A grave crise econômica que assola a Venezuela fez com que o engenheiro civil Andrés Micheli, de 24 anos, deixasse o município de Puerto Ordaz, no Estado de Bolívar, onde nasceu, e migrasse para Boa Vista em busca de melhores oportunidades no mercado de trabalho. Apesar de ter formação superior, a dificuldade em dominar o português foi a principal barreira para que o venezuelano conseguisse um emprego em sua área. Em fevereiro deste ano, quando deixou o país vizinho, conseguiu uma vaga de treinee de supervisor em uma rede de varejo na Capital.
A crise no país vizinho é tão grande que o engenheiro afirma que ganha, no Brasil, o suficiente para sustentar ele e a família. “Eu cheguei aqui em fevereiro porque a situação na Venezuela está muito ruim, está difícil de sobreviver. Eu sou formado em engenharia, mas lá não tem emprego. Vim para Boa Vista e conheci essa empresa que me deu oportunidade de crescer e ajudar minha família lá”, disse.
Como treinee, ele recebe quase três vezes mais do que ganhava como engenheiro. “Eu decidi sair de lá porque o emprego paga muito pouco para quem é formado e não dava para eu fazer minha vida. O que eu ganhava lá não chegava nem perto do que ganho aqui”, afirmou.
Junto com outros três colegas de trabalho, que também são estrangeiros, o venezuelano entrou em um curso de línguas para aperfeiçoar o português. “Comecei a fazer o curso há quatro meses e agora consigo entender o que as pessoas falam. Ser treinee é um cargo importante e em médio prazo pretendo aprender a língua”, ressaltou.
SELEÇÃO – O gerente de recursos humanos da rede de varejo que contratou Andrés, Renato Castro, afirmou que estrangeiros de vários países têm procurado emprego na empresa. “Na verdade, não são apenas venezuelanos. Tem gente do Uruguai, da Argentina e, recentemente, até uma pessoa da Itália nos procurou em busca de emprego”, disse.
Segundo ele, os estrangeiros que buscam uma oportunidade possuem formação em áreas da saúde, técnica e educacional. “Existem pessoas da área da saúde que chegam de monte, mas não é a nossa área. Não adianta eu empregar alguém dessas áreas porque não temos vagas para isso. Somos empresa de varejo e precisamos de pessoas para áreas funcionais e de atendimento”, explicou.
Conforme o gerente, o domínio da língua tem sido a principal dificuldade encontrada pelos estrangeiros para conseguir emprego. “Algumas pessoas estão fazendo curso de língua portuguesa, se especializando. A gente nota que muitos têm formação muito boa, mas tem a barreira da língua, aqueles que têm a condição econômica e visão tratam de buscar o que falta, que é o conhecimento da língua portuguesa”, destacou.
SINE – Os estrangeiros que não têm conseguido uma vaga de trabalho diretamente nas empresas, têm recorrido ao Sistema Nacional de Emprego (Sine), por meio do Departamento de Políticas de Emprego, Trabalho e Renda da Secretaria de Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes).
Segundo o chefe de intermediação de mão de obra do órgão, Nailton Távora, cerca de 20 estrangeiros realizam cadastro mensalmente em busca de oportunidades. “Temos recebido, a maioria venezuelanos, só que a dificuldade que eles têm encontrado ao chegar ao Sine é a questão da documentação, até para nós fazermos um registro deles”.
Para serem cadastrados no sistema, os estrangeiros precisam obter a Carteira de Trabalho. “Alguns têm o passaporte, mas precisam de RG e outras documentações para efetuar o cadastro. Eles precisam ter carteira de trabalho para poder concorrer às vagas”, informou.
A área de serviços gerais é a que mais abre vagas para estrangeiros em Roraima. “Algumas empresas têm buscado, mais voltado para as áreas de serviços gerais, temos percebido que essa área tem contratado mais. A construção civil também tem dado oportunidades, é uma boa mão de obra”, frisou. (L.G.C)