Economia

Brasil tem recorde de entrada de venezuelanos pelo 3º mês seguido

Em apenas três meses de 2023, País registrou 32% do número contabilizado em entradas de migrantes e refugiados em todo o ano passado. Diretor de relações instituições de ONG relaciona atual situação econômica no País vizinho à nova onda migratória

Pelo terceiro mês seguido, o Brasil bateu recorde na entrada de venezuelanos em seu território. Em março de 2023, 17.471 migrantes entraram no País. O levantamento é da OIM (Organização Internacional para as Migrações).

O número, que considera principalmente as entradas pela fronteira em Pacaraima, no Norte de Roraima, representa aumento 0,32% em relação ao mês anterior e 3% em comparação a janeiro deste ano.

O total de estrangeiros que entraram no País em março deste ano é o maior registrado desde março de 2021, quando a OIM passou a disponibilizar os dados mensais da migração venezuelana no Brasil.

Em apenas três meses de 2023, o Brasil registrou a entrada de 51.838 migrantes e refugiados. Isso representa 32% do registrado em todo o ano passado.

Diretor de relações institucionais da ONG Casa Venezuela, que cuida do acolhimento de venezuelanos no País, Tomás Alejandro Guzmán afirmou que até o trabalho da organização aumentou por conta da nova onda migratória.

Guzmán, que até 2022 representou o autoproclamado presidente venezuelano Juan Guaidó no Brasil, disse que o perfil dos novos ingressantes em território brasileiro é de “extrema vulnerabilidade” social, o que dificulta a ONG em conseguir empregos para o público no País.


O diretor de relações institucionais da ONG Casa Venezuela, Tomás Alejandro Guzmán (Foto: Arquivo pessoal)

“Essas pessoas não têm nenhuma noção de política. [A nova onda migratória] tem a ver com o bolso da pessoa. Aos poucos, [a crise] atinge novas camadas da sociedade”, disse ao ser questionado se a chegada de novos migrantes ao Brasil tem relação com a retomada das relações do País governado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a Venezuela do ditador Nicolás Maduro.

Em janeiro, por exemplo, o valor da cesta básica para uma família de cinco pessoas no País vizinho fechou em 486,87 dólares, segundo o Centro de Documentação e Análise Social da Federação Venezuelana de Mestres (Cendas-FVM).

“Se a cesta básica, que custa 480 dólares, e o salário é de seis dólares, como as pessoas conseguem se alimentar?”, indagou Guzmán, que lembrou que o atual salário mínimo na Venezuela é de 123 bolívares por mês, o que representa seis dólares. “Estamos falando que o salário mínimo hoje é 33 reais por mês”, explicou. “Oito a cada dez venezuelanos não tem recursos econômicos suficientes pra comprar uma cesta básica de alimentação”.

Conforme o Observatório Venezuelano de Finanças (OVF), a economia da Venezuela fechou o primeiro trimestre de 2023 em variação negativa de 8,3%, comparado ao mesmo período de 2022. A mesma fonte indica a taxa de inflação mensal na Venezuela em 2023: 39,4% em janeiro, 20,2% em fevereiro e 4,2% em março.

Com esse resultado, segundo o OVF, a inflação interanual na Venezuela em março atingiu 501%, seu segundo ponto mais alto desde dezembro de 2021 e superior ao registrado no mesmo mês de 2022. “Não tem nenhum tipo de projeção de que as coisas vão melhorar”, diz Guzmán.


ONG Casa Venezuela trabalha no acolhimento de venezuelanos no Brasil (Foto: Divulgação)

Ele afirma que os dados econômicos venezuelanos explicam o crescimento do número de pessoas que deixaram o País para ingressar no Brasil. “De novembro a janeiro, os números econômicos tiveram uma mudança muito grande. Com essa mudança, as pessoas, outro grupo da população que ainda estava meio que conseguindo sobreviver, tiveram que sair também”, pontuou.

Evolução do ingresso de venezuelanos no Brasil

De janeiro de 2017, quando os dados passaram a ser organizados pela OIM, até março de 2023, o Brasil contabilizou 888.451 entradas – os picos anuais aconteceram em 2018 e 2019, os primeiros anos de instalação da Operação Acolhida em Roraima. Por outro lado, desde lá, foram 438.773 saídas, seja de volta para a Venezuela ou outros países.

*Por Lucas Luckezie