No início da manhã, no horário do almoço, às vezes no meio da tarde e até de madrugada. As quedas de energia em Roraima se tornaram tão constantes nos últimos dias que até viraram motivo de piada entre a população, seguindo o clássico “rir, para não chorar”. Entre as consequências da suspensão estão a queima de aparelhos domésticos e o alto custo de funcionamento das termelétricas, que chega a mais de R$ 2 milhões por dia de uso.
Para manter o sistema das termelétricas ativo, por exemplo, é preciso gastar um milhão de litros de óleo diesel por dia. Multiplicando pelo atual valor do combustível, de R$ 2,29, o funcionamento da termelétrica equivale a um gasto de R$ 2,29 milhões diariamente.
Para comparar, o sistema da Venezuela que abastece Roraima consome somente 300 mil litros de óleo diesel, o que corresponde a um custo muito menor, de cerca de R$ 680 mil por dia.
As informações são do presidente da Eletrobras Distribuição Roraima, Anselmo Brasil, que assegura que as despesas são causadas pelo alto índice de desligamentos, devido às más condições das torres de transmissão, em um trecho de 80 quilômetros próximo à região de Las Claritas, na Venezuela.
A crise econômica que atingiu todo o país e fez milhares migrarem para o Brasil, também atingiu o Linhão de Guri, que distribui energia para Roraima, único estado no país a não estar conectado ao sistema nacional. Lá, faltam equipamentos e ausência de manutenção contínua para evitar que a vegetação atrapalhe os fios de transmissão.
Lá, as árvores e a vegetação enraizada das bases até o topo das torres causam problemas, caindo e atingindo os fios em períodos de fortes ventos e chuva. Para tentar reduzir as quedas, existe a tentativa de negociação entre os dois países para que a Eletrobras seja autorizada a enviar servidores e ferramentas que possam auxiliar na manutenção das torres.
“Tem toda uma tratativa para fazer a limpeza nas torres deles e de segurança do nosso pessoal. Sem dúvida, nós estamos estimando que sejam 80 quilômetros de linha que estão com esse problema. Dá para identificar as áreas que estão mais problemáticas e agir. Feito esse trabalho, nós vamos retornar a uma situação de melhor qualidade e sem quedas, que hoje é o que está nos incomodando”, informou Anselmo.
Índice de desligamentos subiu 87%
Durante todo o ano de 2017, foram registradas 33 interrupções de energia em Roraima. Até ontem, 14, o número chegou a 62 desligamentos, ou seja, um crescimento de 87% no percentual sem mesmo completar o ano.
Anselmo Brasil frisou que as quedas prejudicam o Estado e também a Venezuela, já que a falta de energia atinge ambas as localidades e não tem um teor intencional. “Se desligasse de Santa Elena para cá, seria uma visão intencional da coisa, mas não. Eles também estão sem energia lá”, informou.
PROCEDIMENTO – Assim que acontece a queda, o centro de operação da Eletrobras Distribuição Roraima aciona a termelétrica de Monte Cristo, a maior usina do Estado, que recompõe a energia em um período de até cinco minutos. A primeira carga alimenta o centro da cidade, sede do Governo do Estado, bancos, escolas e hospitais.
A ordem de ligação é uma recomendação da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que prioriza as áreas de saúde. Em seguida, os outros sistemas são ativados, alimentando outros bairros no prazo de até 15 minutos. As termelétricas são mantidas em pleno funcionamento até o retorno do sistema da Venezuela.
Em caso de um apagão por vários dias, a Eletrobras Distribuição Roraima garante que o Estado não ficará sem energia, já que dispõe de uma quantidade de óleo diesel para manter as termelétricas em funcionamento direto por oito dias. O período seria até o suficiente para que houvesse o reabastecimento de mais óleo diesel até o Estado.
Eletrobras já ressarciu R$ 306 mil por equipamentos queimados
Até ontem, 14, a Eletrobras Distribuição Roraima já tinha ressarcido R$ 306 mil aos clientes que foram prejudicados com as quedas de energia. Foram 806 atendimentos, sendo 488 oriundos de equipamentos em gerais e 318 de condicionamento de alimentos.
De acordo com Albhetson Dantas, gerente do Departamento Comercial da Eletrobras Distribuição Roraima, a categoria de condicionamento de alimentos incluiu geladeiras, frigoríficos ou equipamento que guarde medicamentos refrigerados.
Neste caso, a equipe tem um dia útil para realizar a vistoria e avaliar se a causa do estrago foi a queda de energia. Vale ressaltar que, se o aparelho queimou na sexta-feira, a Eletrobras tem até segunda-feira para fazer a vistoria.
Os demais itens, como ventiladores, televisão, ar-condicionado, são avaliados como equipamentos gerais e têm um período maior, de 10 dias, para que a equipe faça a vistoria técnica. Não é recomendado mexer nos itens neste período.
Em seguida, o departamento tem 15 dias para deferir ou indeferir o pedido. Partindo do princípio que o pedido foi aceito, a pessoa recebe uma correspondência com todos os procedimentos necessários para fazer o ressarcimento.
“Lembrando que isso é um procedimento de ressarcimento de danos, ou seja, o cliente conserta e nós ressarcimos o conserto. Depois que ele apresentar a documentação comprovando o gasto, em dentro de 20 dias no máximo, a gente vai fazer o ressarcimento para ele”, informou.
Dantas assegura que a população deve buscar seus direitos e não acreditar que o processo será muito demorado ou custoso, já que muitos dos procedimentos foram alterados com base em audiências públicas feitas pela Aneel junto com a população e as concessionárias, com o objetivo de desburocratizar o processo.
“Isso foi simplificado. Hoje, o cliente tem que ter em mente que tem 90 dias para entrar em contato conosco e registrar a reclamação. Desde quando ocorreu a perturbação dele, no dia que o equipamento queimou. Ele não precisa vir até a loja, não precisa pega fila, gastar o combustível dele. Ele pode ligar para a nossa central ou via internet. Se for ao interior, cada município tem a sua loja de atendimento, onde ele também pode procurar”, frisou. (P.C.)