberculata). Uma vez apreendidos, 119 animais foram devolvidos ao rio com vida, e apenas 11 encaminhados ao Centro de Triagem (Cetas) do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais), em Boa Vista, para recuperação, por estarem com anzóis presos na garganta.
Ações em parceria salvaram 250 tartarugas em três meses
“Esta foi a maior apreensão do ano. Até então, a maior apreensão tinha sido 84 tartarugas, em setembro, em outra operação”, informou o Sargento Jeferson Silva, da Cipa (Companhia Independente de Policia Ambiental) de Roraima.
Segundo ele, as ações têm sido feitas em parceria entre o ICMBio, a Cipa, o Ibama desde 2011 e vem atingindo resultados devido ao trabalho conjunto entre os diferentes órgãos.
“O sucesso dessas ações se deve à união de esforços. O apoio do Parque Nacional do Viruá, por exemplo, através de recursos e equipamentos, mesmo quando as ações se dão fora da unidade de conservação, tem sido fundamental. Graças às ações em parceria, mais de 250 tartarugas foram salvas ao longo do segundo semestre de 2014. Este é um excelente número considerando que a maioria das ações na Amazônia costuma apreender apenas pequenas quantidades de indivíduos”, declarou.
Além do trabalho e a dedicação da Cipa, do Ibama e ICMBio, o chefe do Parque Nacional do Viruá, Antonio Lisboa, destacou ainda a atuação da PRF (Policia Rodoviária Federal) e da PF (Policia Federal), com trabalho de inteligência e estratégia para garantir a proteção não apenas do Parque Nacional do Viruá, mas de toda a região.
Ele informou também que o trabalho não se restringe apenas a fiscalização, as ações incluem também o monitoramento de covas na região dos tabuleiros de desova, que deverá se estender até março de 2015, quando encerra o período de reprodução de quelônios no baixo rio Branco. Ao todo, foram identificadas 789 covas de desova, que estão sendo monitoradas pelo Ibama, com a proteção de policiais da Cipa e apoio do ICMBio.
O mercado ilegal de tartarugas chega a movimentar mais de um milhão de reais por semana em Manaus, no Amazonas. Uma tartaruga grande chega a custar R$ 500,00. “O que estamos vendo não é um consumo por populações pobres tradicionais, mas um crime alimentado por setores da alta sociedade, justamente pelos que mais deveriam dar bons exemplos a este país. Felizmente, este Natal, pelo menos 250 matrizes foram salvas de virarem ceia, e poderão seguir povoando nosso rio Branco de novas tartaruguinhas pelos próximos anos”, disse Lisboa.
Cotidiano
Tartarugas em fase de desova são resgatadas de traficantes
A ação de órgãos parceiros ocorreu no Baixo Rio Branco e resultaram na prisão de quatro traficantes e na soltura de mais de 130 quelônios