Cotidiano

Vacina ajuda a reduzir mais de 90% de casos de câncer do colo do útero

Mesmo com eficácia comprovada da vacina, adolescentes não procuram a vacina contra o HPV

Apesar de Roraima estar em primeiro lugar no ranking nacional de cobertura vacinal contra o vírus do papiloma humano (HPV), o índice nacional de vacinação ainda é muito baixo em todo o país. Consequentemente, os números de casos de câncer do colo do útero, principal doença causada pelo vírus, são altos no Brasil.

Para a médica Mônica Levi, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim), os resultados são um reflexo de uma série de mitos e inverdades relacionadas à vacina contra o HPV, iniciadas com a implantação da vacina no Brasil e dos métodos de rastreamento do público-alvo do câncer do colo do útero, as mulheres entre 25 e 64 anos. “Esses dois métodos combinados têm a capacidade de redução de 94% no risco de câncer cervical na vida de uma mulher”, esclareceu.

De acordo com Mônica, o objetivo primário da vacinação é combater o câncer do colo do útero e, por tabela, prevenir as outras doenças como o câncer de ânus, vulva, vagina, pênis, garganta e verruga genital, também causados pelo HPV. A maior eficácia da vacina é observada na população mais jovem, vacinados antes da iniciação sexual.

A vacina é responsável pela redução de 90% das taxas de infecção pelos quatro tipos de HPV contidos na vacina quadrivalente. A especialista explicou ainda que a vacina é eficaz em 100% dos casos para o grau 3, na lesão pré-cancerosa. Nas verrugas genitais em mulheres, a eficácia é de 96,4%; de lesão pré-cancerígena em ânus é de 77,5%; e verrugas genitais em homens, de 89%.

BAIXA ADESÃO – Mesmo com a comprovação da eficácia da vacina, as pessoas, principalmente os adolescentes do sexo masculino, não estão se vacinando. “Em 2014 foram recomendadas três vacinas para os adolescentes de modo geral. Cerca de 80% dos jovens tomou a vacina tríplice bacteriana contra a difteria, tétano e coqueluche. Mas somente 57% das meninas tomou a primeira dose da vacina contra o HPV e 38% fez o esquema completo. Nos meninos, a procura foi menor ainda: 35% tomou a primeira dose e só 14% completou o esquema. Os pais e adolescentes se vacinam contra as outras doenças, mas não contra o HPV”, comentou.

Para ela, um dos motivos da baixa adesão é a falta de noção de quão grave pode ser a infecção pelo HPV e no que ela pode se transformar. “Os pais têm uma preocupação muito maior do calendário de vacinação da criança e não com o adolescente. Além disso, falar sobre a vacina também é uma forma de introduzir o tema da iniciação sexual dentro de casa e nem todas as famílias estão preparadas para ter essa discussão”, disse.

“A falta de orientação dos profissionais da saúde complica a cobertura da vacina, mídias sensacionalistas, redes sociais difundindo informações irreais e o entendimento do que pode ser um comportamento adverso colateral da vacina e o que é puramente considerado como histeria e medo de vacinação, tudo isso, contribui para a nossa dificuldade de ter uma população vacinada”, completou Mônica.

RASTREAMENTO – Para a médica Diama Vale, do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), outra situação que influencia nos casos de câncer do colo do útero é o rastreamento.

Segundo a especialista, nos anos 70 e 80, na Inglaterra, a incidência de casos da doença era parecida com o que se apresenta no Brasil nos dias de hoje, com 16 a cada 100 mulheres diagnosticadas e, mesmo com a intensificação de campanhas de prevenção e realização do exame papanicolau, que pode detectar o tumor em estágio inicial, o quadro não sofreu mudanças.

“Em 1988, eles decidiram incluir um sistema organizado de rastreamento se baseando na convocação da paciente individualmente por meio de carta. A mulher na faixa etária alvo recebe uma correspondência sendo convocada para realizar o exame. Quando eles introduziram esse sistema, o número de casos despencou para menos de cinco casos a cada 100 mulheres e aumentou a cobertura de 40% para 80% no país”, salientou Diama.

No Brasil, o sistema adotado é o sistema oportunístico, ou seja, a realização do papanicolau se dá pela avaliação da própria mulher em fazer ou não o exame. “Em outras localidades é papel do Estado convocar. Aqui, toda a culpa da não participação é colocada na mulher e o poder público se exime da responsabilidade, o que não deveria acontecer”, pontuou Diama.

Por fim, Mônica Levi disse acreditar que a melhor forma de combate seria aliar os dois métodos. “O sistema de saúde poderia acabar com câncer do colo do útero se a gente trabalhasse em sintonia, com vacina e o rastreamento. Só assim teríamos chance de conseguir a cobertura vacinal na população e a redução dos índices de câncer nas mulheres brasileiras”, ressaltou. (P.C)