Cotidiano

Wizard diz que é preciso priorizar interiorização

O empresário afirmou que não vê uma solução em médio prazo para a Venezuela e acredita que a crise de migração em Roraima pode até aumentar

O empresário Carlos Wizard, idealizador do programa ‘Brasil do Bem’ que já interiorizou mais de seis mil imigrantes que viviam nas ruas de Boa Vista para estados das regiões Sul e Sudeste, disse em entrevista à Folha que é necessário rever urgentemente o conceito, o modelo e o direcionamento da Operação Acolhida em Roraima. Segundo o empresário, a operação atendeu os requisitos no início, mas perdeu o foco e passou a ser uma ação assistencialista para imigrantes.

“É uma questão de foco, de objetivo e de propósito. Enquanto o imigrante está sendo acolhido, aparentemente tudo está bem, mas na prática não está tudo bem”, disse. “Nos abrigos tem pessoas que estão há seis, oito meses, um ano, recebendo três refeições por dia, remédios, ambulância, atendimento médico, e as Forças Armadas dando segurança nos abrigos; e assim as pessoas se acostumam a essa vida tranquila e perdem a iniciativa. A operação virou assistencialista e a última coisa que queremos é criar abrigos em Roraima com conceito de assistencialismo”, ressaltou. “Temos que criar um modelo que gere autonomia e que seja responsável pelo próprio sustento”, disse. “Além de aumentar a interiorização, embora saibamos que nem todos querem interiorizar e preferem ficar próximo à fronteira para poder um dia voltar à Venezuela”, disse. 

Para justificar, Wizard disse que a necessidade da Acolhida era no início, com ordenamento da fronteira, acolher o imigrante e providenciar a interiorização. “Só que o tempo passou e a interiorização ficou em segundo plano; e o que aconteceu foi um grande trabalho de acolhimento a ponto de termos 13 abrigos superlotados e que estão como uma panela de pressão, prestes a explodir a qualquer momento”, afirmou.

“Temos que mudar o foco da Operação Acolhida e o momento da mudança de comando é oportuno para colocar isso em prática”, disse, se referindo ao anúncio da saída do general Eduardo Pazuello e a chegada do general Antonio Manuel de Barros, que deve assumir o comando da operação em janeiro. 

“Tenho o máximo de respeito e até admiração pelo trabalho que o general Pazuello fez. No entanto, no início do próximo ano o general Antonio Manuel de Barros vai assumir a Operação Acolhida. E aproveitamos o momento para mudar o nome e o foco da Acolhida e promover mais interiorização”, afirmou. 

Ele afirmou que não vê uma solução em médio prazo para resolver os problemas políticos na Venezuela e a crise de migração em Roraima pode até aumentar. 

“Lamentavelmente o cenário só vai piorar e mostro três razões para acreditar nisso. A primeira é que a situação da Venezuela está cada vez pior e não há nenhuma perspectiva de mudança no cenário político e estrutural do país; segundo, todos aqueles que já vieram para o Brasil e estão trabalhando, com filhos estudando, recebendo tratamento médico, eles deixaram parentes na Venezuela, e claro que vão querer trazê-los para cá e aumentar o fluxo de migração em Roraima e; a terceira é que os demais países, Colômbia, Peru, Equador, Chile, Argentina não oferecem os mesmos benefícios que o Brasil, como carteira de trabalho, de saúde, CPF, direitos como refugiados, enquanto os outros países estão fechando as portas”, afirmou. (R.R) 

Empresário cobra olhar diferenciado para Roraima 


Programa prevê aumento de interiorização de imigrantes  (Foto: Arquivo Folha )

O empresário Carlos Wizard disse que participou de uma reunião, na semana passada, com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Nesse encontro, Wizard disse que informou ao ministro sua preocupação de que o movimento migratório venezuelano vai aumentar em Roraima, falou sobre riscos de manter os abrigos na condição atual e sobre aumentar o número de venezuelanos interiorizados.

Ele destacou ainda que pediu que o Governo Federal tivesse um olhar diferenciado para o Estado e sobre a difícil situação que passa a saúde, segurança, educação devido à migração desenfreada. 

“Falta de investimentos por parte do Governo Federal e a necessidade de ter um olhar diferenciado para Roraima, uma vez que o Estado é porta de entrada para o estrangeiro e, embora não seja destino, mas boa parcela dos imigrantes acaba ficando no Estado por falta de opção de ir para outros estados, que seja através da Operação Acolhida ou porque simplesmente ficam em ocupações irregulares, clandestinas e perambulando pelas ruas”, afirmou.

Ele disse que detalhou para Lorenzoni o objetivo e atuação final da Operação Acolhida no Estado. “Fiz um raio x da Operação Acolhida e é algo que me preocupa o fato de termos 500 militares e mais de 100 homens envolvidos e um orçamento milionário de aproximadamente 500 milhões em dois anos e quando observa que esse orçamento é para cuidar de seis ou sete mil abrigados e se compara ao orçamento de Boa Vista, com R$ 750 milhões, para cuidar de 350 mil habitantes, se parece que há um desequilíbrio nesta proporção”, disse. “E principalmente quando se observa o objetivo da Operação Acolhida, que até propus ao ministro Onyx mudar o nome para Operação Interiorização”, afirmou.

Ele disse que o ministro prometeu duas coisas: primeiro que vai levar os fatos ao conhecimento do presidente Bolsonaro, para que possa tomar medidas, e o outro ponto foi garantir que vai fazer uma visita a Roraima nos próximos 30 dias.

Plataforma ajuda na interiorização

O empresário disse que lançou uma plataforma que vem ajudando a encontrar empregos e moradias para os imigrantes em todos os estados do Brasil, a www.brasildobem.com.br, onde as pessoas podem acessar e participar da adesão.

“Os líderes empresariais, religiosos e comunitários podem entrar e se candidatar a acolher uma família, oferecer emprego ou aluguel social e é desta forma que já tivemos contato com muitos líderes de vários segmentos do país que apoiam a interiorização”, disse. 

Ele explica que o trabalho de interiorização é especificamente para famílias, pelo fato de ser mais sólida e responsável. “O programa que desenhamos e praticamos é focado na família, na unidade familiar, por ser mais fácil ser acolhida, que tem um chefe que vai trabalhar para sustentar a família”, disse.

Ele disse que esteve participando de um evento cristão, em São Paulo-SP, na semana passada, onde teve a oportunidade de falar do projeto de imigração de Roraima.

“Tive a oportunidade de palestrar no evento para milhares de pessoas e convidei os pastores para participar desse trabalho de acolhimento dos imigrantes. Em novembro vou participar de outro encontro no Rio de Janeiro e vou falar do projeto para outros líderes religiosos que vão abrir as portas”, disse. “Além de ter sido atendido pela primeira dama Michele Bolsonaro, que gravou um vídeo pedindo aos pastores para aderirem à campanha”, disse.

Wizard já tem experiência de interiorização de imigrantes em Roraima. Ele é idealizador e executor de um programa de interiorização de imigrantes que vem fazendo num trabalho silencioso e sem grandes alardes em Boa Vista, mas com grande alcance social: o ‘Brasil do Bem’, que já ajudou mais de seis mil imigrantes que viviam nas ruas de Boa Vista.    

“O programa se enquadra na condição de sociedade civil. É formada por igrejas, quer sejam Católicas, Adventistas, Batista, Espírita, De Jesus Cristo dos Últimos Dias, Universal do Reino de Deus, Quadrangular. Não tem barreiras quando fala de acolhimento. O trabalho é ecumênico, todos participam e nenhum defende uma bandeira específica”, afirmou. “E cada vez que interiorizo uma família de imigrantes estou beneficiando esta família e o estado de Roraima. E se tivéssemos mais agilidade com a interiorização, teríamos mais tranquilidade no Estado, e acredito que só assim podemos dar estabilidade a Roraima”, disse. (R.R)