Prestes a completar dois anos em Boa Vista, Carol Formaniak é um exemplo de recomeço. Natural de Ciudad Bolívar, na Venezuela, ela decidiu vir para o Brasil com o marido e o filho quando percebeu que a situação no país ia piorar com a crise política. Por ter dupla nacionalidade, chegou a pensar, que conseguir se instalar e garantir um emprego seria uma tarefa fácil após deixar toda uma vida para trás, mas logo percebeu que a parte mais fácil seria sair da própria casa.
Carol se formou em Direito no ano de 1999 e, desde o primeiro dia, trabalhou na área. Ao chegar a cidade de Boa Vista com tudo que conseguiu trazer da casa de Ciudad Bolívar, alugou um apartamento com um quarto, banheiro e cozinha, organizou brevemente a mudança e voltou para buscar o filho. A partir daí, foram dois meses em busca de um emprego na área da Advocacia, mas nenhuma ligação foi recebida.
Depois de muitos currículos entregues e nenhum retorno, ela tomou a decisão que mudou tudo. “Como já havia trabalhado como assistente administrativa na Venezuela, tirei toda a formação de Direito do currículo e voltei a entrega-lo pela cidade”, disse. Não demorou muito para Carol receber a ligação de um supermercado localizado na zona norte da cidade oferecendo uma vaga de operadora de caixa. Carol trabalha no local até hoje.
Pouco tempo após começar como operadora, a venezuelana foi promovida como fiscal de caixa. Prestes a completar um ano no trabalho, Carol saiu do supermercado para tentar outro emprego. No entanto, a tentativa não deu certo e ela voltou a trabalhar como operadora de caixa. Três meses após o retorno, recebeu uma promoção e passou a trabalhar no setor de Recursos Humanos do supermercado. Com mais três meses de atuação, foi promovida a subgerente, função que atua até hoje.
Atualmente, Carol não sente vontade de advogar em Boa Vista, tendo em vista a necessidade de dinheiro e toda a burocracia para revalidar a documentação e alterar a língua, além da prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Para ela, que está com as contas em dia e com tudo certo em casa, atuar na área do Direito não está dentro dos projetos. “Também não pretendo sair de Boa Vista. Me sinto bem aqui”, relatou.
Ela destacou que tem ouvido muitas pessoas falarem sobre a discriminação que os venezuelanos estão passando no Estado. No entanto, Carol conta que não passou por nenhuma situação semelhante durante os quase dois anos morando na Capital. “Meus colegas e meu chefe me tratam com respeito. Com um ano e sete meses de trabalho eu já fui promovida três vezes. Eu não tenho do que reclamar, pelo contrário, estou agradecida”, finalizou. (A.G.G)