AYAN ARIEL
Editoria de Cidades
A região sul de Roraima sofreu uma situação incomum na última terça-feira (26): um tremor de terra, com epicentro no município de São João da Baliza. Segundo confirmação do Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), o abalo sísmico atingiu magnitude 3,8 na escala Richter.
O professor de Geologia da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Fábio Luiz Wankler, enumerou à equipe da Folha algumas razões que podem ter ocasionado o sinistro naquela região.
“A gente pode ter, ao menos, duas possibilidades relacionadas a esses tremores de terra. Uma delas são as causas antrópicas, que podem ser provocadas por conta de movimento em atividades de construção, mineração ou até mesmo o assentamento do corpo de água da Hidrelétrica do Jatapu. Ela pode ter uma direta consequência de algum deslocamento de alguma pequena zona de descontinuidade de falhas geológicas existentes na área, o que pode ter provocado nesse tremor registrado naquela localidade”, pressupõe Wankler.
A outra possibilidade, como dita anteriormente pelo professor de geologia da UFRR, seriam as causas naturais. Apesar de o Brasil estar consideravelmente no centro da Placa Sul-Americana, o que, em teoria, deixaria o país em uma situação de estabilidade, uma combinação com a geologia de Roraima, que é consideravelmente muito complexa, e rochas muito antigas que existem na região, poderiam provocar novas situações de vulnerabilidade.
“A gente tem algumas cicatrizes de antigos períodos em que o Estado foi uma zona bastante ativa. Nesses locais onde existem essas falhas antigas, as pressões existentes nesses pontos, comprimindo a Placa Sul-Americana como um todo, podem gerar, em alguns momentos, certas tensões que, ao serem liberadas, criam um tremor de terra, que é uma vibração muito grande causada por um deslocamento de massas de rochas”, explicou o professor.
PLACAS TECTÔNICAS – A região Norte, como um tudo, fica dentro de uma área central da Placa Sul-Americana que, teoricamente, é estável e sem propensão a tremores de grande proporção, sendo o Estado do Acre o único local tectônico do Brasil onde ocorrem sísmicos ativos. A placa compreende toda a América do Sul e se estende a leste do Oceano Atlântico.
“Em Roraima, estaríamos em uma zona relativamente central e o máximo de efeito que sentiríamos é o movimento desses dois extremos refletindo em toda a placa tectônica. Ou seja, eles ficam se propagando de uma ponta a outra”, pontuou Wankler.
RECAPITULANDO – A Folha noticiou durante esta semana o abalo sísmico ocorrido na terça-feira (26), que foi sentido nos municípios de Caroebe, São João da Baliza, São Luiz e Rorainópolis. Os moradores relataram que o tremor de terra teve início após ouvirem um barulho de estouro. O Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP) confirmou que o estrondo se tratava de um terremoto que atingiu a marca de 3,8 na escala Richter e foi registrado pelas estações de Boa Vista e dos estados do Amazonas e do Pará. O índice atingido não é considerado catastrófico.