A época de inverno costuma causar impacto nos mais diversos setores da economia. Mas a construção civil é, sem dúvida, a mais afetada nesse período. Esse efeito dominó pode ser visto de diversas formas, desde a elevação do preço de alguns produtos à paralisação de obras por conta das constantes chuvas no Estado.
Nas lojas de materiais de construção, por exemplo, a procura por tijolos tem sido cada vez mais difícil. É que boa parte da produção local vem de polos produtores, como a Vila Vintém, município do Cantá, que fica próxima às margens do Rio Branco, e que tradicionalmente fica coberta pela água.
Com a produção interrompida devido à invasão do rio nas fábricas, muitos comerciantes estão sentindo dificuldades para encontrar o produto, que é essencial para qualquer tipo de obra. Gerente de uma loja no bairro Caimbé, Clindenor Bispo afirmou que o período chuvoso costuma ser bastante impactante para as vendas, resultando em uma queda estimada de aproximadamente 10%.
Além dos tijolos, a procura pelo cimento, segundo ele, também costuma ser bastante impactada nesse período.
“A venda de tijolos na loja se dá sempre conforme a demanda. Não é um produto de destaque, mas temos muitos clientes que solicitam, e quando isso ocorre, a empresa tem um fornecedor local para atender. Temos até um lucro considerável com esse produto, mas o inverno costuma afetar essas vendas, aliás, não só os tijolos, mas também a compra de cimento”, comentou.
Como todo o setor recua, e a procura pelo pelos produtos diminuem, o preço pouco varia da época mais quente para o período de chuva. Atualmente, o milheiro do tijolo na loja do Caimbé é comercializado a R$ 500,00, uma diferença de apenas R$10 antes das chuvas. Já o cimento por lá é vendido por R$ 31,00 o saco, produto este que vem do estado vizinho, Amazonas.
Da mesma maneira que nos estabelecimentos da zona Oeste, a queda nos lucros também pode ser sentida em lojas situadas em áreas nobres, como no bairro Caçari, zona Leste da cidade e área com bastantes construções residenciais e comerciais.
Por lá, o milheiro do tijolo pode ser encontrado ao preço de R$ 410,00 (R$ 350,00 no valor promocional). Já o cimento tem saído por R$ 36,95, sendo um produto adquirido de distribuidoras locais.
Apesar disso, os impactos negativos nos estabelecimentos da zona Leste são maiores que na zona Oeste, podendo chegar a até 25%, segundo destacou Anderson Morais, gerente de vendas de uma loja no bairro Caçari.
“Mesmo a nossa loja tendo fábrica própria, a produção fica comprometida da mesma forma. Há uma dificuldade natural do tijolo secar e as pessoas não costuma arriscar a fazer construções nesse período, acaba tendo prejuízo pela falta do sol. Não que a gente não consiga vender, mas a entrega costuma ficar mais demorada por conta disso”, disse.
O vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de Roraima (Sinduscon-RR), Clerlânio Holanda, informou que atualmente o Estado possui aproximadamente 500 empresas com CNJP voltado para a área de construção civil, embora muitas delas não exerçam essa função.
Sobre os reflexos do período chuvoso no setor, o sindicalista disse a FolhaWeb que grande parte das construtoras costumam adotar ações preventivas para garantir o andamento das obras, sendo a mais comum a redução de pessoal.
“Nesse sentido, as opções mais utilizadas são a demissão de funcionários ou a instituição de férias para os trabalhadores mais antigos, já que o custo nas obras costuma ser impactado em até 5%”, relatou.
Ainda segundo Holanda, para cumprir os prazos nesse período, muitas construtoras costumam evitar trabalhar com obras que requerem a execução de trabalhos complexos, como terraplanagem e construção de fachada, ou executar um plano de obras por etapa.
“Mesmo com algumas dificuldades, as empresas locais tentam ao máximo cumprir todos os prazos de obras, aproveitando os poucos momentos de sol para tentar avançar em algumas construções, mas é indiscutível os impactos, que o setor como um todo, sofre nesse período”, concluiu.