Cotidiano

Três em cada quatro migrantes venezuelanos não conhecem o Enem

Pesquisa da Organizações das Nações Unidas (ONU) com venezuelanos em Roraima e Amazonas apontou que migrantes querem cursar o ensino superior, mas não sabem como concorrer a uma das vagas nas universidades

Apesar do desejo de cursar a universidade, 3 em cada 4 refugiados e migrantes da Venezuela ouvidos em enquete não conhecem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no Brasil.

Foi o que apontou o U-Report Uniendo Voces, uma plataforma digital de informação e participação social para jovens e adolescentes que deixaram seu país.  A ferramenta entrevistou 74 pessoas. Dos que responderam à enquete, 55% têm o ensino médio completo, 52% têm até 30 anos e quase metade vive nos estados do Amazonas e de Roraima.

Ao mesmo tempo, quase nove em cada dez entrevistados afirmam que tentarão entrar na universidade no próximo ano, o que aponta a necessidade de investir em campanhas de informação sobre meios de acesso ao ensino superior.

Muitos refugiados e migrantes da Venezuela desejam entrar na universidade, mas não conhecem os caminhos e formas de acesso. É o que mostra uma pesquisa da Plataforma de Coordenação Interagencial para Refugiados e Migrantes da Venezuela (R4V, na sigla em inglês). Entre as pessoas que responderam à enquete, 92% afirmam querer entrar em uma universidade ou faculdade, mas três em cada quatro nunca ouviram falar do Enem, a principal forma de acesso para o ensino superior no Brasil hoje. A primeira etapa do exame aconteceu neste domingo (13), e a etapa seguinte ocorre no dia 20 de novembro.

A pesquisa foi realizada no começo do mês por meio do U-Report Uniendo Voces, uma plataforma digital de informação e participação social para jovens e adolescentes que deixaram seu país em busca de proteção e assistência no Brasil. “De forma geral, um dos motivos que impedem o acesso à educação de pessoas refugiadas e migrantes é o desconhecimento de que isso é um direito. O que a enquete mostra agora é que isso não ocorre apenas na educação básica, quando as famílias em grande parte desconhecem o processo de matrícula, por exemplo, mas se perpetua durante a adolescência e juventude”, afirma a colíder do setor de Educação da Plataforma R4V, Cynthia Ramos, também consultora de Educação em Emergências do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

Instituições de ensino públicas e privadas utilizam o Enem – aplicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia vinculada ao Ministério da Educação – para selecionar estudantes, seja como critério único ou complementar dos processos seletivos. Apesar do desconhecimento, quase nove em cada dez entrevistados afirmam que tentarão entrar na universidade no próximo ano.

“A educação é fundamental para a integração, inclusive socioeconômica, de refugiados e migrantes. Eles pensam no futuro e na continuidade da educação em seu novo país, mas será preciso investir na informação sobre meios de acesso e na facilitação para promover esse acesso também no ensino superior”, defende a colíder do setor de Educação da Plataforma R4V, Mariana Alcalay, que também é oficial de projetos de Educação da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

Metodologia

Hoje, 388 mil refugiados e migrantes da Venezuela vivem no Brasil. A maioria chega ao país pela fronteira na cidade de Pacaraima, no interior de Roraima.

A pesquisa do U-Report Uniendo Voces contou com a participação de 74 pessoas e não tem caráter representativo da população de pessoas refugiadas e migrantes no Brasil. Dos que responderam à enquete, 55% têm o ensino médio completo, 52% têm até 30 anos e quase metade vive nos estados do Amazonas e de Roraima.

O U-Report Uniendo Voces é uma ferramenta de informação e participação social para jovens e adolescentes refugiados e migrantes da Venezuela que vivem no Brasil. As enquetes são realizadas virtualmente pelo WhatsApp, Facebook Messenger ou aplicativo, sempre de forma voluntária, gratuita e anônima. Por meio da interação com um chatbot chamado “Gigante”, os participantes também acessam informações atualizadas e confiáveis sobre serviços e direitos. A iniciativa é ainda implementada pela plataforma R4V no Equador e Bolívia. Originalmente, o U-Report é uma ferramenta criada pelo UNICEF em 2011, com foco nos jovens, estando presente hoje em 90 países. Os canais para interação no Brasil, onde o projeto é implementado pela Viração Educomunicação, são:

R4V

A Plataforma Regional de Coordenação Interagências R4V – Resposta a Venezuelanos e Venezuelanas, é um mecanismo de articulação entre agências do sistema das Nações Unidas e a sociedade civil. A Plataforma R4V é composta por um conjunto de parceiros e tem como objetivo responder ao fluxo de venezuelanos na América Latina e Caribe. No Brasil, é composta por 55 integrantes, sendo liderada pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e Agência da ONU para Migrações (OIM).