Cotidiano

Tráfego na BR-174 é liberado após protesto

Indígenas haviam bloqueado a rodovia em dois pontos para protestar contra a aprovação da PEC 215

Após intensa negociação, indígenas da Terra Indígena São Marcos desbloquearam, no início da tarde de ontem, a BR-174, no trecho que liga a Capital ao Município de Pacaraima, próximo à fronteira com a Venezuela. Pelo menos dois pontos da rodovia federal foram fechados, um nas proximidades do Malocão Makunaima e outro antes da ponte sob o Rio Surumu.
Conforme o inspetor da Polícia Rodoviária Federal Alberto Ramos, antes do fim dos bloqueios, os indígenas permitiram o tráfego de veículos no período das 17h às 19h. “A região onde foram impostos os bloqueios não oferece nenhum tipo de conforto. É uma região de lavrado que não dispõe de nenhuma sombra ou qualquer tipo de abrigo para o pessoal ficar aguardando a liberação de tráfego. Nós negociamos com os indígenas para ao menos permitir a passagem de crianças, idosos e pessoas com algum tipo de doença. Houve a liberação por determinado período, mas eles estavam inflexíveis perante a situação”, afirmou.
As negociações foram retomadas durante o período da manhã e, após diálogos com a PRF e um procurador da Advocacia-Geral da União (AGU), os manifestantes decidiram pelo fim da manifestação. “O protesto está sendo realizado em decorrência da votação da PEC 215. Nós informamos a eles que a votação foi adiada. Nós questionamos junto às lideranças do movimento do por que da continuidade do protesto, e nem eles mesmos sabiam ao certo o que estão reivindicando. Há uma confusão de informações e as lideranças demonstram estar indiferentes com a situação. Em todo o período em que estive por lá, nenhum representante da Funai compareceu para facilitar a negociação, é uma situação fora do comum”, relatou Ramos.
Ainda de acordo com a PRF, cerca de 150 indígenas participavam do protesto. O grupo é contra a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que submete ao Congresso Nacional a decisão final sobre a demarcação de terras indígenas no país, atribuição que é exercida atualmente pela Fundação Nacional do Índio (Funai).
PREJUÍZOS – Durante a manhã de ontem, à Folha ouviu taxistas que prestam serviços de transporte intermunicipal para Pacaraima, município próximo ao local da manifestação. Muitos deles afirmaram que se sentiram prejudicados com a paralisação.
“Foi uma situação que causou surpresa em todo mundo. Muitos colegas tiveram que fazer baldeação para dar continuidade à viagem dos passageiros. É uma situação constrangedora não só para motoristas como também para o turista”, comentou o taxista Magno Souza.
Na opinião do taxista Dialdy Ferreira, os manifestantes deveriam ter revisto os impactos da paralisação, uma vez que toda a sociedade é penalizada com a ação. “Nós não somos contra o protesto, mas eles deveriam protestar em frente aos órgãos responsáveis por essa questão, e não impedir o direito de ir e vir do cidadão. O taxista deixa de faturar e o turista fica com uma impressão negativa do Estado”, destacou.
ADIAMENTO – Em comunicado à imprensa na noite de quarta-feira, o presidente da comissão especial da PEC 215, deputado Afonso Florence (PT-BA), anunciou o cancelamento do relatório produzido pelo deputado Osmar Serraglio (PMDB-SC), favorável a PEC.
Para o deputado Chico Alencar (Psol-RJ), a PEC retira direitos dos povos indígenas. O parlamentar lamentou ainda que os indígenas não estão sendo ouvidos nos debates sobre o tema. De acordo com o Regimento Interno da Câmara, como o parecer não foi votado pela comissão especial, a PEC será arquivada ao final desta legislatura. (M.L)
FUNAI – A Folha tentou contato com a Funai para saber o posicionamento do órgão referente a ação dos indígenas, mas até o fechamento da matéria, às 19h30, não obteve resposta.