Nunca foi tão caro encher o tanque. O preço médio do litro da gasolina comum no Brasil chegou a R$ 5,955 na última semana, segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) feito entre os dias 15 e 21, mas pôde ser encontrado acima de R$ 7 em postos no Acre, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Em Roraima, o valor médio de agosto é de R$ 5,60. Desde o inicio de 2021, o combustível aumentou quase 28%.
Um dos principais motivos é a cotação do petróleo no mercado internacional. O barril do tipo Brent – negociado em Londres e usado pela Petrobras para cálculo de preço – aumentou quase 40% desde o início do ano, pressionando os preços dos combustíveis fósseis em geral.
A Petrobras, que fornece para as distribuidoras, calcula o preço nas refinarias com base na cotação do petróleo e na taxa de câmbio, pois a commodity é cotada em dólar. Nesse sentido, a valorização da moeda norte-americana, acumulada em 1,55% em 2021, também forçou para cima a gasolina. A estatal aumentou o preço do combustível nove vezes somente neste ano.
Mas há outros fatores que podem influenciar na cotação do petróleo, como um recrudescimento da pandemia, com a variante Delta, e riscos geopolíticos, a exemplo de conflitos regionais. “Não temos controle sobre esta volatilidade”, afirmou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura de Energia (CBIE), Pedro Rodrigues.
Na variação do câmbio, porém, o Brasil poderia ter mais tranquilidade. A desvalorização do real ocorre por motivos externos e internos, e entre estes fatores estão as incertezas sobre o futuro da pandemia, o compromisso do governo com a reponsabilidade fiscal e a instabilidade política.
O peso do etanol
Outro item que contribui para o aumento da gasolina é o preço do etanol. No Brasil o etanol hidratado é vendido como combustível nos postos e o etanol anidro é misturado à gasolina na razão de 27%. Ambos estão em alta.
O preço do etanol anidro amentou 5,18% no último levantamento semanal feito em São Paulo pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz e Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Esalq/Cepea), da Universidade de São Paulo (USP). No ano, a variação chega a 56,5%.
Uma das razões é o resultado da safra de cana-de-açúcar 2021/2022, que está abaixo da produção do ciclo anterior. O último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê redução de 9,5% na colheita de cana e de 10,8% no volume total de etanol.
“Na crise hídrica, uma das culturas mais afetadas é a da cana. Ocorreram perdas grandes com a seca e com as geadas”, disse o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).
O etanol anidro está mais rentável para os usineiros do que o hidratado, então mesmo com a quebra de safra houve aumento da produção do primeiro e redução do último.
“Houve, até a data do levantamento, priorização na produção do álcool anidro – 10,8 bilhões [de litros], com crescimento de 5,9% em relação ao ano anterior, em detrimento do hidratado – 18,3 bilhões, redução de 18,5% em razão da maior rentabilidade do anidro neste exercício”, informa o relatório da Conab.
O preço médio do etanol hidratado, vendido nos postos, avançou 37% ao longo do ano e está em R$ 4,50, de acordo com a ANP. Além da redução da produção, o próprio avanço do valor da gasolina influencia a precificação.
De acordo com Rodrigues, do CBIE, o etanol hidratado tende a aumentar quando a gasolina sobe, num ciclo que se retroalimenta. “Os preços nos postos são livres. Quando um produto concorrente sobe, [o dono do posto] aumenta o outro também”, comentou. A ANP pesquisa preços, mas não os controla.
Para o consumidor economizar ao abastecer, considerando as diferenças de desempenho dos automóveis com os dois combustíveis, o valor do etanol hidratado tem que ser de até 70% o da gasolina. Se a preocupação é ambiental, no entanto, não há o que discutir: o biocombustível é muito menos poluente.
Composição do preço da gasolina
Segundo a ANP, o valor da gasolina nos postos de combustível é composto da seguinte forma: preço do produtor da gasolina (35,6%), que basicamente é a Petrobras; preço do etanol anidro (14,8%); tributos federais como Cide, PIS/Pasep e Cofins (12,6%); tributos estaduais, que é o ICMS (28,1%); e margem da distribuição e revenda (9%). Os percentuais podem variar conforme o período e o estado de comercialização.
Os impostos são o item com maior peso no bolo, principalmente o ICMS, que é estadual. “Os governos sempre olham para a gasolina como fonte de arrecadação, como na eletricidade, e não com olhar de políticas públicas adequadas”, observou Rodrigues. Segundo Braz, neste momento, porém, não há margem para redução de tributos, pois os estados estão endividados e têm pouca capacidade de investimentos.
Na avaliação dos analistas, não existem alternativas de curto prazo para segurar o preço da gasolina. Na visão de Rodrigues, porém, os governo podem promover iniciativas para atender determinados segmentos da população usando recursos do Tesouro, como é o caso do Vale Gás, em São Paulo, que transfere dinheiro para famílias vulneráveis comprarem gás de cozinha. Para Braz, as soluções são de longo prazo, como a construção de novas refinarias.
Com informações de Infomoney