Os moradores de Pacaraima viveram um dia de tensão, revolta e violência, nesse sábado, 18. O que iniciou na parte da manhã como uma movimentação pacata de brasileiros insatisfeitos com o episódio ocorrido na sexta-feira, 17, onde um comerciante foi agredido dentro de sua casa, supostamente por venezuelanos, resultou na expulsão de centenas de refugiados da cidade, e a intervenção da força segurança nacional.
De acordo com o Exército Brasileiro, 1,2 mil imigrantes atravessou a fronteira de volta para Santa Elena de Uairén, cidade venezuelana que faz fronteira com Pacaraima. Segundo a organização do manifesto, a estimativa é que tenham sido mais de 3 mil.
Ao longo do sábado, a revolta da população devido ao crescimento exponencial da violência, com emprego de armas e tráfico de drogas na cidade, derivados da crise migratória, foi demonstrada por meio da destruição com fogo das barracas improvisadas e dos pertences dos imigrantes. Até mesmo uma retroescavadeira foi usada pelos manifestantes, para destruir as estruturas improvisadas, alegando que com isso, os venezuelanos não teriam nenhuma condição de retornar a Pacaraima.
Um dos moradores e colaborador do movimento, Simeão Peixoto, contou à Folha que o município está pedindo socorro ao governo federal há mais de dois anos, e que até o momento, nada foi feito para solucionar problemas relacionados ao crescimento de demandas na área da saúde e segurança pública.
“Pacaraima é um município pacato, mas aconteceram aqui três mortes por decapitação em uma semana. Na sexta-feira, um comerciante foi espancado dentro da sua casa por quatro venezuelanos. Quantos já morreram? Quantos ainda irão morrer? Quantos de nós ainda seremos espancados por imigrantes dentro das nossas casas? Estamos sendo reféns de estrangeiros dentro do nosso próprio país”, denunciou.
Simeão também destacou que a movimentação não é contrária à ‘Operação Acolhida’, que vem sendo responsável pelo atendimento e interiorização de imigrantes em Roraima. Entretanto, ressalta que o município merece tanta atenção quanto os refugiados, em meio à crise migratória.
“O Exército só tem a visão do acolhimento dos venezuelanos, não enxerga os problemas que o povo de sua própria pátria enfrenta. Nós gostamos da ‘Operação Acolhida’, e acreditamos que o trabalho da Força Nacional nisso é exemplar. Mas nós, como moradores de Pacaraima, somos ignorados, e por isso estamos entregues à violência”, lamentou.
O fotógrafo amador, Isac Dantas,fez o registro da manifestação, cedendo o material para a Folha de Boa Vista. Ele frisou que esse é um momento importante para os rumos que a crise migratória no estado pode tomar.
“A população encontrou durante a manifestação, armas brancas e munições, mostrando que há venezuelanos de má índole aqui na cidade. Eu tive minha máquina quebrada durante o tumulto, mas consegui pelo menos ter os registros desse momento histórico, que mostra Pacaraima dando uma mensagem direta para o governo federal”, afirmou.