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A Folha foi até o Hospital Geral de Roraima (HGR), no final da tarde de ontem, para saber das pessoas o que havia mudado no atendimento da saúde depois de 60 dias que o governador Chico Rodrigues (PSB) assinou o Decreto de Emergência na Saúde. Foram ouvidos os usuários que relataram as reclamações de sempre: demora no atendimento, superlotação, pacientes em macas nos corredores e falta de medicamentos e até de papel para emitir um atestado médico.
“Não mudou nada! Está a mesma coisa de antes”, disse a cabeleireira Ana Cleide, que está com a cunhada internada, ao ser questionada se havia sentido mudança para melhor no hospital. “Ela está há 15 dias numa maca no corredor e só o que você vê é gente nas macas e cadeiras nos corredores”.
Sentada à espera de atendimento para o marido desde o meio-dia, a dona de casa Antônia Gorete reclamou da demora. “Não melhorou nada! O atendimento é péssimo e lá dentro há muitos tomando soro sentados nas cadeiras, e outros, em macas no corredor”, afirmou.
O transportador Júnior Souza procurou a Folha para relatar o que ele passou na nesta terça-feira quando buscava atendimento para a sua esposa. “Ainda falta muita coisa para dizer que o atendimento na saúde melhorou alguma coisa”, disse, lamentando que teve que ficar das 14h às 20h na Policlínica Cosme e Silva, no Pintolândia, e não conseguiu atendimento.
“De lá vim para o HGR e só fui atendido à 1 hora da manhã”, disse. “Mas o pior é que não havia Dipirona e tive que sair para comprar. Como o médico não passou receita nem atestado médico para ela, alegando que estava sem as folhas para fazer o atestado e a receita, hoje tive que voltar para pegar. A situação da saúde no Estado é mesmo precária. E olha que estamos em época de eleição, onde existe muita promessa! Imagina depois!”, frisou.
MELHORIAS – Mas houve também quem falasse bem. O agricultor Enivaldo de Oliveira, que acompanha a esposa no HGR, disse que ela está desde as 9h de terça-feira em cima de uma maca no corredor à espera de uma vaga de leito. “Ela já foi atendida, está numa maca no corredor, mas acho que já melhorou muito o atendimento no HGR”, frisou.
A indígena macuxi Ana Maria, da região do Amajari, disse que foi bem atendida, porém destacou que isso aconteceu por ser indígena, que tem prioridade. “Falei que era indígena e fui muito bem atendida”, elogiou. (RR)
Contrato com a fornecedora de oxigênio não será renovado
A falta de oxigênio no HGR, que resultou em mortes no mês passado, pode ser um dos motivos para que a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) tenha anunciado que não vai renovar o contrato com a empresa Nitron, responsável pelo abastecimento de oxigênio no HGR.
Segundo informou a secretária adjunta da Saúde, Cláudia Praia, o contrato termina no mês de novembro e não será prorrogado. “Vamos fazer um novo procedimento licitatório, embora saibamos que será difícil encontrar um fornecedor para pronta entrega de oxigênio na região”, frisou.
Quanto à falta de oxigênio, que resultou na morte de, pelo menos, duas pessoas no mês passado, Claudete afirmou que uma sindicância está em andamento na Sesau para apurar o caso. “O Ministério Público também está à frente do problema e, com certeza, não será renovado o contrato com essa empresa e será feito um novo procedimento”, frisou.
Quanto ao fato de a empresa Nitron vir a ser a vencedora da licitação, se mesmo assim não seria contratada, ela foi enfática: “Não podemos estabelecer critérios para selecionar, mas podemos estabelecer critérios para excluir”. (RR)
HGR realiza mutirão para reduzir espera por cirurgias
O Hospital Geral de Roraima (HGR) está retomando o mutirão de cirurgias eletivas ortopédicas. Além das operações feitas durante o dia, os profissionais se revezam para, também, atuarem à noite. Com isso, a intenção é reduzir a fila de espera pelo procedimento, que chega a representar quase 80% das intervenções cirúrgicas feitas na unidade.
A ação já foi realizada no primeiro semestre deste ano, quando o turno extra era cumprido durante três dias da semana. Desta vez, desde segunda-feira, 21, a cada dia uma equipe está realizando cirurgias durante a noite. Com o incremento, os profissionais chegam a realizar dez procedimentos por dia.
A iniciativa foi necessária porque a demanda de pacientes admitidos na unidade com indicação para cirurgias ortopédicas tem aumentado consideravelmente, principalmente por causa dos acidentes de trânsito, a grande maioria deles envolvendo motocicletas.
De acordo com dados do Serviço de Arquivo Médico e Estatística (Same) da unidade, as cirurgias ortopédicas representaram 78,43% dos procedimentos feitos na unidade durante todo o ano passado. Foram 1.535 cirurgias, uma média de 128 procedimentos por mês.
Com a quantidade de pacientes admitidos maior que o número de altas, forma-se uma demanda reprimida por cirurgias eletivas. Tentando amenizar o problema, os 11 ortopedistas do HGR se dividem para a realização de cirurgias de urgência e eletivas, oriundas da enfermaria e acompanhamento de ambulatório no Hospital Coronel Mota (HCM). “Nossa intenção é, na medida do possível, fazer com que essa ação se torne permanente, pois, infelizmente, o trânsito vem fazendo cada vez mais vítimas”, enfatizou o coordenador do Núcleo de Ortopedia do HGR, Marcelo Arruda.
Arruda explicou que aliado a isso, desde o início do ano, a unidade modificou o protocolo de atendimento para atender a grande demanda e minimizar o tempo de espera dos pacientes de cirurgia ortopédica. Desde então, é feita uma fila única para todos os casos, de modo que qualquer médico da equipe possa atendê-los. O novo procedimento substitui uma fila para cada médico, que acabava resultando em uma espera mais demorada para alguns pacientes. As filas são respeitadas. Porém, os casos mais urgentes possuem prioridade, de acordo com a análise médica. Desse modo, o paciente vai ser atendido com mais rapidez e, consequentemente, estará reabilitado em menos tempo.
O médico reforçou a importância de que a sociedade repense suas atitudes no trânsito. “O trânsito é, talvez, o principal problema de saúde atualmente. Não adianta o poder público realizar ações se a população não se conscientizar que a mudança parte dela. A cada dia, jovens estão morrendo ou ficando com sequelas graves devido aos acidentes de trânsito, um problema que reflete nos outros setores da saúde”, afirmou.