FABRÍCIO ARAÚJO
Colaborador da Folha
Centenas de venezuelanos se reuniram em Boa Vista durante a manhã de ontem, 23, em um protesto contra a permanência de Nicolás Maduro na presidência. Os manifestantes caminharam da Praça das Águas até a do Centro Cívico, onde ficam o Palácio Senador Hélio Campos e a Assembleia Legislativa (ALE), com o intuito de chamar a atenção dos governantes e pedir que o Brasil faça pressão sobre o regime do ditador.
A manifestação foi alinhada aos protestos que ocorreram no país vizinho pelo mesmo motivo, em que milhares de pessoas foram às ruas. Em Boa Vista, cerca de 300 imigrantes protestaram segurando bandeiras da Venezuela, com suas cores (vermelho, amarelo e azul) pintadas no rosto, caixas de som, cantando músicas sobre liberdade e com gritos de ordem pedindo a derrubada do atual regime.
Um dos organizadores do ato em Boa Vista, Leandro Argüello, explicou que seus familiares e amigos que ainda estão na Venezuela consideram a situação do país insuportável desde terça-feira, 22, e que, mesmo sob a ameaça de represália e tiros, a população perdeu o medo e foi às ruas mostrar que Maduro não tem seu apoio.
“Quase quatro milhões de venezuelanos estão fora da Venezuela. Este governo de Maduro está no poder com apenas um pequeno grupo da população, quase 90% está contra. Ele foi eleito de forma ilegal e o povo não o reconhece como presidente”, declarou Argüello.
Entre os manifestantes, a Folha encontrou dois perseguidos políticos pelo regime de Nicolás Maduro. Um deles é Franciovy Hernandez, secretário geral do partido “Primeira Justiça”, que foi eleito vereador no pleito passado, mas teve de fugir do país por causa da perseguição que sofria e em busca de melhores condições de saúde para sua esposa, pois já não tinham mais acesso a remédios na Venezuela.
Hernandez declarou ainda que o único problema do país são as más políticas adotadas, porque são totalitárias. Informou ainda que sempre sofreu perseguição dos policiais por se opor ao que acontece lá.
Outra perseguida política é Leonor Mato, que possuía um restaurante na Venezuela, mas já não tinha condições de manter o estabelecimento funcionando porque faltavam alimentos. A venezuelana contou ainda que foi perseguida no país, desapropriaram a sua casa, tomaram a sua fazenda, queimaram seu carro e apontaram uma pistola para sua cabeça duas vezes somente por “pensar diferente”.
“Nós estamos aqui porque a nossa Venezuela, que é um país tão lindo, foi destruída por estes ditadores. Chávez e Maduro acabaram com o nosso país e nos colocaram para passar por todas as necessidades. E porque não apoiamos a sua ditadura, nos mantinham presos para não manifestarmos”, relatou Leonor Mato.
O dia de 23 de janeiro é histórico para os venezuelanos. Nesta mesma data, em 1958, o governo do general Marcos Peres Jiménez foi derrubado após dez anos no poder.
“Assim como hoje, em 1958, caiu outro ditador e estamos celebrando este dia porque também será a caída de Nicolás Maduro”, afirmou Mato. (F.A)