Cotidiano

Vendedor de picolé junta R$ 1,8 mil em moedas e dá de entrada em terreno

Obstinado a ter sua própria moradia, picolezeiro trabalhou sem folga e conseguiu juntar o valor da entrada do imóvel só em moedas

“Posso pagar em moedas”? Foi essa a pergunta que o vendedor de picolé Oseias Robson dos Santos, de 31 anos, fez ao corretor de imóveis ao anunciar como daria entrada no financiamento do primeiro terreno, que fica localizado na zona Rural de Boa Vista. Na quinta-feira, 07, ele procurou a imobiliária após ter juntado, durante um ano e dois meses, pouco mais de R$ 1,8 mil em moedas de diferentes valores.

A história ganhou repercussão nas redes sociais depois que o proprietário da imobiliária postou, em sua conta no Facebook, a forma inusitada de como o vendedor realizou o pagamento da entrada do lote. À Folha, Oseias relatou que trabalhou de domingo a domingo, sem descanso, para conseguir juntar o dinheiro.

“Eu saía todo dia, às 05h30, para vender picolés em comunidades de municípios próximos, na região de Mucajaí e Alto Alegre. O meu sonho era poder comprar esse terreno. Às vezes, a moto quebrava e eu voltava para casa depois da meia-noite, não tinha folga”, disse.

O vendedor é natural de Rondônia, mas contou que mora em Roraima desde pequeno. “Sou de uma família humilde, cresci trabalhando na roça. Parei os estudos porque arrumei família e me casei. Comecei vendendo bombons e pães caseiros, depois fui para o garimpo, mas fui obrigado a parar. Quando surgiu a ideia de vender picolé, percebi que na cidade havia muita concorrência, então decidi ir para o interior.

Continuei acreditando e juntei todas as economias que entravam”, lembrou.

Oseias mora de favor na casa de um amigo no loteamento João de Barro, extensão do bairro Cidade Satélite, na zona Oeste, onde fabrica os picolés. “Meu maquinário também é cedido, inclusive o sistema de selar a embalagem de picolé é feito com um chapinha de cabelo, tudo de forma improvisada. Todo dia, quando eu chegava em casa, sempre somava as moedinhas e guardava”, frisou.

Emocionado, o picolezeiro, que tem um filho pequeno e se casará em breve, afirmou que abdicou de várias coisas para juntar o dinheiro. “A vontade de gastar existia, mas a vontade de possuir meu terreno sempre falou mais alto. Era tudo o que eu queria, agora espero conseguir guardar mais moedas para começar a construir minha casa”, declarou.

Moedas eram guardadas em galões de combustível e sacos plásticos

A humildade do vendedor de picolé emocionou a todos. Sem ter um lugar apropriado para guardar as moedas, o corretor de imóveis que fez a venda do terreno a Oseas, Valmir Amaral, comentou que recebeu o dinheiro armazenado em um galão de combustível e sacos plásticos.

“Quando ele contou que pagaria em moeda, fiquei preocupado. Quando chegamos para pegar o dinheiro, ele veio com um galão cheio de moedas. Fiquei muito emocionado, porque tem tanta gente reclamando da vida e ele conseguiu realizar o sonho”, disse.

Para o proprietário da imobiliária, Erasmo Sabino, o picolezeiro é um exemplo a ser seguido. “Nunca tinha visto um gesto como esse. É um exemplo de trabalhador digno. Em meio a tanta gente fazendo maldade, roubando e invadindo terrenos, ele trabalhou para conseguir realizar o sonho”, destacou.

Comovidos com o caso, empresários locais já doaram materiais de construção, além de carradas de areia e barro, para que o picolezeiro possa iniciar a construção da casa própria. (L.G.C)