Redução da funcionalidade e menor oferta de leitos. Estes foram os principais problemas apontados por um relatório de levantamento feito pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em relação à parceria firmada entre a Universidade Federal de Roraima (UFRR) e o Governo do Estado para a doação do Hospital das Clínicas, localizado na avenida Nazaré Filgueiras, no bairro Pintolândia, para a instituição federal de ensino. Caso o acordo seja firmado de forma efetiva, a unidade não atenderá casos de urgência e emergência, não podendo cumprir um dos objetivos para o qual foi criado, que é desafogar o Hospital Geral de Roraima (HGR) e o Pronto Atendimento Airton Rocha.
Em dezembro de 2007, o Governo Federal firmou um convênio com o Estado de Roraima para a construção do Hospital das Clínicas, que começou a ser construído no bairro Pintolândia, zona Oeste. O projeto inicial era erguer a unidade em uma área de 9.853,15 m², com dois blocos de dois pavimentos que atenderiam a demandas de um Pronto Atendimento, com salas de raio-x, ultrassonografia, gesso, endoscopia, ecocardiograma, recuperação, leitos de internação clínica e necrotério, além de área reservada para ambulâncias, laboratórios e consultórios de triagem.
Na época, a obra custaria aos cofres púbicos a quantia de R$ 17,6 milhões, sendo R$ 16 milhões oriundos do convênio com o Ministério da Saúde e R$ 1,6 milhão de contrapartida do Governo do Estado. No entanto, a obra ainda não havia começado, pois os arquitetos estavam desenvolvendo o projeto e a Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinf), aguardando o repasse da verba.
Em 2010, o projeto de construção passou por alterações e o Governo do Estado celebrou, com a Caixa Econômica Federal, um contrato de repasse que tinha como objetivo a transferência de recursos financeiros para ampliação da estrutura. O repasse foi de R$ 10 milhões e a contrapartida do Estado de R$ 1.179.405,16. No total, o empreendimento custaria R$ 28.779.405,16.
Os trabalhos começaram no dia 29 de abril de 2011, com prazo para conclusão de 450 dias. A unidade deveria ser entregue em julho de 2012, mas a obra não foi concluída no tempo determinado. No dia 8 de abril de 2013, com os trabalhos atrasados há um ano e um mês, o Governo do Estado transferiu a responsabilidade da obra do hospital para a UFRR, que o tornaria em uma unidade universitária. A instituição de ensino seria a responsável pelas adequações no projeto, inclusive a devida instalação dos equipamentos necessários ao funcionamento da unidade.
Conforme o relatório de levantamento do TCU, o acordo entre a UFRR e o Governo do Estado não poderia ser celebrado, pois a Portaria Interministerial 127, de 2008, determina que o convênio assinado em 2007, pelo então governador Anchieta Júnior (PSDB), não poderia ser descumprido. “Frisa-se ainda que a obrigação de um gestor que assina um convênio é a de zelar pela sua efetividade, não podendo se esquivar dos deveres que lhe são impostos ao assumir uma função pública relevante apenas porque chegou o fim de sua gestão”, afirma o relatório.
O relatório do TCU também informa que, caso o acordo entre o Estado e a UFRR seja celebrado de maneira efetiva, a população será prejudicada. A Universidade deixaria de construir o seu próprio hospital escola e o Estado se esquivaria dos custos de manutenção de mais uma unidade hospitalar. Se o acordo for firmado nos termos inicialmente propostos, o Hospital das Clínicas não seria implantado e não seria construído o prédio próprio do Hospital Universitário.
Outro problema apontado pelo relatório é o atendimento que será prestado no Hospital Clínicas, caso torne-se uma unidade universitária. Os hospitais escola, como também são conhecidos, são centros de atendimento hospitalar, mantidos por instituições de ensino superior, cuja finalidade principal consiste na formação profissional. Ele é planejado para dar atenção aos serviços de média e alta complexidade, como a traumatologia, a ortopedia, nefrologia e oncologia, e teria como objetivo, minimizar o alto número de Tratamentos Fora do Domicílio (TFD).
Não faz parte de suas funções ofertar serviços de urgência e emergência. Então, um dos objetivos para o qual o Hospital das Clínicas foi criado não poderá ser cumprido, que é desafogar o HGR e o Pronto Atendimento Airton Rocha.
O TCU conclui que, caso o acordo seja firmado, haverá menor oferta no número de leitos disponíveis e de serviços médico-hospitalares na rede pública de saúde de Roraima devido à inexistência do Hospital das Clínicas. Outro problema apontado pelo órgão seria a redução na funcionalidade do Hospital Universitário, pois a impossibilidade física e ampliação futura da unidade, caso necessário, visto que o terreno onde está sendo construído já tem uma área totalmente ocupada, no bairro Pintolândia. (I.S)
Cotidiano
TCU diz que convênio não traz benefícios
Relatório do TCU aponta que acordo firmado entre Governo do Estado e UFRR resultará em menor oferta de leitos e redução de funcionalidade