A herança comercial de Boa Vista é uma parte importante da identidade e da história da capital roraimense. Anterior à Casa Mido Ótica, uma farmácia foi o primeiro empreendimento da família Freire, ainda na década de 1930, até se tornar supermercado e loja de artigos para presentes.
O negócio começou com Alípio Freire de Lima, um sergipano, que trabalhava com manipulação de medicamentos em Manaus. Conforme arquivos do jornalista Francisco Cândido, Alípio recebeu o convite de vir para Roraima do tio, o comerciante Dionísio Freire.
Em Boa Vista, o farmacêutico abriu uma farmácia atrás da Igreja Matriz Nossa Senhora do Carmo, na avenida Bento Brasil. “Ele chegou aqui, conheceu a minha avó, a Carmen, e eles se casaram. Ele viu a oportunidade de trabalho, ele viu que faltava uma farmácia e montou”, lembra a neta de Alípio, Helane Lima, atual proprietária da Loja Freire.
Anos depois, cerca de 1934, Alípio e Maria do Carmo Vasconcelos foram para o Sergipe, onde tiveram cinco filhos. Um deles era Carlos Augusto Vasconcelos Lima, mais conhecido como Carlinhos Freire, pai de Helane e responsável pela continuidade do negócio da família.
“Eles voltaram para Roraima [tempo mais tarde], mas meu avô mandou meu pai estudar fora. Meu pai não gostou, não se adaptou no Rio de Janeiro e voltou. Ele pediu para o meu avô que não deixasse ele ir, que ia terminar o segundo grau, mas que ficaria. Meu avô então levou os outros irmãos para estudar e meu pai ficou cuidando da farmácia. E nisso papai se tornou uma multiempreendedor”,
contou a filha.
De farmácia à supermercado
Em 1957, Alípio Freire se mudou para a Bahia e Carlinhos assumiu sozinho a farmácia. A filha de Carlinhos lembra que o pai, jovem, não gostava de administrar o empreendimento, que havia se mudado para a avenida Jaime Brasil ao lado da Casa de Cultura em 1970. Foi ali que ele começou a comprar alimentos e materiais de construção porque em Boa Vista não haviam lojas do segmento.
MINHA RUA FALA | Alípio Freire e Carlinhos Freire
“Ele começou a trazer arame farpado para os fazendeiros porque aqui não tinha. Demorava três a quatro meses para chegar. E desse arame ele fez a fortuna dele. Comento muito que Boa Vista cresceu porque ele era distribuidor [desses materiais] e mesmo assim não cobrava caro. Ele falava: ‘Não é porque você é única que vende, que você tem que explorar'”,
relembrou Helane à reportagem.
A partir da década de 80, Carlinhos começou o Super Freire e em 1991 mudou o supermercado para a avenida Ville Roy.
De supermercado à loja para presentes
Helane Freire, assim como o pai, também estudou fora e, dos outros três irmãos, foi a única que quis seguir no negócio da família. Ela queria ter o próprio negócio, mas Carlinhos, conforme conta, só ajudaria no sonho se fosse um supermercado. Em 1998, ela assumiu o Super Freire da avenida Jaime Brasil e depois transformou na Loja Freire.
“Eu não gostava de trabalhar com supermercado porque é muito monótono. Se a gente for reparar, a gente compra o mesmo produto, o mesmo sabonete, os mesmos biscoitos, o mesmo leite. Isso é monótono. Então eu fui mudando, já vendi brinquedo, material escolar, comida e já misturei tudo. De uns 10 anos para cá, eu me especifiquei em festa. Esse é o meu forte”, explicou a empresária.
Helane está a frente do negócio da família há 28 anos.