Indígenas yanomami alertaram para a situação de extrema tensão em seu território, após um incidente que, segundo informes, terminou na morte de dois garimpeiros ilegais supostamente envolvidos no sequestro de duas garotas de uma aldeia, informou a Agência de Notícias AFP.
“Solicitamos que seja ajuizada alguma ação, uma vez que a situação se agravou de tal forma que o caos social se instalou, e a atividade criminosa caminha para sair do controle das forças de segurança”, afirma um comunicado do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Yekuana (Condisi-YY, na sigla em espanhol) direcionado às autoridades brasileiras.
O texto, que também foi encaminhado à Polícia Federal e ao Exército, atuantes nesta região do estado de Roraima, é datado de 10 de dezembro. Foi distribuído aos meios de comunicação somente nesta quinta-feira (17). O Condisi-YY afirma que os garimpeiros sequestraram duas meninas de 15 e 16 anos em setembro e que seus familiares foram resgatá-las no acampamento para onde haviam sido levadas.
“Não é a primeira vez que isso acontece. Eles raptaram as duas meninas e levaram para suas barracas. A família não gostou e foi atrás, mas os garimpeiros disseram que não entregariam as meninas. Então, os Yanomami, com suas próprias armas, atiraram nos garimpeiros”, afirmou o presidente do Condisi-YY, Junior Hekuari Yanomami.
Dois garimpeiros ilegais morreram, e as meninas foram resgatadas, acrescentou. O conflito, entre cerca de 50 indígenas e uma dezena de garimpeiros, aconteceu em Surucucu, na Terra Indígena yanomami, a quase 300 quilômetros de Boa Vista, capital de Roraima.
O Condisi-YY obteve somente em dezembro a informação do ocorrido na aldeia, localizada no coração da Amazônia e de difícil acesso. “Existem relatos de que, possivelmente, haverá um ataque dos garimpeiros na comunidade acima citada”, acrescenta Hekurari Yanomami, que assina o documento.
Questionado pela AFP, o batalhão do Exército em Roraima disse não ter jurisdição sobre o caso, enquanto a Polícia Federal de Roraima ainda não respondeu ao pedido de informações sobre o ocorrido na terra yanomami, que abriga cerca de 27 mil indígenas em um área de 96.000 km2.
Associações indígenas e ONGs afirmam que há cerca de 20.000 garimpeiros ilegais em terras yanomami, incentivados pelo apoio do presidente Jair Bolsonaro às atividades extrativas e agrícolas dentro da floresta tropical.
O governo estima em cerca de 3.500 o número de garimpeiros na área. A região tem uma história de décadas de invasões por garimpeiros ilegais, que trazem consequências como doenças, conflitos e danos ambientais. Atualmente, a proximidade dos garimpeiros também ameaça espalhar o novo coronavírus.
Com informações do Portal Uol Notícias