A agricultura tem ganhado força em Roraima principalmente com a produção familiar. Com o aumento da população, é preciso gerar cada vez mais alimento, o que força o uso de tecnologias para suprir essa necessidade. É neste ponto que entram os produtos fitossanitários, mais conhecidos como agrotóxicos.
Após a liberação do uso de agrotóxicos, Roraima registrou o primeiro caso de possível envenenamento por agrotóxico. Por conta disso, a Folha conversou com autoridades e outras pessoas sobre a questão.
Conforme Alessandro Fortunato, professor de agronomia da Universidade Federal de Roraima (UFRR) o uso incorreto desses produtos pode trazer males, assim como qualquer medicamento utilizado por seres humanos. É necessário seguir as instruções da bula e utilizar equipamentos de proteção individual (EPI) durante o manuseio.
“Esse equipamento para operador é vital, porque se ao fazer a aplicação de inseticidas do grupo piretróide, que ataca o sistema nervoso central dos insetos, em doses elevadas e contato direto pode trazer males para seres humanos, mas em uma exposição de grande quantidade”, explicou.
Fortunato aponta que o não uso do equipamento é um problema encontrado principalmente entre os pequenos produtores rurais, já que o difícil acesso da fiscalização a estas plantações dificulta que sejam orientados sobre manuseio correto ou penalizados pela falta do EPI.
“Sem esses conhecimentos, o pequeno produtor faz a aplicação com as roupas que está usando no dia a dia e fica totalmente exposto a esses produtos. Se ele não usa a dose recomendada, a chance de ele ter intoxicação em curto prazo é muito grande. Ou seja, se ele aplica hoje e daqui cinco dias aplica de novo, ele pode ter um contato se não estiver usando esses equipamentos”, alertou.
O professor alerta para que o produtor compre o material apenas em lojas de revenda registradas e com a devida documentação exigida pelo Ministério da Agricultura e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). E também adverte que é necessário o descarte correto das embalagens.
“Essas embalagens não podem ser simplesmente descartadas no meio ambiente ou reutilizadas. Infelizmente, muitas pequenas propriedades e assentamentos reutilizam embalagens como os garotes de agrotóxicos pra colocar água e etc. Então, às vezes a sociedade leiga põe a culpa no agrotóxico. A culpa não é do defensivo, do produto fitossanitário. A culpa é do operador e de quem está usando o material e não está usando da maneira correta”, finalizou.
Beber leite em caso de envenenamento é mito
Manter a calma durante este tipo de ocorrência e ligar imediatamente para o Centro de Informações Antiveneno, através do número 0800 284 4343, ou uma ambulância ligando no 192, são os primeiros passos a se tomar. Conforme uma enfermeira do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) que preferiu não se identificar, não se deve provocar vômito ou dar leite ao paciente.
“Existem vários casos de intoxicação por causas externas. A maioria dos envenenamentos, infelizmente, não se deve induzir vômitos. Do mesmo jeito que o produto entra queimando e rasgando a via oral até o trato gastrointestinal, volta da mesma forma. Beber leite não corta efeito de veneno, isso é mito. Infelizmente os agrotóxicos tem um grande poder de intoxicação levando na maioria das vezes a morte”, explicou.
A enfermeira complementa que para saber se o caso é recomendado a indução do vômito, a pessoa precisa ter acesso ao rótulo do produto que pode conter esta informação. “Se for recomenda a indução de vômito, mas o paciente estiver desacordado, não pode ser feito porque corre o risco da vítima bronco aspirar. Ou seja, ir resíduos de vômito com substâncias tóxicas para o pulmão, o que piora a situação”, informou.
Para estimular o vômito, ela orienta posicionar o paciente com a cabeça baixa e pressionar a base da língua com o cabo de uma colher ou objeto similar. (VF)