O Estado de Roraima vai receber 85 viaturas e mais de 200 militares em meio à criação do 18º Regimento de Cavalaria Mecanizado, antecipada em um ano por causa da crise entre Venezuela e Guiana em torno da disputa pelo território guianense de Essequibo.
Das viaturas, 28 são blindadas, sendo 14 guaicurus, oito guaranis e seis cascavéis – esses dois últimos são espécies de tanques. Com isso, o complexo da 1ª Brigada de Infantaria de Selva passará a ter 56 veículos reforçados. Os outros carros a caminho de Roraima são operacionais, de apoio e de escolta.
Neste mês, Roraima recebeu 16 viaturas blindadas multitarefas leve sobre rodas do modelo Guaicuru, que percorreram mais de seis mil quilômetros pelo País. Esse veículo foi projetado para situações que incluem o emprego em operações de reconhecimento, missões de segurança e ações contra forças irregulares.
O novo comboio se concentrou na sexta-feira (12), no 20º Regimento de Cavalaria Blindado de Campo Grande (MS) e a viagem, feita por etapas, começou no dia seguinte. Duas unidades de marcha já deixaram a capital sul-mato-grossense e devem totalizar aproximadamente 4,6 mil quilômetros de percurso até a capital de Roraima.
Segundo o Comando Militar do Oeste (CMO), o percurso inclui quase três mil quilômetros terrestres e 1,6 mil quilômetros de rios, com passagem por Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Amazonas além do próprio estado que faz fronteira com Venezuela e Guiana.
O primeiro comboio que já embarcou está previsto para chegar a Porto Velho no dia 18, enquanto o segundo no dia seguinte. Na cidade rondoniense, os grupos vão embarcar em embarcações do Comando Militar da Amazônia (CMA), com destino a Manaus. Apenas esse trajeto de rios deve demorar oito dias. O CMO não divulgou previsão de chegada a Boa Vista.
Crise entre os vizinhos
Em dezembro, o país venezuelano aprovou a anexação de 74% do território guianense ao País governado pelo ditador venezuelano Maduro. Essequibo é uma região conhecida por ser rica em petróleo e minerais. A controvérsia, que já dura mais de 100 anos, está sob julgamento da Corte Internacional de Justiça (CIJ).
No mês passado, Venezuela e Guiana se comprometeram a não usar a força na disputa pelo território sob domínio guianense. No entanto, a situação pareceu voltar à instabilidade após o Reino Unido enviar um navio para a aliada Guiana, o que para Maduro, soou como uma provocação. Em resposta, o ditador venezuelano mobilizou 5,6 mil militares para a fronteira com o vizinho.
A Venezuela chegou a pedir que a Guiana evite de se “envolver potências militares na controvérsia territorial”. O exército de Maduro, caso decida invadir a Guiana por terra, precisaria passar pelo território brasileiro, cortando Pacaraima, Normandia e Bonfim, em Roraima, em percurso que totalizaria mais de 350 quilômetros.
Os Estados Unidos chegaram a oferecer ajuda para desenvolver o Exército guianense, mas a Guiana informou à Venezuela que recusou a proposta e informou ao vizinho de que não há planos para os norte-americanos implantarem uma base militar no país sul-americano. O presidente guianense Irfaan Ali já esclareceu que seu País não pretende realizar qualquer ação ofensiva contra a Venezuela, mas manifestou interesse de desenvolver as capacidades defensivas do País.
Com o envolvimento americano na controvérsia, Maduro acusou o país vizinho de agir como uma “velha Guiana Britânica, agora colônia britânica sob as ordens dos gringos, que vão lá e fazem o que querem como se estivessem em casa. Não se metam com a Venezuela”.
O Brasil defende uma saída pacífica para a controvérsia, não pretende permitir a entrada de militares de qualquer país para agressões. Por conta disso, tem reforçado a fronteira com os vizinhos. O País deve sediar, em até três meses, uma nova reunião entre Maduro e Ali.