Economia

Por que aumentar juros em meio a pandemia?

O analista Matheus Lima comenta na coluna desta segunda-feira (22) sobre o que levaria o Banco Central a encarecer o empréstimo bancário

Talvez, para a maioria das pessoas, tenha sido uma das decisões do Banco Central brasileiro mais difíceis de entender. Principalmente levando em consideração o atual momento que estamos vivendo, em meio a uma pandemia, onde muitos brasileiros lutam para sobreviver sem emprego e somente com um auxílio emergencial ínfimo.

O que levaria o Banco Central a encarecer o empréstimo bancário enquanto milhões de brasileiros poderiam usufruir de um financiamento mais barato para manter suas empresas e comércios ou até mesmo para a manutenção do custo de vida, considerando que para a maioria dos setores as vendas têm diminuído drasticamente levando até a falência em alguns casos?

A maioria das pessoas que não compreendem as decisões do COPOM (Comitê de Política Monetária) deve imaginar que é algum tipo de manobra política ou “roubalheira” dos grandes bancos e etc. As teorias da conspiração são diversas, mas por incrível que pareça é uma medida para poder conter a desvalorização da moeda brasileira.

Com o estouro da pandemia, o Governo brasileiro criou uma política de auxílios emergenciais injetando grande quantidade de dinheiro na economia e fazendo cortes na Selic até chegarmos a uma taxa de juros de 2,00% a.a., que foi mantida por um período de 5 meses. Esses cortes, como já mencionado em artigo anterior desta coluna, foram justamente para dar alívio aos empresários e pessoas físicas, ajudando inclusive a fomentar a economia enquanto tudo estava em crise.

Mas como o mercado gira em torno dos conceitos básicos de oferta e demanda, o que acontece com uma moeda que está cada vez mais fácil de se acumular? Ela perde valor! As injeções de dinheiro na economia via auxílios e juros baixos levou a nossa inflação a alcançar patamares incrivelmente altos e, para evitar que voltemos a ter superinflação, é necessário que o Banco Central retome o aumento da taxa de juros.

Setores como de construção civil, bancos e comércio sofreram fortes baixas nos últimos dias com a notícia do aumento da taxa básica de juros SELIC para 2,75% a.a. Esse foi o primeiro aumento na SELIC em 6 anos de cortes consecutivos. Mês passado já tínhamos a expectativa de aumento dos juros com a retirada da política de forward guidance do Banco Central.