Cercados por todos os lados com tapumes colocados pela Prefeitura de Boa Vista no final de semana passado, os imigrantes venezuelanos que estão abrigados na Praça Simón Bolívar ainda esperam a transferência para um abrigo. Hoje, cerca de 800 pessoas vivem de forma insalubre naquela praça, sem condições de higiene e tendo que pagar para tomar banho.
Eles alegam que, na inexistência de banheiros públicos no local, pagam R$ 2,00 para tomar banho em um posto de gasolina próximo à praça. Quando precisam fazer as necessidades fisiológicas, eles usam sacos plásticos dentro das barracas. “Nós não somos animais”, disse o venezuelano de El Tigre, Felix Villanueva. Para ele é desumano a forma como estão sendo tratados. “Não estamos aqui porque queremos. A situação de nosso país é desesperadora. Estamos aqui para buscar trabalho e mandar dinheiro para quem ficou lá”, disse.
O clima no local é tenso. Os venezuelanos divergem quanto à colocação dos tapumes. Para uns, a praça ficou mais segura. “Antes dormíamos com medo dos brasileiros que passavam de carro e jogavam pedras e paus na gente”, disse Angel Sandoval, de 40 anos. Para outros se tornou uma prisão. “Quando precisamos ir ao banheiro à noite, somos impedidos pelos guardas”, contou Jamon Contreras.
A situação piora quando chove. Segundo Jamon, há partes da praça que alaga, formando poças. “Isso aqui não é vida. É vergonhoso para nós, que já tivemos um país tão rico e lugar de turismo para os próprios brasileiros e agora estamos aqui mendigando pão, trabalho e até um local para fazer nossas necessidades”, lamentou o jovem venezuelano, que está em Roraima desde fevereiro com a esposa e o filho.
Segundo um dos líderes locais, Angel Sandoval, cerca de 1.900 imigrantes estavam na praça antes da transferência para abrigos. Dos que continuam no local, cerca de 300 estão usando a pulseira verde, que significa que foram cadastrados e esperam vagas para participar do processo de interiorização. E o restante espera para ir para os abrigos disponíveis na cidade.
Sandoval explicou que muitos querem ficar em Roraima porque é mais perto da Venezuela. “Temos família na Venezuela e o que ganhamos aqui dividimos com eles para que pelo menos tenham o que comer por lá”, disse ele.
Em nota, a Prefeitura de Boa Vista esclareceu que a Praça Simón Bolívar foi cercada com tapumes para garantir a segurança das pessoas que hoje vivem no local. Informou ainda que a administração municipal e o Exército Brasileiro buscam a retirada de todas as pessoas da praça, o mais breve possível. “Enquanto isso, a Guarda Civil Municipal está dando apoio no controle de entrada e saída das pessoas, principalmente no horário da noite, para coibir a entrada de drogas, além de prostituição e violência no local”, afirmou. (C.O)