Cotidiano

Venezuelanas são aliciadas para se prostituírem na Capital de RR

Policiais encontraram 16 mulheres que vieram da Venezuela e estavam vivendo da exploração sexual; três delas estavam sem documento

Em cumprimento a mandados expedidos pela Justiça, a Polícia Federal (PF) desencadeou, no final da noite de quarta-feira, a operação “La Sombra”. A ação visa desarticular um esquema de tráfico internacional de mulheres venezuelanas e guianenses para o Brasil com a finalidade de exploração sexual.

Em entrevista coletiva na manhã de ontem, a delegada responsável pelo inquérito, Denisse Dias, afirmou que as investigações foram iniciadas há dois meses. Cinco estabelecimentos, localizados no bairro Caimbé, na zona Oeste da Capital, nas proximidades da Feira do Passarão, foram alvos da ação.

A operação se originou primeiramente com o recebimento de denúncias de que mulheres da Venezuela, fronteira Norte do Estado, e da Guiana, a Leste, estariam sendo exploradas sexualmente aqui na Capital. “Vale destacar que quando uma investigação envolve estabelecimentos em âmbito local, a atribuição de verificação é da Polícia Civil. A Polícia Federal entra quando o aspecto passa a tratar do envolvimento de pessoas estrangeiras”, disse Denisse.

Como foi denunciado que havia envolvimento de mulheres venezuelanas e que possivelmente elas estariam tendo passaportes retidos ou sendo coagidas nessas casas, a PF resolveu não aprofundar tanto as investigações, partindo para a execução de uma medida imediata, conforme a delegada.
Ao todo, segundo as investigações, 16 mulheres vindas da Venezuela foram encontradas. Todas, incluindo as pessoas que estavam presentes no momento da operação, foram conduzidas de forma coercitiva para a sede administrativa da PF para prestar esclarecimentos. Houve ainda a prisão de um foragido da justiça que estava em um dos estabelecimentos alvo da ação.

“Não houve nenhum tipo de resistência por parte de donos de estabelecimentos ou frequentadores, até pelo fato do nosso aparato de fiscalização ter sido planejado para abordar um público de 200 pessoas, que é aproximadamente o número total de frequentadores desses locais. Não constatamos nenhuma guianense ou menor de idade nesses recintos. Apenas uma pessoa foi presa por responder por tentativa de homicídio”, afirmou a delegada.

Venezuelanas entraram no Brasil como ‘turistas’ e têm idade de 19 e 20 anos

Das 16 mulheres encontradas pela Polícia Federal, três delas estavam em situação irregular no País. As demais estavam no País como “turistas”. A grande maioria delas, segundo a delegada, tinha entre 19 e 20 anos de idade.

“O procedimento de imigração foi adotado e, mesmo aquelas que tiveram, a priori, uma entrada regular como turista, a gente suspendeu o ‘permiso’ delas e notificamos para que elas deixassem o País em oito dias. Se elas forem localizadas aqui no Estado, após o término desse prazo, elas serão deportadas e entregues às autoridades da Venezuela”, destacou a delegada Denisse Dias.

Ainda de acordo com a delegada, a maioria das mulheres veio para o Estado por conta da crise financeira no país vizinho, sendo atraídas pela facilidade de conseguir dinheiro por meio da prostituição. Cada programa custava em torno de R$ 100,00, por meia hora, sendo que, desse valor, R$ 20,00 ficavam para o proprietário do estabelecimento.

“Existe uma difusão dessa informação nas cidades vizinhas próximas da fronteira, como, por exemplo, em Santa Elena de Uairén. A maioria das pessoas que mexem com esse tipo de trabalho faz esse tipo de articulação, principalmente por estarem cientes de que a Polícia Federal é vigilante sobre esse tipo de situação”, complementou.

“Então, eles fazem essa divulgação e depois voltam para Boa Vista e elas [mulheres], por seus próprios meios financeiros, vêm procurar esses ambientes para desconfigurar o aliciamento financeiro e material do transporte. Cada uma fazia em torno de quatro a cinco programas por dia, sendo esse um capital que elas não conseguiriam levantar em seu país de origem”, pontuou Denisse.

INQUÉRITO – As investigações deverão ser estendidas por todo o Estado. A delegada disse que todo o inquérito deverá ser encerrado até a próxima semana. Caso comprovado o envolvimento dos donos dos estabelecimentos, eles poderão ser indiciados pelos crimes tráfico internacional de pessoas para fim de exploração sexual, favorecimento à prostituição e rufianismo. A pena pode chegar a 21 anos de prisão.

“Como se trata de um crime habitual, a gente tenta demonstrar primeiramente a materialidade dessa situação. Nós já tínhamos as diligências sendo realizadas e faltava o depoimento das mulheres. Passamos agora com a fase de relatoria, com a análise de todas as provas coletadas. As questões documentais, como alvará de funcionamento, nós faremos hoje e amanhã, até por seguir uma ordem de investigação”, frisou.

Ontem foi executada a operação policial, que foi focada na questão de segurança e procura de ilícitos imediatos. “Depois a gente parte para a questão administrativa. Os estabelecimentos não ficam impedidos de abrir, mas acredito que farão isso apenas como bar, uma vez que já foram produzidas provas documentais acerca dessa situação [exploração sexual]”, disse Denisse.

LA SOMBRA – O nome da operação, La Sombra, remete à forma obscura com que o crime de tráfico de pessoas é praticado. As tratativas são realizadas às escuras, com falsas promessas de uma vida de luxo e ostentação, quando na realidade as mulheres aliciadas se tornam vítimas de violência, maus-tratos e abusos de toda ordem. Na maioria das vezes, elas não têm a quem recorrer e sofrem caladas na escuridão de um quarto onde são exploradas. (M.L)