Economia

Quase um ano de teletrabalho na CLT, saiba quais impactos na economia

A maior desvantagem do modo de trabalho com servidores públicos remotos reduz o capital de giro no estado. Economista Fabio Martinez explica

Em 2021, o Governo Federal divulgou que o trabalho remoto adotado na Administração Pública durante a pandemia de covid-19 trouxe uma economia de R$ 1,419 bilhão aos cofres públicos, entre março de 2020 e junho daquele ano. De acordo com levantamento do Ministério da Economia, as maiores reduções de custos foram registradas na compra de passagens e despesas com locomoção de pessoal (R$ 512,6 milhões), diárias (R$ 450,2 milhões) e serviços de energia elétrica (R$ 392,9 milhões).

Um ano depois, em setembro de 2022, foi sancionada alteração na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para complementar, modernizar e oferecer maior segurança jurídica às relações trabalhistas regidas pela modalidade de teletrabalho. O teletrabalho, ou trabalho remoto, ficou definido como sendo a prestação de serviço fora das dependências da empresa, de maneira preponderante ou híbrida, não podendo ser caracterizada como trabalho externo.

Em Roraima, é comum pessoas de outros estados prestarem concursos públicos para instituições daqui e, depois de um tempo, solicitarem o trabalho remoto para retornar ao estado de origem ou conhecer novos destinos.

Para o economista Fábio Martinez, o home office é positivo para as empresas e instituições que economizam em espaço, material e gastos essenciais, assim como o Governo Federal divulgou. No entanto, para um Estado, que tem funcionários ou servidores públicos em trabalho remoto, há impacto na economia com a quebra de um ciclo funcional, uma vez que o trabalhador recebe por um local e investe no comércio de onde está prestando o serviço.

“Isso, em termos econômicos, não é contagioso para o estado porque essa pessoa vai estar recebendo o salário dela integral, mas o gasto dela vai especializar num outro estado. Isso vai impactar no efeito multiplicador. Um exemplo claro: a pessoa trabalhando localmente ela tem uma tendência de gastar maior parte do seu salário no mercado local, que vai criar um efeito multiplicador. Ele vai comprar uma roupa, que vai estimular as vendas daquele segmento, talvez gere necessidade de contratar mais pessoas e segue. Então, você tem um círculo virtuoso”, explica.


Para Fábio é importante que Roraima consiga trazer os teletrabalhadores para Roraima e que eles movimentem o comércio local. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

No caso de Roraima, Martinez aponta que muitas pessoas preferem trabalhar remotamente devido à baixa estrutura de conectividade, principalmente na qualidade da internet. 

“Imagina se a gente tivesse, aqui em Roraima, uma qualidade de internet rápida. A gente poderia fazer o inverso: servidores públicos de outros estados vindo aqui para o estado, ter uma qualidade de vida boa, uma internet boa, podendo trabalhar recebendo só o salário de outros lugares e gastando aqui. Se a gente conseguisse ter essa melhoria, poderia atrair mais empresas, mais hospitais e mais lojas para o nosso estado”, sugere.

Apesar do problema de internet e do Índice dos Desafios da Gestão Estadual (IDGE) ter mostrado Roraima como a pior situação socioeconômica do país em 10 anos, em janeiro deste ano, o atual Governo discordou do ranking, apontando avanço na economia do estado.