Cotidiano

VÍDEO: Yanomami cobram maior segurança e falam do medo de represália

No registro, eles negam que houve mortes no conflito, mas dizem que tem medo de sofrerem um novo ataque

Os indígenas yanomami cobram a presença de forças de segurança na comunidade Palimiu, após o conflito armado registrado na manhã de ontem, 10. Em vídeo divulgado pela Hutukara Associação Yanomami (HAY), os indígenas deram maiores detalhes sobre o tiroteio e dizem ter medo de represália de garimpeiros.

Em vídeo gravado nas margens do Rio Uraricoera, no qual a FolhaBV teve acesso, um grupo de indígenas fala sobre o conflito na região. No registro, eles negam que houve mortes no conflito, mas dizem que tem medo de sofrerem um novo ataque.

“Meu nome é Jonatas e eu sou aqui dessa comunidade. Aqui que teve tiroteio hoje de manhã, foi 11h e acabou. Dez minutos de tiroteio. É muito tristeza aqui, entendeu, por causa desses garimpeiros. Os garimpeiro chegaram três barcos e dez pessoas com armado, com pistola de 12. Eles atiram nós, mas ninguém morreu, graças a Deus. Mas estamos muito tristes, muito preocupados, muito medo. Que amanhã, eu quero que os polícia cheguem aqui, pra cá, vem logo. Estamos muito com medo, muito mesmo, precisamos que vocês vem aqui amanhã. Segurança, Funai também. Ibama. Nós precisamos isso. Estamos muito com medo por causa desses garimpeiro”.

VEJA VÍDEO:

Em outro vídeo, do qual a FolhaBV também teve acesso, um suposto garimpeiro relata o ocorrido. Ele diz que estava chegando em uma canoa na região, quando escutou outro barco passando e tiros. “Eu não entendi direito. Quando eu desci da canoa, já chegou outra já disparando. Eu não olhei pra trás. Já fui correndo e caindo no rio”, diz.

HUTUKARA – O presidente da HAY, Júnior Herukari, afirma que pode acontecer um novo massacre contra os indígenas em Roraima. “O povo yanomami está correndo um risco muito grande”, alertou.

O representante ressaltou ainda que esteve na localidade na tarde de ontem, logo após o ocorrido e que retornou para Boa Vista com mais informações para os órgãos de fiscalização, inclusive, com parte das munições deflagradas no tiroteio. Especialistas ouvidos pela FolhaBV dizem que se tratam de munições calibre .12 e calibre .20 para espingarda, calibre .40 de pistola e calibre de fuzil 762.

Nesta terça-feira, a Polícia Federal (PF) e o Exército Brasileiro informaram que agentes estão em deslocamento para Roraima. O relato é que a PF abriu investigação para apurar o caso.


Munições foram entregues para órgãos de fiscalização (Foto: Associação Hutukara)

Cooperativa de Garimpeiros de Roraima nega envolvimento em conflito

O presidente da Cooperativa dos Garimpeiros de Roraima, Josias Licata, negou a informação de que o conflito foi entre os garimpeiros e os indígenas. Segundo ele, as informações ainda estão sendo apuradas e uma nota oficial deverá ser divulgada em breve pela cooperativa, após os membros conseguirem ir até o local.

No entanto, a informação levantada até o momento, é que se trata de um outro conflito na região, que deverá ser apurada pela Polícia Federal e o Exército Brasileiro. “Nesse local não existe nenhum garimpeiro. Garimpeiro não está aí, está dentro do mato”, disse.

O presidente da cooperativa reforçou ainda que os garimpeiros são contra violência e que não apoiam o conflito, afirmando ser à favor de um termo de ajustamento de conduta (TAC) para adequar as regras para mineração no estado.

“Se sentasse com as associações de garimpeiros e os representantes indígenas, para firmar um tac de ajuste de conduta, para poder chegar em um resultado mais plausível e mais confortável para todos os lados. Garimpeiro não quer briga com indígena, garimpeiro só pensa em trabalhar”, disse.

ENTENDA – A Hutukara Associação Yanomami (HAY) relatou à Fundação Nacional do Índio (Funai); à Polícia Federal em Roraima (PF/RR), à 1ª Brigada de Infantaria da Selva do Exército (1ª Bis) e ao Ministério Público Federal em Roraima (MPF), por meio de ofício, um tiroteio que ocorreu nesta segunda-feira, 10, em um local conhecido como Base dos Americanos, localizado na comunidade Palimiu, na Terra Indígena Yanomami, envolvendo garimpeiros e indígenas.

No documento, assinado pelo vice-presidente da Hutukara, Dário Vitório Kopenawa Yanomami, relatou ainda que sete barcos de garimpeiros atracaram por volta das 11h30 da manhã e atacaram indígenas da comunidade Palimiu, dando início ao tiroteio no local, em conflito aberto por cerca de meia hora.

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