Um estudo da cadeia da construção, encomendado pela Associação Brasileira da Indústria dos Materiais de Construção (Abramat), revelou que o mês de abril foi ruim para a indústria e para vendas de lojistas de materiais na região Norte. As vendas, assim como os empregos, apresentaram queda no mês em comparação aos números apresentados em 2014. Estes são os dados mais recentes divulgados pela Abramat.
As vendas de materiais de construção da indústria para o comércio caíram, em média, 6,2% em abril em comparação com o mesmo mês do ano anterior. Já em comparação a março de 2015, houve retração de 5,4%.
Segundo a Abramat, a situação de vendas da indústria de materiais na região Norte deve ser ainda pior nos próximos meses, com níveis de retração acima da média nacional, que é de 7% de queda para o primeiro semestre.
A Folha foi a quatro lojas de material de construção e ouviu dos gerentes que a crise no setor de construção civil no Estado vem refletindo nas vendas deste ano, que, segundo eles, caíram 10% neste primeiro semestre do ano. A volta da inflação, a greve dos servidores da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e a falta de dinheiro circulando no mercado foram os motivos apresentados pelos entrevistados.
“Estes fatores levaram a uma queda de mais ou menos 10% nas vendas e temos que enfrentar isso com equilíbrio e criatividade para trazer o cliente de volta para a loja, com promoções e divulgação na mídia”, disse o gerente de uma loja no bairro 31 de março.
Embora tenha destacado que não espera melhora em curto prazo. “Nem o Governo Federal tem perspectiva de melhora, e como Roraima ainda não tem indústrias fortes e vive na economia do contracheque, ainda vamos passar por essa crise por mais um tempo”, frisou o gerente.
Já o gerente de uma loja no bairro Aparecida, José Manoel, disse que já está fazendo promoções de até 20% em alguns itens desde o mês de março para tentar manter as vendas aquecidas, mas que amarga uma queda de 10 a 15% nas vendas em relação ao mesmo período do ano passado.
“É um conjunto de fatores que vem ocasionando essa queda nas vendas, entre elas a falta de dinheiro no comércio devido a essa crise que está em todo o Brasil, as chuvas que começaram e as pessoas adiam as pequenas reformas nas suas casas”, disse.
Os principais produtos em promoção são os mais procurados para construção e pequenas reformas, como telhas, cimento e massa corrida. (R.R)
Construção civil lidera lista de demissões no primeiro semestre do ano em Roraima
A crise financeira por que passa o País chegou a Roraima e os reflexos já podem ser vistos nos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, referentes a contratações e demissões com carteira assinada nos principais setores em Roraima nos seis primeiros meses do ano, que apresentam menos 853 postos de trabalho em relação ao mesmo período de 2014.
No topo da lista aparece a construção civil como o setor que mais demitiu este ano. Foram 1.861 demissões de janeiro a junho deste ano, contra 1.131 admissões no mesmo período. O que representa um saldo negativo de 730 postos de trabalho. Em 2014, foram apenas 84 postos de trabalho a menos.
Outro setor que apresentou grande número de demissão foi o comércio, que fechou os primeiros seis meses deste ano com saldo negativo, de 348. Foram 5.279 contratações e 5.627 demissões. De janeiro a junho de 2014, este setor apresentou saldo positivo de 887 postos de trabalho com 9.753 contratações e 8.866 demissões.
Depois aparece a administração pública com saldo de 40 demissões, tendo 15 contratações e 55 desligamentos. No mesmo período de 2014, foram 170 novos contratos e 68 demissões, fechando com saldo positivo de 102 novas contratações.
Por fim, aparece a indústria da transformação, com 466 admissões e 486 demissões, com saldo negativo de 20 postos de trabalhos. De janeiro a junho do ano passado, o saldo era positivo, de 68 postos de trabalho, com 987 novas vagas contra 919 demissões.
Por outro lado, outros setores apresentaram evolução em novas contratações. O trabalho em extrativismo mineral contratou 13 trabalhadores e demitiu oito, fechando o semestre com saldo positivo de cinco postos. O serviço da indústria apresentou 243 contratações contra 156 demissões, o que resultou em 87 novos postos de trabalho. O setor de serviços contratou 3.942, demitiu 3.751 e fechou o semestre com saldo positivo de 191. E a agropecuária contratou 126 trabalhadores e demitiu 124. O saldo foi de dois novos empregos. Nos seis primeiros meses do ano de 2014, este setor havia fechado com saldo negativo de 145 empregos. (R.R)
Presidente do Sinduscon diz que setor está passando por uma “tempestade”
A Folha conversou falou com o vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de Roraima (Sinduscon-RR), Clerlânio Holanda, sobre as demissões que o setor vem sofrendo desde o início do ano. Para justificar a demanda, Holanda ressaltou a crise em todo Brasil e destacou que em Roraima existe uma “tempestade” diante de tantos fatores que levaram o setor a demitir mais de 700 trabalhadores nestes seis primeiros meses do ano.
“Estamos passando por uma tempestade em Roraima e estas demissões são algo impactante para o setor, que deveria estar e ascensão, mas, ao contrário, estamos demitindo devido à crise que o País tem vivido”, disse. “E o motivo principal é o ajuste fiscal do Governo Federal. As taxas de juros fizeram cair os investimentos no setor de construção civil e isso ocasionou demissões desde o início do ano”, frisou.
Ele ressaltou que o setor no Estado vive sem perspectivas de novas sobras e o reflexo disso impacta nas empresas que deixam de planejar e projetar novos investimentos. “Isso tem seus custos, e, sem perspectivas, além de não planejar investimentos, o empresário acaba demitindo e é por isso que hoje somos o setor que mais demitiu em números absolutos no Estado, e isso nos preocupa”, frisou.
Outros pontos destacados pelo empresário são quanto às novas regras do Governo Federal e postas em prática pelos bancos, sobre as regras de liberação de recursos para a casa própria, além do contingenciamento de recursos para obras do próprio governo.
“A liberação de recursos está mais difícil, as taxas de juros têm aumentado e isto tem afetado a construção civil”, disse. “Já o contingenciamento do Governo Federal tem feito algumas obras pararem e o empresário fica esse período sem receber”, disse.
Clerlânio disse que o setor tem perspectiva de voltar a crescer com o anúncio do lançamento do programa “Minha Casa, Minha Vida III”, que deve acontecer em setembro pela presidente Dilma Roussef. “Esse programa tem feito com que toda a cadeia produtiva da construção se beneficie e, se for lançado agora, o reflexo do aumento no número de postos de trabalho talvez aconteça a partir de janeiro de 2016”, disse. (R.R)