O professor doutor da Universidade Federal de Roraima, Roberto Ramos, participou nesse domingo (3) do programa Agenda da Semana, na Rádio Folha FM para falar da crise nas universidades públicas do Brasil, em especial Roraima. O tema tem sido debatido por instituições que identificaram o crescimento na evasão acadêmica e redução no processo de seleção.
“O fato é que as universidades vivem uma crise sobre a entrada e a permanência de estudantes”, disse Ramos no início da entrevista. “A gente percebe o esvaziamento do campus que se dá de muitas formas, pela frequência dos estudantes, do desinteresse pelo ensino superior, principalmente nas áreas das humanas, as licenciaturas vivem uma crise enorme”, complementou.
As universidades, destacou o professor, é reflexo do caminhar da sociedade e quando não há educação de qualidade e o incentivo para a ida do jovem ao ensino superior, esse processo se torna mais difícil. Ramos sugeriu ampliação do diálogo das universidades com o adolescente do ensino médio. “Às vezes faz escolha por uma carreira que não sabe se é realmente aquilo que ele quer. Se houvesse mais esse diálogo”, complementou.
Na visão como profissional da educação de ensino superior, com o passar dos anos as pessoas começaram a perder interesse em ler, o que dificulta a compreensão e interpretação das bibliografias indicadas pelos professores. “É difícil sem conhecimentos, é difícil este aluno chegar na universidade e dá conta de formação, mesmo com processo tradicional, é uma educação que exige minimamente um conhecimento”.
Do ensino tradicional a inserção da tecnologia. Na entrevista, o convidado falou sobre a produção de conhecimento e o acesso a informação, sendo este último o mais recorrente com o uso de celulares. “Uma diferença de geração da minha para as mais jovens. Os jovens querem ter acesso a informação, mas não ao conhecimento”, frisou Roberto Ramos e completou. “Ler parece uma coisa antiga e não é ao que se refere ao conhecimento”.
Roberto Ramos teceu crítica aos professores mais novos das universidades. “Muitos chegam com visão antiga. A esperança era para que esses professores jovens trouxessem a universidade para o século 21, novas discussões, novos processos de produção, gerar conhecimento a partir dessa integração”
Em outro ponto, o entrevistado comentou sobre o empobrecimento da língua, a resistência para ler e escrever mais. “Para mim, é difícil avançar uma produção de conhecimento com uma linguagem tão empobrecida como essa. Essa é uma discussão é maior e muito complexo”.
Getúlio Cruz aproveitou para falar do estudo feito pelo Centro de Pesquisas em Educação, Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), em parceria com a plataforma de leitura Árvore, mostrou que mais de 66% dos jovens de 15 e 16 anos não leem mais de 10 páginas de um livro por ano.
A mudança deste cenário, reforçou Roberto Ramos, está no processo educacional. “Precisamos reinventar as formas de ensino”, finalizou.