Venezuelanos recebem kits para trabalho empreendedor

A chance de recontar a própria história motivou mais de 3,4 milhões de venezuelanos a deixarem o país de origem em busca de novas oportunidades, conforme apurado pela Agência da ONU para Refugiados (Acnur). Após fugir da crise política e humanitária, achar uma forma de geração de renda em meio a tanta gente voltou a ser um desafio. 

Na manhã de ontem, 4, 11 deles receberam a oportunidade de começarem pequenos empreendimentos para gerarem renda para as famílias e outras pessoas em situação de crise. Com o projeto “Caminhos de Solidariedade”, a Cáritas Diocesana de Roraima entregou “kits comércio” com equipamentos de trabalho.

A cerimônia ocorreu na sede da Cáritas, ao lado da Igreja Cristo Redentor. Os kits tinham material para jardinagem, bicicleta para produção de carvão, manicure, pipoqueira, e foram montados com doações do Fundo Nacional de Solidariedade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). 

“Devido à grande crise migratória, a Diocese de Roraima faz esse projeto como resposta. Nós, do Eixo de Vida, apoiamos esses pequenos empreendimentos para poderem começar a produzir e ter mais dignidade. Eles ficam muito felizes porque são pessoas que chegam a Roraima e não têm acesso ao mercado de trabalho por estar muito escasso”, relatou Gilmara Ribeiro, gerente de projeto.

Segundo ela, foi feita uma avaliação criteriosa após um cadastro na entidade. Após isso, é feita uma espécie de escuta com os beneficiados e analisado se há qualificação ou capacitação para o empreendimento e ainda se está em algum abrigo ou em situação de rua. Após isso, é estudada qual melhor forma de empreendimento pode ser feita de acordo com o perfil do interessado.

Já foram 150 pessoas cadastradas na Cáritas e em maio serão abertas novas inscrições para quem tiver interesse em receber os kits. Os procedimentos serão aplicados da mesma forma, que se completa com uma visita social para avaliar os critérios de recebimento do material. 

NOVO TRABALHO – Cindy Pereira, de 28 anos, ainda recorda o dia que chegou caminhando a Boa Vista em 2018. Depois de deixar uma funerária e uma empresa de contabilidade, ela não tinha dinheiro para comer ou se sustentar.

 “Quando cheguei, eu não sabia o que ia ser. Consegui R$ 6 e a única coisa que pensei foi em vender pipoca. Os primeiros dias foram difíceis porque não tinha cliente. Mas depois, começaram a comprar”, disse emocionada.

Com muito esforço, ela conseguiu ir para a Praça das Águas e Praia da Polar vendendo sacos de pipoca por R$ 1 para competir com a concorrência. 

“Consegui mandar dinheiro para minha família e comprei uma bicicleta. Eu estou muito feliz, estou muito grata! Vai continuar sendo R$ 1 porque é o meu contrato com Deus”, completou. 

O sentimento de gratidão é também da nova manicure Yederlin Mercedes, de 33 anos, que comemora agora ter equipamentos de esterilização para oferecer o melhor serviço para as clientes. 

“Sou muito agradecida às pessoas da Cáritas. Ganhei esse empreendimento, então agora é trabalhar! Está tudo novo, tudo limpo! As mulheres não gostam se não estiver tudo limpo, então agora é certeza que está tudo certo”, garantiu. A manicure tem dois filhos, sendo que um deles continua na Venezuela e não tem vontade de vir para o Brasil por causa do idioma. Com a oportunidade de trabalhar, ela revela que vai conseguir mandar dinheiro para a família.