Cotidiano

Veteranos de Medicina da UFRR obrigam calouros a usar orelhas de burro

Calouros de Medicina substituem fotos de calouros nas redes sociais por ‘declaração de burrice’

Os alunos calouros do curso de Medicina da UFRR agora são conhecidos como “Calouro Burro” em sua linha do tempo do Facebook.

É que eles entraram agora na faculdade de Medicina da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e estão cumprindo as ordens de seus veteranos.

Os trotes extrapolam as brincadeiras nos campi e chegaram ao universo virtual mostrando uma realidade vexatória e assustando os internautas.

Trocar o nome para “Calouro Burro Fulano de Tal” é requisito obrigatório para os calouros sejam ‘aceitos’ no primeiro dia de aula como integrantes do curso.

Segundo o Facebook, os calouros ainda terão que passar dois meses com os nomes falsos na rede, que determina um prazo mínimo de 60 dias para que seja feita uma nova alteração.

A maior parte dos novatos acham graça no trote, mas alguns reclamam. Em conversa com a Folha alguns dos alunos disseram se sentir coagidos e obrigados a entrarem nas brincadeiras sob pena de serem excluídos dentro da academia.

Uma aluna do curso de Medicina, que optou por se manter anônima, não quis participar e conta que se sentiu mal.

“Queria o trote mas me sinto humilhada com essa orelha de burro na minha foto e se tirar sei que sofrerei represália dos novos colegas e estou entrando agora, então me senti coagida a participar. O bom seria se a faculdade proibisse, mas não foi rechaçado o trote na gente, então aceitei pela pressão social, fazer o que?”.

Expulsão ou advertência

Na maioria das universidades do país o trote humilhante e vexatório foi proibido e se desenvolve uma prática educativa voltada para aplicação do trote solidário.

Em casos parecidos com o de Roraima, onde o trote se torna vexatório , a maioria das instituições usa a Comissão de Ética para tomar as devidas providências, que podem partir de uma simples advertência ou mesmo a expulsão do aluno envolvido.

OUTRO LADO

A reportagem da Folha procurou o coordenador do curso de Medicina da UFRR, o professor Dr. Antonio Carlos Sansevero Martins, mas ele não atendeu a reportagem.

A reportagem também procurou a reitoria da UFRR e a Administração Superior da Universidade Federal de Roraima (UFRR) manifestou o seu repúdio à prática de atividades desenvolvidas na recepção dos calouros que levam a condutas coercitivas e de humilhação pública de alguns dos novos estudantes. O caso foi denunciado pela FolhaWeb, que relatou o trote promovidos por acadêmicos de Medicina da instituição. 

Na nota, a Administração Superior da UFRR ressaltou ainda que tais procedimentos pontuais e sem precedentes não fazem parte da vida acadêmica saudável, nem da conduta de alunos e, por isso, atitudes como as relatadas na reportagem, uma vez registradas por professores, técnicos e alunos, precisam ser combatidas e até denunciadas nas instâncias competentes internas e externas à instituição, com punição dos responsáveis. “Atos abusivos que envolvam riscos à saúde e a moral dos estudantes são reprovados, lamentáveis e terminantemente proibidos em todas as instâncias e campi”, destacou.

A instituição ressalta ainda que, assim como qualquer manifestação dentro de uma instituição de ensino superior, a recepção dos calouros deve ser dedicada ao conhecimento do novo mundo em que os estudantes estão agora inseridos. “No caso do tradicional ‘trote’, prática usual no âmbito dos cursos de graduação das universidades, não há como aceitar a exposição inadequada de quaisquer pessoas, sabedores que somos de que há inúmeras maneiras inteligentes de se organizar a recepção, como é o caso do “Trote Solidário”.

“A UFRR destaca que este é um momento em que toda a comunidade acadêmica deve receber os novos estudantes de forma respeitosa e encorajadora, entendendo que todos vencemos as etapas necessárias para se chegar a este novo universo de transformação humana e de postura social”, concluiu.