Cotidiano

Venezuelanas superlotam única maternidade do Estado

Há seis meses em Roraima, a engenheira civil venezuelana, que atua no Brasil como manicure, Angely Brismayo, de 24 anos, se sente privilegiada por ter tido sua filha no Brasil. Segundo ela, estando aqui, ela e o bebê tiveram a garantia de um atendimento integral e seguro, o que não seria possível em seu país de origem.

Internada após ter tido parto natural, Angely elogiou o atendimento recebido na unidade. “Descobri minha gravidez quando já estava no Brasil e fiquei feliz, porque sei que no meu país, nós não teríamos o atendimento que tivemos aqui”, disse.

O atendimento a pacientes venezuelanas não é uma novidade, mas se intensificou nos últimos meses. Outras 848 mulheres venezuelanas procuraram o Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN) para atendimentos de emergência e internação cirúrgicas de janeiro até agosto deste ano. Desde 2015, foram 1.609 atendimentos na unidade.

Um exemplo foi o parto de alto risco da mãe de trigêmeos, Joana Montilla, 31 anos. Ela foi internada na maternidade após ter sido encaminhada pela atenção básica do Município de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, onde fazia o acompanhamento pré-natal. Durante mais de um mês, as crianças receberam todo o cuidado e representam um caso de sucesso no atendimento de prematuros na unidade.

SUPERLOTAÇÃO – O atendimento a pacientes venezuelanas tem contribuído para piorar o problema da superlotação no HMINSN, que é a única maternidade pública do Estado com serviço de atendimento de emergência ginecológica e obstétrica. Com uma média de 900 partos por mês, está entre as unidades do país que possui maior volume de partos.

Neste período do ano (setembro/outubro/novembro), a unidade vive um momento crítico que já é sazonal, com um incremento significativo na demanda de pacientes vindas de todo o Estado, áreas indígenas e países vizinhos. Com o aumento na demanda, a unidade teve que providenciar macas e poltronas extras para tentar suprir a necessidade.

AJUDA – Com o aumento expressivo do atendimento em função do fluxo migratório venezuelano, o Governo de Roraima vem arcando praticamente sozinho com esta demanda.

Após solicitação do Governo de Roraima e intermediação da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, no mês passado, uma equipe da Força Nacional da Saúde esteve no Estado e os representantes puderam ver de perto esta situação. Foi elaborado um relatório situacional e, até o momento, o Governo do Estado aguarda uma resposta do Governo Federal às demandas do Estado.

Hospital terá mais de 40 leitos nos próximos meses

O Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth deve começar 2017 com uma nova enfermaria com cerca de 33 leitos, após a mudança do Centro de Referência da Saúde da Mulher para sua sede própria, que está prestes a ser inaugurada. Além disso, diante do aumento expressivo na demanda registrada na única maternidade do Estado, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) está implantando mais 16 leitos na unidade, por meio do remanejamento de leitos de outras unidades hospitalares do Estado.

As macas já estão na Capital, mas precisaram ser revitalizadas antes de serem encaminhadas para a unidade. A maternidade terá de fazer pequenas adequações no espaço físico para que os leitos sejam de fato implantados na unidade, o que deve ocorrer ainda neste mês.

Atualmente a unidade possui 280 leitos, incluindo os da Unidade de Terapia Intensiva. De 2006 a 2016, houve um incremento de aproximadamente cinco mil partos na unidade e, em contrapartida, não foram criados novos leitos para atender a esta demanda. A unidade deve fechar o ano com mais de 10 mil partos realizados.

Já existe um projeto em andamento para o Hospital Regional Sul Ottomar de Sousa Pinto, em Rorainópolis, ser ampliado para criação de uma maternidade no sul do Estado, com 43 leitos, por meio de uma emenda parlamentar do deputado federal Remídio Monai. Com essas medidas, pretende-se reduzir a demanda na maternidade da Capital.

Neste ano, foi inaugurada a Casa da Gestante, que abriga pacientes que necessitam de uma permanência prolongada na unidade e não têm onde ficar. Isso ajudou a evitar que até 20 leitos da maternidade ficassem ocupados por essa demanda, agora atendida na Casa.