A fronteira da Venezuela com o Brasil, entre as cidades de Santa Elena do Uairén e Pacaraima, ao Norte de Roraima, permanecerá fechada até a próxima segunda-feira, 19, por determinação de um novo decreto presidencial de Nicolás Maduro, que fechou a fronteira de seu país com o Brasil e Colômbia na terça-feira passada, dia 13.
No primeiro decreto, Maduro determinou o fechamento da fronteira por 72 horas. O argumento do presidente é de “combater as máfias” que fazem contrabando da moeda nacional, o bolívar, e também de vários produtos, inclusive gêneros alimentícios, o que estaria provocando a escassez dessas mercadorias em seu país.
Maduro também alega uma conspiração contra seu governo. Ele acusa que grupos da “direita” da Colômbia e do Brasil estão contrabandeando bolívar na tentativa de desestabilizar a economia venezuelana. Como já é comum em seus discursos, o presidente acusa uma ONG norte-americana de “patrocinar” esses supostos grupos mafiosos.
Para tentar evitar o suposto golpe, Maduro, também por decreto, tirou esta semana de circulação a cédula de 100 bolívares, a maior do país. A Venezuela enfrenta a pior crise financeira de sua história e sua moeda vem perdendo valor com a alta inflação. Esta semana, por exemplo, um dólar americano chegou a valer mais de 700 bolívares.
No documento, Maduro lamenta o fechamento das duas fronteiras, admitindo que a decisão é drástica, mas lamentavelmente, segundo ele, foi a medida que encontrou para garantir a economia e soberania de seu país. (AJ)
Brasileiros e venezuelanos cruzam a fronteira por estradas clandestinas
Com a fronteira fechada por mais 72 horas, muitos brasileiros que moram na Venezuela estão enfrentando dificuldades. Quem se aventurou a fazer turismo no país vizinho em tempo de crise também começa a ter problema. O dinheiro está acabando, ou já acabou, e os brasileiros estão impedidos de sair. Por isso, muitos tentam cruzar a fronteira por estradas clandestinas e trilhas no meio do lavrado.
A autônoma Valdenora Maia, de 45 anos, que mora há três anos em Pacaraima, disse por telefone, ontem pela manhã, que a situação se complica cada vez mais nas cidades de Santa Elena e Tumeremo devido ao fechamento da fronteira. “Os brasileiros estão com medo até de sair de casa. Santa Elena virou uma cidade fantasma. Os comerciantes fecharam as lojas com medo de saques”, relatou.
Os brasileiros estavam cruzando a fronteira por uma estrada que passa pela comunidade indígena de San Antonio del Morichal, em Santa Elena do Uairén. Esta rota é muito utilizada por contrabandistas de combustível. Em Pacaraima, os “pampeiros” a chamam de “estrada do Miang”, que sai próximo ao lixão do município. Mas, segundo informações de brasileiros “ilhados” em Santa Elena, a Guarda Venezuelana montou barreira e bloqueou esta semana a estrada.
“Tem brasileiro lá que foi fazer turismo, o dinheiro já acabou e agora ele está sem poder voltar porque a fronteira está fechada. Imagina a situação, a dificuldade que essa gente está passando num país em crise. Quando eles poderão voltar?”, questionou a autônoma.
ITAMARATY – Em nota, o Itamaraty informou que a Embaixada do Brasil em Caracas recebeu apenas uma nota verbal do Ministério para Relações Exteriores da Venezuela sobre a decisão do governo venezuelano de fechar a fronteira entre Brasil e Venezuela.
Na nota, a chancelaria venezuelana explica que a decisão se deve “à extração ilícita de notas da moeda venezuelana”. O Itamaraty afirmou que “não nos cabe comentar a questão relacionada a aspectos internos do país vizinho”. (AJ)