Um mês e meio após a megaoperação “Babilônia”, realizada pela polícia na área Caetano Filho, o Beiral, no Centro, traficantes voltaram a ocupar a área e agora avançam na venda de entorpecentes. Os que não vendem droga no Beiral e arredores acabam praticando furtos e assaltos no Centro para manter o vício.
Depois das últimas ações policiais, os traficantes saíram das esquinas e alugaram apartamentos de pousadas onde fazem o tráfico. A Folha foi ao local anteontem à tarde e constatou a denúncia. Um grupo de jovens vendia entorpecentes em plena luz do dia no pátio de uma pousada, próxima ao Terminal de Ônibus. Eles entravam em um quarto e pegavam a droga. A Folha também fotografou outro jovem, na mesma rua, vendendo entorpecente em uma banquinha de pastel. Um usuário parou o carro e comprou droga.
Ainda no Beiral, os traficantes alugaram três apartamentos em um prédio de andar. Os viciados sobem as escadas, entram nos quartos e compram a droga. Donos de pequenos restaurantes nas imediações denunciam que o movimento no local é intenso.
O preço médio da diária de um quarto de pousada naquela área é de R$ 40,00. Por dia, segundo investigações da polícia, um traficante do Beiral ganha até R$ 4 mil. Eles saíram das esquinas e dos becos porque a polícia intensificou as rondas, mas alugaram apartamentos de pousadas, estâncias e pequenos hotéis.
“Os traficantes colocam menores de idade para informar aos viciados onde a droga está sendo vendida. Então, os menores levam os viciados até as pousadas. Os PMs passam pela frente, mas não abordam porque pensam que os traficantes são hóspedes”, denunciou um morador.
O Beiral é o maior e o mais antigo ponto de venda de drogas da Capital. Inúmeras ações policiais e sociais já foram realizadas no local, mas como as medidas são paliativas, os traficantes e viciados sempre voltam. Lá é comum ver crianças e adolescentes servindo como “aviões” dos traficantes.
A área também serve como uma espécie de “feira-livre de droga”, pois tudo lá é negociado por droga, como celular, cosméticos, roupas, calçados, botijas, eletrodomésticos, equipamentos eletrônicos, bicicletas entre outros produtos geralmente oriundos de furtos e assaltos.
Usuários de droga se tornam pedintes e ocupam área central de Boa Vista
O tráfico de drogas deixou de ser apenas um caso de polícia e passou a ser um problema social. É comum ver pelas ruas do Centro de Boa Vista jovens pedindo dinheiro ou “vigiando” carros. No comércio do Centro, os “flanelinhas” brigam pelos clientes. No final do dia, eles vão comprar droga no Beiral.
Lojistas do Centro reclamam que o número de pedintes vem aumentando nos últimos meses. Eles dizem que a droga transformou muitos jovens em pedintes e moradores de rua. “Esse público não encontra outro jeito de sustentar o vício, infelizmente, por isso acabam na rua”, lamentou um atendente comercial de 28 anos, que preferiu não se identificar.
A Folha entrevistou um jovem de 17 anos que vigia carros na Avenida Jaime Brasil, onde fica o centro comercial mais antigo de Boa Vista. Ele admitiu ser usuário de droga e falou de seu cotidiano. “O que apuro por dia eu compro droga no final da tarde, no Beiral. Sou viciado, mas trabalho para sustentar meu vício”, justificou.
O número de pedintes vem aumentando no Centro e isso está causando transtornos à população. Os mendigos e usuários de droga ocupam ambientes públicos, onde dormem e também fazem suas necessidades biológicas. A Folha flagrou anteontem um viciado dormindo dentro de um caixa eletrônico, próximo à Orla Taumanan, no Centro. Clientes do banco reclamaram que não puderam utilizar o caixa.
Número de furtos aumenta no Centro, afirmam lojistas
Lojistas do Centro reclamam dos furtos. Eles alegam que os crimes estão aumentando a cada mês. Na maioria dos casos, os detidos são jovens que cometem o crime por causa do vício. Supermercados e farmácias são os principais alvos.
“Este mês já pegamos um rapaz tentando furtar cremes e desodorante. No mês passado registramos quatro furtos. A gente chama a Polícia, mas no dia seguinte vemos o ladrãozinho solto, andando pela rua. Dá pena porque são tão novos, mas já viciados. Eles furtam para trocar os produtos por droga”, disse um atendente de farmácia, que preferiu não se identificar.
O gerente de supermercado, Cláudio Marcos, de 57 anos, também reclamou do ataque dos “trombadinhas”. Lembrou que, na semana passada, um adolescente foi flagrado tentando sair do estabelecimento com perfumes debaixo da roupa. Também era usuário de drogas.
“Nossas câmeras já flagraram inúmeros jovens tentando furtar aqui dentro. Eles atacam principalmente o setor de cosméticos. A gente vai lá, apreende e entrega à Polícia Militar, mas não demora muito e os trombadinhas voltam”, reclamou.
Os furtos também acontecem em paradas de ônibus e em via pública. A diarista Simone de Souza, de 26 anos, disse que foi furtada quando andava pelo Centro. “Caminhava para o terminal de ônibus quando fui surpreendida por um rapaz. Ele veio correndo e puxou minha bolsa. Desapareceu no rumo da Escola Ayrton Senna. Perdi celular, uns trocados e documentos”, lembrou.
Lojistas informaram que policiais militares fazem rondas a pé pela região, mas vão embora assim que anoitece. É nesta hora, segundo os lojistas, que os ladrões atacam. “Deveriam colocar um posto fixo da PM aqui na Jaime Brasil. Isso com certeza inibiria a ação dos ladrões”, frisou o gerente.