Venezuelanos ocupam cada vez mais os espaços públicos na Capital. Para não ficarem ao relento, eles se abrigam em quiosques de praças, prédios abandonados, mercados e na rodoviária. Há um quiosque desativado no complexo poliesportivo Ayrton Senna, na frente do Ginásio Totozão, no Centro, que virou morada para meia dúzia de venezuelanos. Lá, eles têm banheiro e um local aparentemente tranquilo para dormir.
Quando amanhece, o grupo se dispersa e cada um vai atrás de trabalho. “Não temos onde ficar, por isso ficamos aqui. Mas não somos bandidos, somos trabalhadores, gente do bem. Só queremos um trabalho e uma chance na vida”, disse o empacotador venezuelano Juan Arantes, de 29 anos.
A rotina do grupo é quase sempre a mesma. Quando amanhece, eles saem para pontos diferentes da cidade para trabalhar nas esquinas movimentadas. Na hora do almoço, vão andando até o Centro de Referência ao Migrante, no bairro São Vicente, zona Sul. À tarde, voltam ao mercado informal de trabalho. À noite, mais uma vez retornam ao Centro, jantam e depois andam até o quiosque na praça.
Na frente do quiosque, outros venezuelanos buscam abrigo no interditado Ginásio Totozão, que fica dentro das dependências do Parque Anauá, onde alguns quiosques desativados também servem como moradia para os estrangeiros. Lá, eles utilizam os banheiros e tomam banho no Lago dos Americanos.
Dois venezuelanos também encontraram abrigo na feirinha do bairro São Vicente, zona Sul. Eles alegaram a mesma coisa: que não tinham onde dormir. “Aqui a gente dorme mais tranquilo porque tem vigia. A gente ajuda os feirantes a limparem o mercado e lavarem os banheiros. Então a gente ganha um trocado”, relatou um deles.
Os venezuelanos também dormem na Rodoviária Internacional de Boa Vista, no bairro 13 de Setembro, zona Sul. Na sexta-feira, dia 9, a polícia recolheu dezenas de estrangeiros que fizeram morada na Feira do Passarão, no bairro Caimbé, zona Oeste, mas eles não foram deportados por determinação da Justiça Federal. A maioria voltou a dormir nas dependências da feira. (AJ)
Prefeitura diz que faz abordagens sociais
Em nota, a Prefeitura de Boa Vista ressaltou que a atenção aos imigrantes estrangeiros implica, prioritariamente, na regularização de sua permanência no País, o que cabe à Polícia Federal. Mesmo assim, a Prefeitura tem promovido abordagens sociais de rua a fim de fazer a orientação e encaminhamentos necessários, porém, a inclusão em programas e projetos sociais requer a regularização.
Segundo a nota, toda e qualquer pessoa que possua situação regular no Brasil pode receber todos os benefícios no País, o que já vem sendo feito pela Prefeitura de Boa Vista, principalmente na área da educação. Cerca de 50 crianças de origem venezuelana estudam na rede municipal de ensino.
Na saúde, ainda conforme a Prefeitura, somente nos meses de agosto, setembro e outubro, 4.356 venezuelanos, independente de situação legal, foram atendidos nas unidades básicas de saúde de Boa Vista. A Prefeitura informou que tem consciência da complexidade do momento vivido pela Venezuela, mas salienta que os recursos do município não comportam nenhuma ação abrangente com referência a essa situação, pois a imigração sem controle pode causar impactos sérios no desenvolvimento da Capital.
A PMBV informou que essa é uma questão que envolve ainda a esfera estadual e principalmente o Governo Federal, uma vez que se trata de imigração desordenada, problema enfrentado hoje por vários países e que requer ações conjuntas de todos os governos.
Governo intensifica assistência a venezuelanos
O Governo de Roraima informou que desde outubro tem intensificado a assistência aos imigrantes venezuelanos com a criação do Gabinete Integrado de Gestão Migratória (GIGM), que planeja e executa ações conjuntas envolvendo 15 secretarias e órgãos de governo.
Há duas semanas o governo criou o Centro de Referência ao Imigrante, que funciona na sede do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil e do Mobiliário (avenida Surumu, 1769, no bairro São Vicente), como ponto de apoio aos imigrantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Equipes do governo estão recolhendo e orientando essas pessoas, além de oferecer assistência.
No Centro, são atendidos, em média, 300 venezuelanos por dia, com oferta de alimentação, consultas médica e odontológica, corte de cabelo e vacinação, descartando a necessidade de essas pessoas ocuparem espaços públicos. Já foram cadastrados mais de 2.500 venezuelanos.
A governadora Suely Campos (PP) decretou, por 180 dias, Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional nos municípios de Pacaraima (porta de entrada dos venezuelanos, Norte de Roraima) e Boa Vista, onde se concentra o maior número dessa população. Estima-se que aproximadamente 30 mil venezuelanos tenham migrado para Roraima. O decreto busca assegurar a prestação contínua de serviços de saúde aos usuários do SUS (Serviço Único de Saúde).